CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 5-2-10
Passos-MG - Restauração resgata capela centenária
Com 145 anos, Capela da Penha retoma características originais; 'guardiões' tomam conta do prédio.
Cultura e fé marcam a história dos 145 anos da fundação da Capela de Nossa Senhora da Penha, patrimônio histórico localizado na cidade sul-mineira de Passos. Em agosto de 2009, a comunidade foi presenteada com a entrega do restauro da igrejinha que, agora, voltou a ostentar suas características originais, datadas de sua construção entre os anos de 1863 e 1864.
A obra centenária é fruto do cumprimento de uma promessa feita pelo casal Antônio Caetano de Faria Loulou e Maria Pimenta Abreu. Em dificuldades, Antônio e Maria apelaram para a devoção a Nossa Senhora da Penha, e se alcançassem a graça tão almejada, erguiriam o templo em louvor à santa.Segundo estudos da historiadora Andréia Maria Kallas El Harati, a capela foi inaugurada em setembro de 1867, com a benção do padre João da Fonseca de Melo, conforme o ritual romano. O formato octogonal da nave é um dos poucos existentes na América Latina e sua estrutura apresenta traços coloniais. Escadas laterais dão acesso aos corredores superiores e ao coro. Mas recuperar o patrimônio da capelinha foi mais difícil do que no início aparentava ser.
Reformas
A obra de restauração começou em junho de 2007, durou exatos dois anos, dois meses e 25 dias e foi um desafio para o arquiteto André Luiz Nery Figueiredo, responsável pelo projeto. A falta de documentação histórica e as constantes intervenções feitas sem nenhum critério ao longo do tempo, a princípio, acabaram comprometendo os trabalhos. Em 1982, a capelinha passou pela última reforma, que, segundo o levantamento feito pelo arquiteto, também foi a responsável pela maior descaracterização do prédio, onde foram substituídos o retábulo e o piso.
Mas essas dificuldades foram superadas devido aos estudos in loco, prospecções e à contribuição da comunidade. Algumas das características originais foram recompostas baseadas em vestígios encontrados na própria capela, como um pedaço de piso que estava na sacristia, que serviu de base para a reconstituição de todo o ladrilho hidráulico. O fragmento tinha o mesmo desenho da nave da igreja.
Inicialmente, o custo inicial da restauração estava orçado em R$ 312 mil, mas uma avaliação minuciosa sobre o real estado de conservação do prédio indicou que seria necessário trocar todos os pilares, as vigas, treliças e os caibros em madeira, já que a ação de cupins e fungos havia comprometido toda a sustentação do templo.
Custos
O imprevisto causou um aumento de 140% no primeiro valor estimado nos gastos com a obra, saltando para aproximadamente para R$ 750 mil. Parte do dinheiro empregado na obra foi repassado pela Prefeitura de Passos e o restante foi obtido de doações e da realização de eventos promovidos pela Paróquia de Nossa Senhora da Penha, liderada pelo padre Francisco Clóvis Nery. Entre as propostas apresentadas pela equipe estava a instalação de novas fundações para os pilares, substituição de quase todo o madeiramento dos telhados e, também, a desmontagem e a recomposição do campanário posterior, que corria o risco de desabar.
Parte da madeira danificada retirada da fundação pode ser vista do lado de fora da capela porque ela foi usada na ornamentação de seus jardins. Um dos guardiões do templo, seu Darci Teodoro, de 74 anos, conta que o prédio estava bem comprometido. “Quando chovia era preciso arrastar os bancos e as pessoas tinham que se afastar durante a missa, porque a água entrava aqui dentro. Os carunchos estavam consumindo tudo”, diz.
O amarelo-claro e os acabamentos em azul e branco também voltaram a predominar, trazendo mais luz para o interior da capelinha. As cores aliadas à recuperação da parte superior que completa a cúpula (zimbório) e dos vitrais coloridos, conforme descritos no livro "Memoriando", de Washington Noronha, trazem naturalidade ao recinto. Estes elementos ganharam um projeto de iluminação para valorizar seus detalhes.
O altar recebeu um tratamento mais que especial. A madeira envernizada colocada na década de 1980 deu lugar ao espaço original e a reconstituição das molduras douradas levou 11 meses de trabalho até ficarem prontas.O processo teve início baseado em análise das peças e do material histórico. Para o douramento das molduras foi utilizada uma técnica que se resume a aplicação de uma fina folha de ouro de 22 ou 23 quilates sobre a madeira. Só depois de impermeabilizada é que o suporte recebe o ouro. O resultado é um brilho intenso e uniforme, que seduz os olhares de quem quer que o observe. Além disso, a mesa do altar foi aproximada dos fiéis para tornar as cerimônias mais participativas.
Grades
A Capelinha da Penha, como é chamada pelos passenses, também ganhou proteção em sua área externa. Antes da mureta original foram instaladas grades para inibir a ação de vândalos. Segundo seu Darci, as pessoas não se importavam em ficar sentadas na mureta, danificando o conjunto da obra. O projeto das grades sofreu grandes críticas, mas foi aceito por se tratar da segurança do patrimônio histórico.
Para a zeladora do templo, dona Benedita Felizarda, de 82 anos, os novos ares da capelinha fazem bem ao espírito. “Ficou muito bonita, dá gosto cuidar da igreja e zelar por ela. É como se a fé tivesse sido renovada”, afirma.
Irmandade
Antes da reinauguração da igrejinha em 31 de agosto de 2009, algumas medidas para a sua preservação foram tomadas. Entre elas, a criação do grupo “Guardiões”, que sob a responsabilidade da Irmandade de Nossa Senhora, ficou com a tarefa de zelar pelo prédio e manter viva a devoção à padroeira.
As regras adotadas pela Irmandade incluem desde o horário de funcionamento do prédio até o modo como ele deve ser limpo. Fotos em seu interior podem ser feitas, mas o uso de flashes e refletores são proibidos.
O grupo dos guardiões é formado por voluntários atuantes na comunidade, que se revezam durante o horário de abertura à visitação. Devidamente identificados com crachás, os guardiões recebem e orientam os visitantes durante as passagens pela capela. Eles se reúnem bimestralmente para tomar decisões registradas em um livro para guardar a memória do templo e, que, futuramente, servirá como documento histórico para as novas gerações.
Todos os assuntos ligados à manutenção da capelinha são administrados pelo Conselho Paroquial de Assuntos Econômicos e pela Secretaria Paroquial. Em breve, o arquiteto André Luiz Nery Figueiredo deve finalizar um manual de conservação para que as informações contidas possam ser seguidas pelos administradores da obra.
Serviço:
Capela Centenária Nossa Senhora da Penha
Visitação: de segunda-feira à sexta-feira, das 9 às 11h e das 14h às 16h. Aos sábados, das 9h às 11h
Missas: todas as quintas-feiras, às 19h
Informações: (35) 3522-3655 (35) 3522-3655
EPTV.com - Thaisa Figueiredo
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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