CARTA DA MÃE BRASILEIRA A VIVER EM PORTUGAL
Esta versão é bem parecida com aquela da "Mãe Portuguesa" já publicada aqui, mas vale o registro por ser a versão que circula em Portugal e ter a resposta do filho bastante diferente da outra versão:
Querido filho te escrevo para que saibas que estou viva.
Escrevo devagar porque não sei se tu sabes ler rápido. Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente se mudou. Finalmente enterramos teu avô. Encontramos o cadáver na mudança; estava no armário desde aquele dia em que ganhou da gente brincando de esconde-esconde.
Hoje tua irmã Julia teve um filho, mas como ainda não sei se é menino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia. Estou preocupada com o cachorro Boby, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato. Que achas?
Teu irmão José fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicada e poder tirar todos nós de dentro do carro.
Esta carta te mando por Manolo, que vai amanhã para aí. A propósito será que podes pegá-lo no aeroporto?
Bom, meu filho, não escrevo o meu endereço porque não o sei, é que a última família brasileira que morava aqui levou os números para não terem que mudar de endereço.
Se encontrares a D. Valeria, dá um alô de minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.
Tua mãe que te ama:
EU
P.S.: Ia te mandar cem reais, mas já fechei o envelope
RESPOSTA DO FILHO À MÃE BRASILEIRA
Querida mamãe, as coisas não vão indo bem, aqui no Brasil. A minha esposa Edivides, que aliás também é tua nora, ficou adoentada e a levei ao ginecologista. Imediatamente, ele nos perguntou se tínhamos orgasmo. Fomos embora na hora, pois só tínhamos Golden Cross. Se não bastasse isto, teu filho é um fracassado nos negócios. Primeiramente, comprei um táxi, mas não conseguimos nenhum passageiro. Ainda bem que a Edivides estava sempre no banco do passageiro me consolando. O apoio dela foi fundamental. Então, fui trabalhar numa loja de carros e fui despedido logo no primeiro dia. Imagine só: para cada carro vendido, eu dava um Fiat Prêmio de presente e ainda estou sendo processado por furto!
Novamente tentei ser empresário. Abri um parque de diversões e atendendo ao apelo dos clientes sadomasoquistas, construí um cinema 180 graus. Infelizmente, eles não resistiram e morreram carbonizados. Fecharam o parque e atualmente respondo a um processo por homicídio doloso.
Arrasado, tentei outro emprego, desta vez em uma loja de tecidos na 25 de Março. As coisas não estavam indo bem e o Sr. Assad me pediu que fizesse uma "queima de estoque". não entendi, mas ordens são ordens. Queimou o quarteirão inteiro, fui despedido e falaram que a culpa era toda minha, razão pela qual estou respondendo a um processo por tentativa de homicídio e outro por destruição de patrimônio.
Nem ao menos posso me divertir andando de skate. Aqui no Brasil só tem subida, ora pois! Na verdade, o povo daqui é muito estranho. Entrei um dia desses num elevador de um prédio e o motorista me perguntou em que andar eu iria, Ai resmunguei "qualquer um", pois já tinha errado de prédio, mesmo...
E, se não bastasse tudo isso, acabei com o pouco dinheiro ao comprar uma caixa de naftalinas para matar as baratas que andam pela minha casa. O problema é que minha pontaria é uma droga e não consegui acertar nenhuma. Aí eu comecei a jogar e fui conferir o jogo na Super Sena; me ocorreu algo engraçado: eu sempre perdia. Ao conferir um jogo, descobri que tinha empatado. Joguei o bilhete fora, ora pois. Será que algum dia eu vou ganhar?
Te escrevo agora da prisão, pois levava Edivides para passear e meu furgão foi abordado por um policial que me pediu o documento da besta. Imediatamente, dei meu passaporte, não é que o guarda se ofendeu? E pediu então o documento da perua, ao que dei o passaporte da Edivides. Não é que o tal guarda ficou nervoso e me ordenou que saísse do carro e colocasse as mãos na cabeça... mamãe, juro que não tive culpa se a peruca dele caiu. O homem ficou uma fera!
Mamãe, não vou poder pegar o Manolo no aeroporto amanhã, pois estou na cadeia. Mas peça para ele me aguardar, que quando sair daqui vou buscá-lo lá mesmo.
Um beijo do seu eterno
Joaquim Manoel.
Marcadores: humor
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