ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

26 fevereiro, 2007

TRÁFICO DE DROGAS


Por dentro da conexão Nigéria
Das calçadas da capital paulista, em dialeto africano, eles comandama maior rede de tráfico de drogasdo mundo

Eles são negros com fundas raízes na África. Começaram a chegar à maior cidade brasileira na década de 1980, fugidos da guerra civil que até hoje cinde sua terra natal. Falam no dialeto da etnia ibo e ocupam a região central de São Paulo pendurados em telefones celulares. Para a polícia brasileira, é dali que eles comandam mundialmente uma das maiores, mais agressivas e bilionárias quadrilhas de tráfico de drogas do planeta – a Conexão Nigéria. Os números à volta da organização impressionam. Nada menos que duas toneladas e meia de cocaína pura foram apreendidas na cidade com traficantes ligados ao grupo nigeriano apenas no ano passado. O volume de prisões chegou a tal ponto que, em outubro de 2006, o governo paulista teve de reservar todo um presídio, na cidade de Itaí, para os criminosos ligados à rede internacional. Hoje há, ali, 972 detentos que tiveram ligações diretas com a máfia nigeriana.
Apesar dessa perspectiva, a polícia brasileira tem certeza de que a Conexão Nigéria vive um momento de franca expansão. "É a quadrilha mais difícil que já enfrentamos", reconhece o delegado federal Sérgio Trivelin. "Em relação ao que acontece no resto do mundo, temos tido sucesso, mas eles são muito bem preparados para o crime." As polícias federal e paulista trabalham com a certeza de que, a partir de São Paulo, os nigerianos coordenam a compra de cocaína do Peru e da Bolívia para vender na Europa e nos Estados Unidos. Essas negociações acontecem a qualquer hora do dia ou da noite. Hospedados em hotéis baratos, os nigerianos operam das calçadas. Com as armas do dialeto ibo e do inglês, aprendido durante o período em que a Nigéria foi uma colônia da Grã-Bretanha (até 1960), os cidadãos do país driblam os investigadores. Eles alternam suas conversas nas duas línguas, jamais usando palavras-chave como "cocaína" ou "droga".

Informante Everaldo Souza revelou aos policiais o esquema nigeriano

O quadro de dificuldades se agrava em razão de os nigerianos entrarem e saírem do Brasil com uma freqüência bastante intensa – e em grande número. Em média, ficam por aqui não mais do que cinco dias – e aterrissam à base de mil por mês. Para a polícia, eles fazem um rodízio sinistro. Entram carregando pílulas de ecstasy, uma droga de difícil detecção, na condição de estudantes, empresários ou simples turistas. Aqui, vendem essa droga e fazem o dinheiro que os permite comprar a cocaína pura produzida no Peru e na Bolívia. Com o aumento do número de prisões em São Paulo nos últimos meses, a quadrilha agora optou por viajar a partir de Salvador, na Bahia. Ali, os equipamentos de segurança são precários e não há sequer cachorros farejadores de drogas à disposição dos policiais. "Salvador virou o principal ponto de fuga também porque os vôos para Portugal são mais rápidos e as conexões para cidades como Barcelona ou Amsterdã podem durar menos de 30 minutos", afirma o chefe do núcleo da Polícia Federal no aeroporto baiano, Francisco Gonçalves.
As grandes negociações acontecem mesmo em São Paulo. Eles trocam as malas com drogas por dinheiro à luz do dia. Essas transações acontecem no subterrâneo, dentro dos vagões dos 62 quilômetros da malha do metrô. É a cocaína chegada das fronteiras com a Bolívia e o Peru sendo trocada por reais, dólares ou euros. Essa operação é facilitada, ali, porque não há câmeras. Enquanto a coca rumará para a Europa, quem ficou com o dinheiro irá fazer uma nova operação criminosa: comprar diamantes, na maioria das vezes em empresas abertas por outros nigerianos.
A polícia brasileira esteve de mãos atadas diante dessa máfia até 2005, quando o ex-empresário Everaldo José de Souza se entregou momentos antes de tomar em São Paulo um avião para o Exterior com 59 cápsulas de cocaína no estômago. Ele participou durante dois meses da vida da quadrilha, foi treinado para engolir as cápsulas e, ao se entregar, tornou-se o fio condutor das investigações policiais. É preciso, no entanto, fazer ainda mais. O Federal Bureau of Investigations (FBI) estimou em relatório oficial que os integrantes da Nigerian Criminal Enterprises, são "os mais expansionistas e agressivos grupos criminais internacionais". Contabilizou a favor deles um movimento de US$ 8 bilhões em negócios ilícitos apenas no ano passado. Em tempo: a Conexão Nigéria é acusada, ainda, de ter ligações com 90% do tráfico mundial de heroína.
Alan Rodrigues - REVISTA ISTOÉ
Colaborou Carina Rabelo

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