AVISO AOS QUARENTÕES DE PLANTÃO
Para aqueles que estão chegando aos 40 anos, eu tenho duas notícias:
uma boa e uma péssima. A boa é que você provavelmente viverá até os 80 anos. Sua expectativa de vida ao nascer era de 67 anos, mas, como você conseguiu chegar vivo aos 40, sua média de vida aumentou para 74 anos.
Aqueles que estavam reduzindo sua média inicial morreram. Daqui a dez anos, muitas das doenças incuráveis de hoje terão solução, aumentando ainda mais sua expectativa de vida, talvez até os 80 anos. Sua mulher, que já tinha expectativa de vida ao nascer de 75 anos, aos 40 terá uma expectativa de 79, daqui a dez anos irá para 85, 90 anos.
A má notícia é que provavelmente você não pensou nisso, não se preocupou em fazer um pé-de-meia para custear essa longa aposentadoria, a sua e a de sua mulher. Nem percebeu que os vinte anos que você contribuiu para a previdência não foram depositados num fundo previdenciário público, preservando o equilíbrio atuarial, como reza o artigo 201 de nossa constituição. Também, lamento dizer, ninguem vai empregá-lo até os 70 anos de idade, e será difícil achar um novo emprego depois dos 50. Não conte com essa nova geração para sustentá-lo na velhice. Ela terá problemas suficientes para sobreviver, além de ter também de poupar para a própria velhice.
Aos 40 anos ainda se tem chance de poupar rapidamente os recursos necessários nos próximos dez a quinze anos. Assim sendo, aquela viagem programada para a Disney, nem pensar. Nem aquele Audy A4. O valor exato que você precisará ter poupado para se aposentar aos 65 anos é um cálculo complicadíssimo, depende de sua idade atual, do risco que você quer assumir em suas aplicações, dos juros médios a partir de 2015, e da taxação futura dos rendimentos de seus investimentos. Mas aqui vão algumas previsões, que infelizmente ninguem divulga, mas que podemos considerar como praticamente certas.
1) Com o investment grade (grau de investimento seguro, segundo as agências internacionais de classificação de risco), os juros reais no Brasil deverão ser como no México, na França e nos Estados Unidos.
Algo em torno de 2,5% a 3% ao ano, a partir de 2015. Achar que você poderá investir em títulos públicos e ganhar 6% a 7% ao ano sem risco é uma doce ilusão.
2) O imposto de renda que incide sobre os que poupam, os chamados "endinheirados", provavelmente aumentará. Hoje é de 20%, mas logo será 25%, justamente porque o juro caiu, e o governo arrecadará menos.
3) Esse imposto incide sobre o "juro" nominal, e não sobre o juro real, que é o verdadeiro juro. Se o juro real for igual a inflação, o imposto vai para 50%, o dobro dos 25% esperados no futuro. Portanto, calculando-se 50% de imposto sobre 2,5% a 3% de juros, sobrará somente 1,2% a 1,5% ao ano de rendimento. Para cada 1.000 reais de renda mensal de aposentadoria que você desejar receber, precisará acumular no mínimo 1 milhão de reais. Lamento muito, é só fazer as contas.
Uma aposentadoria de 10.000 reais por mês exigirá uma poupança acumulada aos 65 anos em torno de 10 milhões de reais. Dez mil é a aposentadoria típica de um professor titular de filosofia, sociologia, economia de uma universidade pública. Há alguns que ganham até mais.
Se você quiser ganhar o mesmo, terá de acumular 10 milhões, que aplicados a 1,2% ao ano darão 120.000 por ano, ou 10.000 por mês.
Mesmo assim, sem direito ao décimo terceiro salário.
É óbvio que nenhum de nós vai conseguir acumular 10 milhões, muito menos se aposentar com 10.000 por mês. Você terá de se contentar em viver com 3.000 ou menos. Provavelmente terá de aplicar seu dinheirinho em investimentos muito mais arriscados do que títulos públicos. Terá de lutar pela redução do imposto de renda que incide sobre juros, pela correção monetária do investimento inicial, ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Uma terceira alternativa é ir literalmente comendo o capital inicial ao longo do tempo. O que é muito assustador para qualquer aposentado – nunca se sabe quando o dinheiro poderá acabar. Pior de tudo, você terá de estabelecer um ano preciso para morrer, tipo 83 anos, e torcer para que não passe disso. Depois desse aniversário, justamente pelos cálculos feitos, você não terá mais dinheiro.
A outra opção é arrumar uma boa aposentadoria do governo, adotar um discurso anti-renda, antijuro, antiacumulação de riqueza, sem se preocupar com o futuro do câmbio, da economia, muito menos com o futuro do Brasil.
Steven Kanitz
uma boa e uma péssima. A boa é que você provavelmente viverá até os 80 anos. Sua expectativa de vida ao nascer era de 67 anos, mas, como você conseguiu chegar vivo aos 40, sua média de vida aumentou para 74 anos.
Aqueles que estavam reduzindo sua média inicial morreram. Daqui a dez anos, muitas das doenças incuráveis de hoje terão solução, aumentando ainda mais sua expectativa de vida, talvez até os 80 anos. Sua mulher, que já tinha expectativa de vida ao nascer de 75 anos, aos 40 terá uma expectativa de 79, daqui a dez anos irá para 85, 90 anos.
A má notícia é que provavelmente você não pensou nisso, não se preocupou em fazer um pé-de-meia para custear essa longa aposentadoria, a sua e a de sua mulher. Nem percebeu que os vinte anos que você contribuiu para a previdência não foram depositados num fundo previdenciário público, preservando o equilíbrio atuarial, como reza o artigo 201 de nossa constituição. Também, lamento dizer, ninguem vai empregá-lo até os 70 anos de idade, e será difícil achar um novo emprego depois dos 50. Não conte com essa nova geração para sustentá-lo na velhice. Ela terá problemas suficientes para sobreviver, além de ter também de poupar para a própria velhice.
Aos 40 anos ainda se tem chance de poupar rapidamente os recursos necessários nos próximos dez a quinze anos. Assim sendo, aquela viagem programada para a Disney, nem pensar. Nem aquele Audy A4. O valor exato que você precisará ter poupado para se aposentar aos 65 anos é um cálculo complicadíssimo, depende de sua idade atual, do risco que você quer assumir em suas aplicações, dos juros médios a partir de 2015, e da taxação futura dos rendimentos de seus investimentos. Mas aqui vão algumas previsões, que infelizmente ninguem divulga, mas que podemos considerar como praticamente certas.
1) Com o investment grade (grau de investimento seguro, segundo as agências internacionais de classificação de risco), os juros reais no Brasil deverão ser como no México, na França e nos Estados Unidos.
Algo em torno de 2,5% a 3% ao ano, a partir de 2015. Achar que você poderá investir em títulos públicos e ganhar 6% a 7% ao ano sem risco é uma doce ilusão.
2) O imposto de renda que incide sobre os que poupam, os chamados "endinheirados", provavelmente aumentará. Hoje é de 20%, mas logo será 25%, justamente porque o juro caiu, e o governo arrecadará menos.
3) Esse imposto incide sobre o "juro" nominal, e não sobre o juro real, que é o verdadeiro juro. Se o juro real for igual a inflação, o imposto vai para 50%, o dobro dos 25% esperados no futuro. Portanto, calculando-se 50% de imposto sobre 2,5% a 3% de juros, sobrará somente 1,2% a 1,5% ao ano de rendimento. Para cada 1.000 reais de renda mensal de aposentadoria que você desejar receber, precisará acumular no mínimo 1 milhão de reais. Lamento muito, é só fazer as contas.
Uma aposentadoria de 10.000 reais por mês exigirá uma poupança acumulada aos 65 anos em torno de 10 milhões de reais. Dez mil é a aposentadoria típica de um professor titular de filosofia, sociologia, economia de uma universidade pública. Há alguns que ganham até mais.
Se você quiser ganhar o mesmo, terá de acumular 10 milhões, que aplicados a 1,2% ao ano darão 120.000 por ano, ou 10.000 por mês.
Mesmo assim, sem direito ao décimo terceiro salário.
É óbvio que nenhum de nós vai conseguir acumular 10 milhões, muito menos se aposentar com 10.000 por mês. Você terá de se contentar em viver com 3.000 ou menos. Provavelmente terá de aplicar seu dinheirinho em investimentos muito mais arriscados do que títulos públicos. Terá de lutar pela redução do imposto de renda que incide sobre juros, pela correção monetária do investimento inicial, ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Uma terceira alternativa é ir literalmente comendo o capital inicial ao longo do tempo. O que é muito assustador para qualquer aposentado – nunca se sabe quando o dinheiro poderá acabar. Pior de tudo, você terá de estabelecer um ano preciso para morrer, tipo 83 anos, e torcer para que não passe disso. Depois desse aniversário, justamente pelos cálculos feitos, você não terá mais dinheiro.
A outra opção é arrumar uma boa aposentadoria do governo, adotar um discurso anti-renda, antijuro, antiacumulação de riqueza, sem se preocupar com o futuro do câmbio, da economia, muito menos com o futuro do Brasil.
Steven Kanitz
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