A CRUZADA DE UM GREGO "LÉSBICO" PARA PROTEGER O NOME DE SUA ILHA
Dimitri Lambrou é um orgulhoso lésbico, segundo o qual as "lésbicas" de todo o mundo deveriam deixar de usar o nome de sua ilha natal como marca de sua orientação sexual. O processo que ele apresentou em um tribunal de Atenas o tornou famoso, não só na Grécia.
O caminho para se chegar ao mundo de Dimitri Lambrou, editor-chefe da revista mensal grega O Davlos ("A Tocha"), passa pelo distrito turístico de Atenas, uma escalada até o terceiro andar de um prédio de apartamentos, e por uma maciça porta de madeira. Lambrou está sentado à frente de sua mesa, num pequeno escritório, com as cortinas baixadas, e teme ser mal compreendido.
"Sou fã dos valores antigos e tradições", ele diz, apontando para o ventilador que gira atrás de sua mesa. Lambrou, um homem grisalho de óculos, colarinho desabotoado, ocupa uma cadeira de escritório que já teve dias melhores. Um dos empregados senta-se em frente ao ventilador; um ex-general do Exército, encorpado e com aparência tranqüila, cujo trabalho é gravar o que Lambrou diz. Cautela nunca é demais, diz o chefe do ex-general.Lambrou, de 69 anos e casado, está em uma missão.
Sua tese central, de forma resumida, é esta: a cristianização da Europa não foi o começo, mas sim o fim da grandeza da Europa. Para Lambrou, a Grécia antiga representou o ponto mais elevado da civilização européia.
É uma missão complicada. Um total de 98% dos gregos são greco-ortodoxos e a missão de Lambrou lhes parece mais ou menos irrelevante. A revista O Davlos tem uma circulação de cerca de 5.000 cópias, e outras publicações raramente se referiam a Lambrou.
Tudo isso mudou no dia 10 de abril, quando Lambrou entrou com uma petição para uma interdição judicial temporária em um tribunal de Atenas. Ele queria impedir que a OLKE, a associação grega de gays e lésbicas continuasse a usar a palavra "lésbica". O próprio Lambrou nasceu na ilha de Lesbos, terra natal da poeta Safo, musa clássica de todas as mulheres que amam mulheres. Acontece que Lambrou adora sua Lesbos natal. A OLKE, ele insiste, roubou a palavra "lésbica". As mulheres de Lesbos são constantemente confundidas com mulheres lésbicas, diz Lambrou, para quem uma lésbica de verdade só pode existir em Lesbos.
Lambrou e suas ações foram recebidas com sonoros aplausos na Grécia e em todo o mundo. Os moradores de Lesbos entraram em contato com ele, oferecendo seus serviços como testemunhas abalizadas. Ele recebeu até mesmo um telefonema do Canadá, de um homem originalmente de Lesbos, que emigrou há mais de 30 anos e afirmou que ainda sofre com a confusão.
De repente, tudo pareceu ser possível. E se a ilha no Mar Egeu conseguisse triunfar sobre o mundo inteiro? E se lésbica é apenas uma designação geográfica, talvez mesmo uma "marca", algo que possa ser registrado e protegido?
Risos nas galerias
A questão foi apresentada ao tribunal de Atenas no início de junho. As galerias estavam lotadas por moradores da ilha de Lesbos, junto de homens e mulheres homossexuais."Minha mulher é lésbica, minha filha é lésbica e eu sou lésbico", disse Lambrou, ao iniciar seu depoimento, sob gargalhadas das galerias."A senhora está ouvindo as risadas das pessoas?" a testemunha perguntou à juíza. "Toda a Grécia está rindo disso. E a senhora pode imaginar como somos tratados no exterior."A testemunha disse à juíza que tem uma filha. Quando ela descobriu o que significa o L em OLKE, ficou envergonhada.
Lambrou sentou-se na galeria, cercado por lésbicas e gays gregos. Parecia convencido de que o caso caminhava a seu favor. Mas em seguida o advogado da parte oposta iniciou o interrogatório da testemunha. E os gêmeos, cujos corpos estão unidos no nascimento? Ele indagou. Será que a testemunha não iria se referir a eles como gêmeos siameses?"Sim", respondeu a testemunha."O senhor não acha que os siameses poderiam ser contra isso?"Ele não viera a Atenas para discutir os problemas dos siameses, disse laconicamente a testemunha. Qual a idade, indagou o advogado, da filha da testemunha, quando ela corou ante a menção de que a letra L em OLKE quer dizer lésbica?"Vinte e seis", respondeu a testemunha, sob novos acessos de risos das pessoas nas galerias. Nesse ponto Lambrou pôde muito bem ter sentido - pela primeira vez - que sua campanha não estava avançando da forma que ele esperava.
Sentado em seu escritório, Lambrou afirma que não é anti-homossexuais. As mulheres devem ir para Lesbos, todas as mulheres; devem passar suas férias lá. Ele não faz qualquer objeção ao casamento entre mulheres. Mas as palavras, ele diz, e os fatos históricos, precisam ser corrigidos. Ele diz que é ridículo alegar que Safo amava mulheres, por exemplo. Todo mundo - segundo Lambrou - sabe que a poetisa, casada e mãe de uma filha, suicidou-se por causa do amor por um homem.
E como deveriam se chamar as lésbicas, se não puderem mais referir-se a si mesmas como lésbicas? Lambrou tem uma resposta rápida para essa pergunta. Ele sugere a o termo "tribades". O verbo "trivo" significa "roçar" em grego. Ele lança um olhar orgulhoso em direção ao general reformado, que está agora afundado em sua cadeira. "Aquelas que se roçam", diz ele satisfeito, "que tal?
"Lambrou quer respeito para as verdadeiras lésbicas, mesmo se isso signifique ser motivo de risos para meio mundo.
Hauke Goos (DER SPIEGEL)
Tradução: Claudia Dall'Antonia
Tradução: Claudia Dall'Antonia
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