ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

24 março, 2008

E OS ARQUIVOS ELETRÔNICOS RESISTEM ATÉ QUANDO?

Especialistas discutem sobre a longevidade dos suportes eletrônicos da escrita, que resistem menos ao tempo.
Quando os bibliotecários falam sobre os efeitos do tempo, costumam contar a seguinte história. Capítulo 1: Em 1085, Guilherme, o Conquistador, que buscava ter uma idéia precisa de seu país, enviou seus conselheiros aos quatro cantos da Inglaterra para que pudessem fazer um levantamento, propriedade a propriedade. Esse documento, o "Domesday Book", é uma fonte preciosa para compreender a Inglaterra no século XI. Esse tesouro está conservado há mais de 900 anos nos Arquivos Nacionais Britânicos
Capítulo 2: em 1986, para marcar o aniversário desse cadastro, a BBC lança uma grande operação, pedindo às escolas para fazerem um levantamento sobre a Grã-Bretanha contemporânea. Textos, vídeos e áudios são coletados no computador da BBC e transmitidos em fitas de vídeo e discos laser. Quinze anos depois, a evolução da tecnologia foi tal que não se pode mais ler os dados em nenhum computador.
O "Domesday Bis" teria então vivido 60 vezes menos que seu ancestral-modelo. Mas a história acaba bem, pois depois de um longo e custoso trabalho, os arquivos da operação da BBC foram transformados e são novamente consultáveis.
Enquanto ainda podemos ler escrituras de 5 mil anos, a diversidade de arquivos eletrônicos, a mudança rápida dos formatos e suportes torna a perenidade dos arquivos contemporâneos cada vez mais difícil. "Com o tempo, os suportes têm um desempenho cada vez melhor em sua capacidade, mas duram cada vez menos tempo", considera Alexis Rivier, conservador de novas tecnologias na Biblioteca de Geneve, entrevistado pelo jornal suíço Le Temps.
Por muito tempo, deixamos o tempo fazer seu trabalho.
"Dos anos 1950 a 2000", resume Marie-Christine Doffey, diretora da Biblioteca Nacional de Berna, também ouvida pela reportagem, "o mundo da conservação não se preocupou suficientemente com o futuro dos arquivos eletrônicos." Foi o que hoje é chamado de Idade das Trevas Digital, a época em que se acreditava que seria suficiente estocar, em boas condições, os dados informáticos, para conservá-los. "Foi assim que desapareceram, por exemplo, todas as informações da NASA enviadas pelos primeiros satélites", acrescenta Geneviève Clavel, responsável pela cooperação internacional e nacional. Seguindo a mesma lógica, ainda se está procurando o primeiro e-mail enviado há cerca de 30 anos.
Parece que saímos do buraco negro. Desde 2000, os bibliotecários e os arquivistas estão conscientes de que a conservação passiva não é mais suficiente para dar a esperança de fazer os escritos contemporâneos atravessarem os próximos anos. Mas o que fazer? "Diante da diversidade de suportes e de técnicas, estamos completamente desarmados", constata Silvio Corsini, conservador da reserva rara da Biblioteca Cantonal e Universitária de Lausanne. O método atual consiste em se assegurar, constantemente, que os arquivos possam ser abertos e lidos, quaisquer que seja o estado de avanço da tecnologia. Para isso, é preciso recopiar os dados sistematicamentes em outros formatos eletrônicos. E não acreditar que se está fazendo um trabalho definitivo: "Todo suporte tem suas fraquezas". Para seu colega Alexis Rivier, "hoje temos mais um problema de organização e tomada de decisão política que uma falta de consciência ou de capacidade de fazer".
Na Suíça - onde foi publicada essa reportagem - desde 2006 são trocadas experiências em um grupo de trabalho da Unesco para a preservação da Internet. O grupo realiza a arquivagem de alguns documentos nascidos sob o formato eletrônico, como as teses científicas ou os sites web de importância histórica. Durante as eleições federais suíças de 2007, por exemplo, os sites dos partidos políticos foram salvos. Uma experiência similar será realizada durante o Euro 2008. Mas a batalha ainda não está ganha. Como se arquivará os romances escritos em telefone celular que já fazem furor no Japão, por exemplo?
Texto original (em francês) publicado no jornal
Le Temps
Fonte: Informações publicadas no Jornal Le Temps, Suíca, por Christine Salvadé (tradução Graziella Beting)
http://www.aber.org.br

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