ENTRESSEIO

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21 maio, 2007

CIENTISTA SONHA COM ERA LIVRE DE PAPEL HIGIÊNICO

Um físico alemão da Procter & Gamble está trabalhando em um projeto bizarro - a eliminação gradual do papel higiênico como o conhecemos. Mas primeiro ele quer tornar a ida ao banheiro um pouco mais confortável.

Siegfried Hustedt costuma ficar tomado de temor quando é forçado a usar o banheiro de outras pessoas. O papel higiênico que ele encontra nestes banheiros costuma ser colorido ou branco, listrado ou pintado. Mas apesar da aparência agradável do papel, é tudo apenas aparência - quando usado, o material barato costuma empolar e se decompor em uma pilha desagradável de celulose como "uma estrutura em relevo ruindo sob pressão". Ainda pior é a irritação de pele causada pelo papel mais áspero. Hustedt, 40 anos, costuma se perguntar por que "tantas pessoas optam por sofrer até o último rolo".

Seria seguro chamar Hustedt de um perito em papel higiênico. O físico experimental trabalha no centro de pesquisa da Procter & Gamble em Schwalbach, Alemanha, perto de Frankfurt, onde, juntamente com seus colegas pesquisadores, ele está desenvolvendo o papel higiênico do futuro. Sua mais recente criação é um papel higiênico macio, que limpa bem e promete uso econômico - fatores que superaram a concorrência ao mesmo tempo em que atenderam aos desejos dos consumidores.

Eis como funciona o absorvente do laboratório: o processo de manufatura convencional envolve rolos de papel higiênico sendo prensados a partir de polpa de celulose. O papel produzido inicialmente é suave; sua estrutura posterior de superfície é apenas produto de gravação subseqüente em relevo. Mas Hustedt e seus pesquisadores desenvolveram um novo método. Eles borrifam um material baseado em madeira em uma placa especial no processo de manufatura, que produz uma estrutura de papel tridimensional que os especialistas acreditam ser capaz de "manter sua forma por mais tempo sob pressão". Além disso, os pesquisadores estão usando tipos diferentes de fibras, que garantem tanto a suavidade quanto a resistência de seu papel higiênico. Quando o principal grupo de avaliação de produtos da Alemanha, o Stiftung Warentest, testou o papel higiênico, que é vendido aqui sob a marca Charmin, no ano passado, ele escreveu que é "uma das melhores coisas que você pode fazer por você mesmo e seu "derrière".

Empolgado pela resposta positiva, Hustedt atualmente se diverte criticando "certas limitações de nossos concorrentes". O especialista em estrutura zomba das concorrentes por "apenas acrescentarem uma camada sobre outra".

A maioria dos consumidores alemães parecia pensar que quanto mais camadas, melhor. Pesquisadores de mercado sondaram os interesses mais ocultos dos consumidores e trouxeram à luz os últimos segredos da higiene anal - incluindo o hábito cultivado clandestinamente dos alemães de acrescentarem camadas adicionais ao dobrarem seu papel higiênico que já é de múltiplas camadas.

Em comparação, a maioria dos americanos prefere um método praticamente desconhecido na Alemanha - eles comprimem seu papel relativamente fino em uma bola fácil de manusear. Assim, a principal rival da Procter & Gamble na área, a Kimberly-Clark, descobriu que "há muita conversa sobre camadas no mercado alemão".

Mas a estrutura do papel não é tudo - é apenas um aspecto "entre muitos" na criação de um papel higiênico, disse um porta-voz da empresa, desferindo um golpe contra a Procter & Gamble. A Kimberly-Clark continua a reivindicar a liderança no segmento premium do mercado de papel higiênico, com sua marca Hakle de papel higiênico e lenços umedecidos. Sob a bandeira de eficiente e amigo do meio ambiente, Hustedt e seus colegas na Procter & Gamble estão atualmente buscando um plano ainda mais revolucionário: a redução total de sua própria criação. Em vez de equipar seu produto com até cinco camadas, sua pasta de celulose secada a ar usa apenas duas -"com melhor capacidade de absorção", enfatizou o físico. O homem encarregado gosta de testar pessoalmente a absorção de tempos em tempos - despejando uma colher de um mel verde escuro nas camadas. A equipe do laboratório testa a resistência do papel o fazendo carregar bolas de mármore.

Hustedt já está sonhando audaciosamente sua próxima grande proposta: "Por que não atingirmos nosso atual resultado com apenas uma camada?" Ele alega que uma única camada do papel higiênico que desenvolveu é suficiente para proporcionar uma limpeza satisfatória. Um admirável mundo novo, sem papel higiênico.

Cheio de entusiasmo, o cientista até mesmo começou a se dedicar à idéia obstinada de tornar o "papel higiênico totalmente supérfluo". A idéia não é totalmente absurda: uma grande parte da população mundial não se incomoda em se virar sem papel higiênico. Os indianos e árabes se viram com a mão esquerda e um pouco de água. Segundo relatos, alguns povos nômades se limpam com areia após o chamado da natureza. O mesmo processo de limpeza é realizado de forma mais luxuosa com os chamados "washlets" (uma mistura de vaso sanitário e bidê). Um jato suave de água do vaso sanitário limpa os traseiros aflitos. Os japoneses em particular gostam de usar os washlets para evitar o processo incômodo e se esfregarem com fibras. Muitos proctologistas acreditam que o uso de papel higiênico seco é "errado".

Preocupados com as doenças que afligem a pele sensível em torno do ânus, a Iniciativa para a Higiene Anal, com sede em Viena, recomenda a "limpeza com água corrente, em temperatura moderada" e "secar com uso de secador de cabelo".

Em termos de história cultural, o triunfo do rolo de papel higiênico nunca foi garantido. Inicialmente os americanos não viam utilidade para o uso do produto caro - e por muito tempo preferiam se limpar com papel arrancado de catálogos gratuitos. Na Alemanha nos anos 50, a compra de papel higiênico -um produto que há muito tempo se tornou uma necessidade da vida- era uma atividade extremamente embaraçosa. Tais inibições ainda parecem existir atualmente. Mesmo um cientista esclarecido como Hustedt admite: "Ir ao banheiro não é exatamente algo pelo qual as pessoas aguardam ansiosamente".

Frank Thadeusz - Der Spiegel

Tradução: George El Khouri Andolfato
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