ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

12 dezembro, 2007

D. JOÃO 6º OFICIALIZOU BIOPIRATARIA

Jornalista lança livro sobre história do Jardim Botânico do Rio e diz que "mística dos príncipes" permitiu sua sobrevivência.
"O Jardim de d. João" mostra que local foi essencial para o tráfico de especiarias, frutas, resinas, madeira e plantas medicinais.
Quem se escandaliza com a interminável discussão que hoje se desenrola sobre biopirataria deveria ler "O Jardim de d. João", da jornalista e escritora Rosa Nepomuceno. Além de trazer a história do jardim botânico mais famoso do Brasil, a autora mostra como o espaço foi importante para estruturar uma prática comum na época. Publicado dentro das comemorações dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil, o livro mostra como a transferência da corte serviu para criar e multiplicar os hortos de aclimatação essenciais para o desenvolvimento do tráfico de plantas. Os portugueses tinham espiões nos dois grandes hortos franceses (na atual Guiana Francesa e em Maurício, no oceano Índico), cooptando pesquisadores para trazer informações e sementes de especiarias, frutas, resinas, madeira ou plantas medicinais. "A pirataria sempre correu solta, mas ela se oficializou em 1809, quando d. João 6º mandou invadir a atual Guiana Francesa e levou os portugueses a se estabelecerem na região, entre 1810 e 1817. Inclusive manuais e as técnicas para plantio foram apropriadas", diz Nepomuceno, que também é autora de "O Brasil na Rota das Especiarias" (José Olympio).
Produção de chá
Ainda que "estrangeiras" como a manga já tivessem sido incorporadas, o Jardim Botânico do Rio, destinado em seu início a uma fábrica de pólvora, serviu para inaugurar em solo brasileiro a produção da cânfora, noz-moscada e lichia, entre outras plantas. Também foi o laboratório de produção de chá, quando ainda não se sabia o papel que o café ocuparia na economia nacional. Para isso, em 1814, foram trazidos 300 chineses de Macau. Nem tudo foram rosas na história do horto. Como aponta a historiadora Isabel Lustosa no prefácio, o jardim conseguiu se preservar até o período regencial, mas foi justamente com o ilustrado d. Pedro 2º que o local foi desfigurado e quase desapareceu. Ironicamente, foi com o advento da República que o jardim da realeza entrou na sua era mais rica, retomou o papel de pesquisa e sofreu uma guinada, adquirindo status de campo de pesquisa científica que serviu de referência no país e no exterior. Para a autora, se não fosse a aura que cerca a família real, o jardim não teria sobrevivido. "Foi a mística de ter sido o jardim de d. João, dos príncipes e de dona Leopoldina que permitiu o milagre da sobrevivência, não tenho dúvida disso." O próprio d. João 6º está ligado à planta mais famosa do local, que virou símbolo de status no século 19. Tudo indica que foi ele quem semeou no local a planta mater da palmeira imperial, ícone tipicamente brasileiro de status e poder. Todas as mudas, que depois se espalharam pelo país e ornaram as fazendas do baronato do café no vale do Paraíba e em tantas regiões brasileiras, são descendentes da leva trazida por d. João 6º. Espécie das Antilhas e da Venezuela que foi cultivada pelos franceses em Maurício, a palmeira imperial foi trazida pela lábia de um oficial da Armada Real Portuguesa, que "subtraiu" 20 caixotes do Jardim de la Pamplemousse. A própria planta do príncipe regente sobreviveu 162 anos, até ser fulminada por um raio em 1972.
O JARDIM DE D. JOÃO
Autora: Rosa Nepomuceno
Edição: Dona Rosa Produções/Casa da Palavra
Quanto: R$ 58 (176 págs.)
MARCOS STRECKER
Folha de São Paulo

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