COMO RETIRAR AS SACOLAS PLÁSTICAS DO DIA-A-DIA
Neste artigo vou focar a questão que envolve o uso de sacolas plásticas, seu descarte, o impacto sobre o meio ambiente e as possibilidades de desenvolvimento de políticas públicas que incentivem a adoção de alternativas eficazes do ponto de vista ecológico.
Uma pesquisa que acaba de ser realizada na Inglaterra demonstra que uma família inglesa utiliza em média 800 sacolas por ano. A média por consumidor é de 260 sacolas plásticas por ano. O dado mais surpreendente, entretanto, foi o de que as sacolas são utilizadas em média por apenas 20 minutos antes de serem jogadas fora.
Pode até ser que a realidade no Brasil seja diferente e as taxas de reúso mais elevadas. Os valores certamente variam, determinados pelas diferenças culturais e a estratificação social. O fato, porém, é que as sacolas viram lixo, de difícil decomposição, que polui solo, rios e oceanos.
As sacolas plásticas levam de 400 a 1.000 anos para se degradar no meio ambiente. Especialistas calculam que 100 mil animais como baleias, golfinhos, tartarugas e focas morram por ano após ingerir sacolas plásticas confundidas com alimentos. O plástico permanece no corpo do animal e, depois de sua morte e decomposição, volta ao oceano, intacto, capaz de produzir nova vítima. A queima do produto gera gases de efeito estufa e os materiais químicos responsáveis pela coloração das sacolas contaminam os ambientes em que são depositados.
Na Inglaterra, o nível de reciclagem é ainda extremamente baixo e 98% do material acaba em aterros sanitários. Devido à limitada infra-estrutura de coleta e de tratamento, grandes volumes acabam sendo enviados para reciclagem na China. O fluxo desse material, entretanto, nem sempre é eficiente e o lixo contaminado ou de qualidade inferior acaba tendo o seu destino final na China igual ao que teria na Inglaterra: os aterros sanitários.
É fácil perceber, portanto, que o custo da utilização das sacolas não é necessariamente nulo para os consumidores e os efeitos nocivos ao meio ambiente podem ser observados por muitos e muitos anos.
Governos de países como França, Irlanda e Inglaterra estão se movendo para mudar hábitos e atitudes dos consumidores. As ações têm, em comum, a implementação de uma taxa forçando o consumidor a pagar cada sacola plástica descartável consumida. Com o impacto da medida no bolso, o consumidor está mudando hábitos. Agora ele busca adquirir sacolas reutilizáveis, fabricadas com materiais alternativos e mais duradouros.
Na Irlanda, a redução no uso de sacolas plásticas foi de 90%, após a implementação da taxa "plastax", que incide sobre elas. Na Franca, a cobrança começou em alguns supermercados, mas o governo já determinou que elas devem deixar de ser usadas até 2010. Marks & Spencer e Ikea, marcas mundialmente conhecidas, informam a queda de 95% no uso das sacolas em suas filiais da Inglaterra, desde o início da cobrança de uma taxa fixa.
Para ocupar o lugar do plástico, cresce a venda de sacolas não-descartáveis, produzidas com materiais alternativos e mais resistentes, de diversos tamanhos, mas bonitas (de diversas cores) e ecologicamente corretas.
Em paralelo, são realizadas peças publicitárias destinadas a conscientizar a população. Uma das mais bem-sucedidas, que promove o reúso, é a campanha Eu não sou uma sacola plástica. A sacola de pano levando o estilo e a marca da estilista Anya Hindmarch foi produzida em parceria com o We Are What We Do (em português, Nós Somos o que Fazemos), movimento inglês criado em 2004 para inspirar mudanças de atitude do consumidor. A organização defende a tese de que pequenos passos, tomados por várias pessoas, podem gerar grandes resultados. A mensagem é clara: qualquer pequena mudança é importante e vai contribuir para o beneficio geral.
A campanha teve uma repercussão tão surpreendente que, no dia do lançamento da sacola, consumidores fizeram fila na porta das lojas, antes mesmo da abertura, para obter o produto. O estoque foi todo vendido em apenas uma hora.
Alguns podem argumentar que o desejo pela sacola não está subordinado ao conceito de um produto ecologicamente correto, mas ao de um objeto de moda. Entendo que é um excelente exemplo de junção do "útil ao agradável". A mensagem é clara: precisamos minimizar os efeitos que estamos causando ao ambiente, utilizar os nossos recursos de maneira mais eficiente e eliminar a geração de resíduos.
Acredito que estejamos transitando na direção de uma produção e consumo mais sustentáveis. Consumidores conscientes querem estar associados a produtos ecologicamente corretos. O sucesso é devido ao beneficio mútuo de todas as partes. Para o consumidor, a associação a um produto ecologicamente correto. No caso da empresa, o fortalecimento da marca e da imagem, por promover o uso eficiente dos recursos e a proteção ao meio ambiente.
Portanto, caros leitores, evitem o desperdício. O beneficio vai além do que vocês podem enxergar. Pensem também na utilização de recursos como água e energia. A palavra de ordem é eficiência (evitar ou reduzir a produção de resíduos), seguida por reuso e reciclagem. Quanto à indústria e ao comércio, a esperança é a de que o sucesso, obtido por iniciativas semelhantes à que juntou uma causa e uma estilista famosa, abra os horizontes para ações que pensem novos produtos não somente pela qualidade, mas a partir da análise do ciclo de vida e do efeito sobre o meio ambiente. Estes setores podem e devem participar desta positiva transformação, oferecendo serviços, produtos e incentivos ao consumidor consciente, que está cada vez mais exigente. Este poderá ser o diferencial em um mercado tão competitivo.
Fica a sugestão de que sigam a linha do movimento We Are What We Do: pequenos passos + várias pessoas = grandes resultados. Quem quer que seja e onde quer que esteja, todos nós podemos fazer a nossa parte. Incluindo você!
Beatriz Luz, engenheira química pela Universidade Federal do Rio e mestre em engenharia ambiental pela Faculdade de Surrey, na Grã-Bretanha, trabalha como consultora ambiental na Inglaterra na área de uso eficiente de recursos. Comentários e sugestões para beatriz_luz@hotmail.com
DiárioNet
Uma pesquisa que acaba de ser realizada na Inglaterra demonstra que uma família inglesa utiliza em média 800 sacolas por ano. A média por consumidor é de 260 sacolas plásticas por ano. O dado mais surpreendente, entretanto, foi o de que as sacolas são utilizadas em média por apenas 20 minutos antes de serem jogadas fora.
Pode até ser que a realidade no Brasil seja diferente e as taxas de reúso mais elevadas. Os valores certamente variam, determinados pelas diferenças culturais e a estratificação social. O fato, porém, é que as sacolas viram lixo, de difícil decomposição, que polui solo, rios e oceanos.
As sacolas plásticas levam de 400 a 1.000 anos para se degradar no meio ambiente. Especialistas calculam que 100 mil animais como baleias, golfinhos, tartarugas e focas morram por ano após ingerir sacolas plásticas confundidas com alimentos. O plástico permanece no corpo do animal e, depois de sua morte e decomposição, volta ao oceano, intacto, capaz de produzir nova vítima. A queima do produto gera gases de efeito estufa e os materiais químicos responsáveis pela coloração das sacolas contaminam os ambientes em que são depositados.
Na Inglaterra, o nível de reciclagem é ainda extremamente baixo e 98% do material acaba em aterros sanitários. Devido à limitada infra-estrutura de coleta e de tratamento, grandes volumes acabam sendo enviados para reciclagem na China. O fluxo desse material, entretanto, nem sempre é eficiente e o lixo contaminado ou de qualidade inferior acaba tendo o seu destino final na China igual ao que teria na Inglaterra: os aterros sanitários.
É fácil perceber, portanto, que o custo da utilização das sacolas não é necessariamente nulo para os consumidores e os efeitos nocivos ao meio ambiente podem ser observados por muitos e muitos anos.
Governos de países como França, Irlanda e Inglaterra estão se movendo para mudar hábitos e atitudes dos consumidores. As ações têm, em comum, a implementação de uma taxa forçando o consumidor a pagar cada sacola plástica descartável consumida. Com o impacto da medida no bolso, o consumidor está mudando hábitos. Agora ele busca adquirir sacolas reutilizáveis, fabricadas com materiais alternativos e mais duradouros.
Na Irlanda, a redução no uso de sacolas plásticas foi de 90%, após a implementação da taxa "plastax", que incide sobre elas. Na Franca, a cobrança começou em alguns supermercados, mas o governo já determinou que elas devem deixar de ser usadas até 2010. Marks & Spencer e Ikea, marcas mundialmente conhecidas, informam a queda de 95% no uso das sacolas em suas filiais da Inglaterra, desde o início da cobrança de uma taxa fixa.
Para ocupar o lugar do plástico, cresce a venda de sacolas não-descartáveis, produzidas com materiais alternativos e mais resistentes, de diversos tamanhos, mas bonitas (de diversas cores) e ecologicamente corretas.
Em paralelo, são realizadas peças publicitárias destinadas a conscientizar a população. Uma das mais bem-sucedidas, que promove o reúso, é a campanha Eu não sou uma sacola plástica. A sacola de pano levando o estilo e a marca da estilista Anya Hindmarch foi produzida em parceria com o We Are What We Do (em português, Nós Somos o que Fazemos), movimento inglês criado em 2004 para inspirar mudanças de atitude do consumidor. A organização defende a tese de que pequenos passos, tomados por várias pessoas, podem gerar grandes resultados. A mensagem é clara: qualquer pequena mudança é importante e vai contribuir para o beneficio geral.
A campanha teve uma repercussão tão surpreendente que, no dia do lançamento da sacola, consumidores fizeram fila na porta das lojas, antes mesmo da abertura, para obter o produto. O estoque foi todo vendido em apenas uma hora.
Alguns podem argumentar que o desejo pela sacola não está subordinado ao conceito de um produto ecologicamente correto, mas ao de um objeto de moda. Entendo que é um excelente exemplo de junção do "útil ao agradável". A mensagem é clara: precisamos minimizar os efeitos que estamos causando ao ambiente, utilizar os nossos recursos de maneira mais eficiente e eliminar a geração de resíduos.
Acredito que estejamos transitando na direção de uma produção e consumo mais sustentáveis. Consumidores conscientes querem estar associados a produtos ecologicamente corretos. O sucesso é devido ao beneficio mútuo de todas as partes. Para o consumidor, a associação a um produto ecologicamente correto. No caso da empresa, o fortalecimento da marca e da imagem, por promover o uso eficiente dos recursos e a proteção ao meio ambiente.
Portanto, caros leitores, evitem o desperdício. O beneficio vai além do que vocês podem enxergar. Pensem também na utilização de recursos como água e energia. A palavra de ordem é eficiência (evitar ou reduzir a produção de resíduos), seguida por reuso e reciclagem. Quanto à indústria e ao comércio, a esperança é a de que o sucesso, obtido por iniciativas semelhantes à que juntou uma causa e uma estilista famosa, abra os horizontes para ações que pensem novos produtos não somente pela qualidade, mas a partir da análise do ciclo de vida e do efeito sobre o meio ambiente. Estes setores podem e devem participar desta positiva transformação, oferecendo serviços, produtos e incentivos ao consumidor consciente, que está cada vez mais exigente. Este poderá ser o diferencial em um mercado tão competitivo.
Fica a sugestão de que sigam a linha do movimento We Are What We Do: pequenos passos + várias pessoas = grandes resultados. Quem quer que seja e onde quer que esteja, todos nós podemos fazer a nossa parte. Incluindo você!
Beatriz Luz, engenheira química pela Universidade Federal do Rio e mestre em engenharia ambiental pela Faculdade de Surrey, na Grã-Bretanha, trabalha como consultora ambiental na Inglaterra na área de uso eficiente de recursos. Comentários e sugestões para beatriz_luz@hotmail.com
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Marcadores: ecologia, informação
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