ATUALIDADES - 12-3-10
Promotor pedirá indiciamento de tesoureiro do PT por estelionato
João Vaccari Neto teria cometido delitos como presidente da Bancoop, entre 2005 e 2010, afirma José Carlos Blat
O promotor de Justiça José Carlos Blat declarou ontem que vai requerer o indiciamento criminal e denunciar à Justiça João Vaccari Neto por formação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita e lavagem de dinheiro ? delitos que o tesoureiro do PT, segundo o promotor, teria praticado enquanto ocupou a presidência da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), entre 2005 e 2010. Blat disse que a medida será tomada ao fim de sua investigação, independentemente de a Justiça autorizar ou não a quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari, requerida sexta-feira.
"Nada vai impedir o nosso trabalho", afirmou o promotor, indignado com acusações de cardeais do PT de que estaria a serviço do PSDB. Ele anotou que Ricardo Berzoini, ex-presidente da sigla, o acusou em entrevista a uma emissora de rádio de ser sócio de bicheiro e de contrabandista. "Propaganda difamatória e ofensas pessoais não vão desviar a nossa atenção. Vamos dar continuidade. Já enfrentei outras organizações criminosas tão ou mais importantes que essa."
O rombo, calcula o promotor, supera R$ 100 milhões. Ele está convencido de que parte desse montante financiou campanhas eleitorais do PT.
Blat ganhou reforço significativo da instituição. Ele estava praticamente isolado na apuração, mas a partir de hoje as operações da Bancoop serão alvo também de inquérito civil da Promotoria do Patrimônio Público e Social, braço do Ministério Público com larga especialização em ações contra corrupção e improbidade.
O promotor requereu remessa do inquérito à Seccional Centro de Polícia para que o ex-presidente da Bancoop seja intimado. "Ele (Vaccari) terá oportunidade de se explicar, é exercício sagrado da defesa", observou Blat. "Poderá dar sua versão, se quiser. Depois vamos individualizar as condutas e apresentar denúncia criminal."
Ressaltou também que o requerimento de quebra de sigilo de Vaccari complementa o inquérito. "Não seria adequado que outros ex-dirigentes da Bancoop tivessem afastado seu sigilo e ele ficasse de fora."
Blat planeja denunciar Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga, que integravam a cúpula da cooperativa. A devassa se estende ao período anterior à gestão Vaccari ? seu antecessor, Luiz Eduardo Malheiro, morreu em acidente de carro em 2004. "Os golpes mais incidentes aconteceram entre 2002 e 2006", afirmou. "Vaccari e Ana participaram diretamente na administração financeira fraudulenta da Bancoop."
O promotor disse que "não está investigando membros ou líderes do PT", porque não é sua atribuição. Por isso encaminhou à Procuradoria Eleitoral documentos que revelam elo da Bancoop com o PT ? doações da Germany Comercial e Empreiteira, que pertencia a dirigentes da própria cooperativa.
Ele declarou que um ponto da investigação é referente a uma cláusula de confidencialidade que trata de empréstimos que somam R$ 10,5 milhões que o Sindicato dos Bancários teria concedido à Bancoop. "Esses repasses não estão lançados nos balanços", destacou o promotor. "Causa estranheza porque o sindicato é criador da Bancoop. A cláusula impede que os cooperados tenham acesso a tais dados."
"A manifestação do promotor só revela que, embora venha fazendo acusações graves desde 2008, até agora não tomou medida judicial", reage o criminalista Pedro Dallari, que defende a cooperativa. "Evidencia a virulência do promotor. É claro o desvio de conduta. Se o promotor entende que há crimes deve propor ações penais. Mas está inerte, apenas assume posições perante a imprensa que não adota com ação efetiva."
Fausto Macedo
estadao.com.br
Dissidente chama Lula de conivente
Por uma porta-voz, Guillermo Fariñas, que faz greve de fome em Cuba, acusou presidente, a ZH, de ter esquecido o passado. No Brasil, Celso Amorim disse que Lula defende mudanças na ilha
Se a frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando dissidentes cubanos que fazem greve de fome a bandidos encarcerados em São Paulo pegou mal no Brasil, a repercussão negativa em Cuba foi ainda mais intensa. O jornalista e psicólogo cubano Guillermo Fariñas, que estaria sem comer nem beber desde 24 de fevereiro, definiu Lula como um “cúmplice” do regime cubano que se esqueceu do passado de perseguido pela ditadura brasileira.
– Chama a atenção que um senhor proveniente da classe trabalhadora (Lula) proceda assim. A única coisa que tenho a declarar é que Lula é um cúmplice do governo cubano que se esqueceu de quando foi um perseguido político da ditadura brasileira nas décadas de 60 e 70 do século passado. Isso é tudo o que ele me disse que tinha de dizer – contou a Zero Hora a professora e oposicionista cubana Licett Zamora, “porta-voz” da greve de Fariñas, avisada a respeito da frase de Lula em um telefonema vindo terça-feira à noite dos Estados Unidos.
Licett estava na casa de Fariñas quando atendeu ao telefone fixo para falar com ZH. Ao seu lado, o dissidente, 48 anos, prostrado em um sofá, fraco até para se levantar e falar ao telefone, pega emprestada a imagem de Mahatma Gandhi, ao menos fisicamente. Calvo, com os ossos se destacando no corpo magro, veste roupas brancas a maior parte do tempo. Junto dele, ainda estão a mulher, Clara Pérez Gómez, 50 anos (leia entrevista nesta página), e a filha do casal, de oito anos. As duas mulheres e a menina, apreensivas com o agravamento do estado de saúde do dissidente, tratavam ontem de ajudá-lo a praticar os gestos mais comezinhos.
“Pronto para o sacrifício”
A declaração de Lula, que desencadeou tamanha reação, foi a seguinte:
– Penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.
A frase do presidente ocorreu no momento em que Fariñas mantém uma greve de fome que o faz definhar desde 24 de fevereiro, na cidade de Santa Clara. O dissidente descende de autênticos revolucionários cubanos. Seu pai lutou ao lado de Ernesto Che Guevara na guerrilha no Congo, em 1965. Sua mãe também participou da derrubada do regime de Fulgencio Batista. Na juventude, o dissidente estudou na União Soviética e serviu ao exército cubano. Ele diz já ter feito 23 greves de fome desde 1989, quando passou para a oposição.
Hoje, Fariñas deve ir ao médico Ismeli Iglesias Martínez, um amigo da família. O quadro, ontem, era preocupante.
– Ele está muito desidratado, está com taquicardia – conta Licett, que o define como “um opositor pacífico” e fez um depoimento, com o conteúdo do que foi dito a ZH, para a revista Asignaturas Cubanas, cujo título, referindo-se a Lula, é “Epitáfio para um presidente”.
Os dissidentes cubanos se mobilizaram para evitar que a greve de fome de Fariñas tenha um fim trágico. Um grupo de 10 opositores moderados até enviou carta a Lula pedindo sua mediação no impasse. O psicólogo e jornalista, a esta altura já ungido como símbolo de uma resistência, admite encerrar o jejum apenas se o governo cubano libertar 26 presos políticos em estado delicado de saúde. E, a quem pede que pare o protesto, insiste:
– Estou pronto para me sacrificar.
LÉO GERCHMANN
ZERO HORA
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