CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 3-3-10
'Recuperar a imagem do Rio é recuperar o Brasil'
"O que me impressionou foi a promiscuidade do morro com o asfalto!" - comentário de Baudrillard sobre a Cidade Maravilhosa.
A Cidade Maravilhosa - eterna e imbatível - completa nesta segunda-feira 445 anos, sempre jovem e fagueira. Mas o que vejo ao lado da majestosa estátua de Cristo, o que me espanta?
Do alto do Corcovado eu vejo o rebuliço no Túnel Rebouças, vjo a Rocinha, como vejo muitos outros morros, coitados, onde os miseráveis são considerados cúmplices dos marginais, e certas autoridades pensaram em instituir o aborto naquelas plagas para impedir que nascessem mais marginais. Mas serão todos marginais só porque pobres, apenas porque não lhes dão as mesmas oportunidades dos meninos felizes que só andam no asfalto da Zona Sul? Por favor, não os abortem, mas dêem-lhes as chances que merecem!
Aí está nossa majestosa e simbólica estátua do Cristo Redentor a abençoar, do alto do Corcovado, a cidade que teve escolhido como padroeiro um santo martirizado. Será que nossa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro está fadada ao mesmo martírio do santo padroeiro que lhe deu o nome? Ela, que tem em um morro a estátua redentora, solitária, ao lado de tantos morros marginalizados e covís de facínoras poderosos e organizados?
Por mais que o Rio de Janeiro tenha se banalizado na história brasileira, desde a transferência da capital federal para Brasília, somente os ingênuos pensam que o referencial cultural desta eterna Cidade Maravilhosa desapareceu, tragado pela insidiosa e criminosa parceria entre a elite e o crime, naquilo que o arguto Baudrillard reconheceu, quando lhe perguntaram se não se impressionava com a beleza maravilhosa desta culta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Respondeu: "Não! O que me impressionou aqui foi a promiscuidade do morro com o asfalto!".
E tinha ou não tinha razão o inteligente francês? Chamada, até hoje, de capital cultural do país, aí está a nossa Cidade Maravilhosa a viver um clima infernal de Cidade do Crime, Cidade da Impunidade, Cidade da Injustiça ou, pior ainda, Cidade da Inversão de Valores!
Transformar, de novo, esta cidade na verdadeira Cidade Maravilhosa que continua - e todo o mundo o sabe - no referencial cultural que se esparge por todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, de Cruzeiro do Sul, no Acre, a Olinda, em Pernambuco, é a tarefa grandiosa, de repercussão nacional e internacional, a ser realizada por todos os brasileiros patriotas e amantes do estabelecimento de uma cultura própria, autóctone e objetiva, da qual o referencial se chama Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Atingida por flechas da ignomínia, do desleixo, do abandono, da incúria, da politicagem, da marginalidade associada a uma perversa legalidade que colabora com o crime, ao invés de combatê-lo, está aí, agonizante - mas viva! -, esta linda e culta cidade, como a representar em sua cidadania ferida de morte, em cada cidadão digno e corajoso, uma réplica do estóico São Sebastião em sua cristã e redentora figura de sofrido, mas heróico santo e mártir, flechado no próprio coração!
As flechas que atingiram o santo hoje foram substituídas por centenas de balas perdidas. Perdidas, mas que sempre encontram um pobre carioca em seu caminho. Vamos recuperar rápido essa Cidade Maravilhosa, pois, mais do que provável cidade símbolo das Olimpíadas de 2016, é ela símbolo da cultura e do sentimento de brasilidade que se esparge por todo o Brasil: recuperá-la é recuperar a nacionalidade, a cidadania e a soberania de nossa Nação verde-amarela.
O Globo
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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