NEM CORREIOS CHEGAM A ÁREAS DE RISCO NO RIO
Cerca de 60 ruas, praças e largos em 43 bairros do Rio de Janeiro, São Gonçalo e Niterói - nas proximidades de favelas dominadas por bandidos - foram classificados como áreas de risco por funcionários de empresas com serviço de entregas a domicílio, incluindo os Correios, segundo levantamento feito pela reportagem.
Os locais são riscados do mapa por carteiros, motoboys e até taxistas, que não querem se arriscar numa viagem a lugares onde a ocorrência de assaltos, seqüestros-relâmpago e tiroteios é constante. Assim, quem vive no "asfalto" também começa a experimentar mazelas que moradores das comunidades já conhecem.
E foi exatamente o que aconteceu com o designer Cláudio de Souza Novaes, 45 anos. Ele esperava por um Sedex com exames de ressonância magnética que chegariam para ele e a mulher em seu apartamento, no Grajaú, mas foi surpreendido pela notificação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) para que retirasse a encomenda na agência Cidade Nova, no Centro.
"A alegação para não terem feito a entrega foi: área de risco", conta. A Rua Alfredo Pujol, onde mora, dá acesso ao Morro da Divinéia, mas, segundo ele, isso nunca foi empecilho para que recebesse contas ou uma refeição pedida por telefone.
"Outra moradora do Grajaú também estava reclamando do não recebimento de um malote, mas ela morava na Engenheiro Richard, rua nobre. Então, o Grajaú inteiro se transformou em área de risco e, de agora em diante, não receberei mais nada em casa?", questiona.
A ECT informou que a interrupção de entregas na rua de Cláudio foi motivada por um tiroteio dias antes. A empresa não soube dizer quando as entregas seriam normalizadas.
Assaltos, humilhação e até surras Carteiros e motoristas da ECT confirmam que a Alfredo Pujol não é o único local onde caixas de Sedex não são levadas. Sem querer se identificar, contam que são alvos constantes da violência. "Quando é área de risco ou tem conflito, o cliente fica sem receber. É como quando há um temporal e fica tudo alagado", admitiu um funcionário do Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) Camará.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, há cerca de 10 assaltos a veículos, agências e carteiros todos os dias. "O trabalhador fica à mercê dos bandidos. Já teve motorista espancado e carteiro deixado sem roupa. Alguns têm se recusado a ir nesses pontos. Eles temem pela própria vida", alega o diretor jurídico do sindicato, Marcos Santaguida.
PM pede ajuda O relações-públicas da PM, tenente-coronel Rogério Seabra, reconheceu a existência de áreas de risco fora das favelas. Segundo ele, os batalhões priorizam o policiamento de regiões críticas. "Mas o crime migra, principalmente quando é acuado pela polícia", afirma. "Colocar uma viatura em cada uma dessas ruas não resolve. Precisamos que o cidadão e as empresas nos ajudem, fazendo denúncias. Com base nelas, que podem ser fornecidas anonimamente ao Disque-Denúncia (21 2253-1177), a PM pode fazer planejamento", diz.
Uma das categorias profissionais mais expostas é a dos taxistas. Com 15 anos de profissão, Paulo Nobre recusa viagens: "Já levaram até cadáver no meu táxi. Por isso, evito muitos lugares. Se um passageiro me pede para ir a Santa Teresa ou Santíssimo, peço desculpas e digo que não posso".
"Observamos uma diluição da diferença entre favela e não-favela. As ruas de acesso e entornos são considerados extensão da favela e seus moradores sofrem exclusão: não podem sair e chegar quando querem, não conseguem receber encomendas, além de os preços de imóveis se tornarem inferiores ao valor real. É um escândalo que o cidadão, seja da favela ou do asfalto, não tenha direito a serviços", opina o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj.
Loja tem lista de ruas proibidas Rede de supermercados oferece entregas a domicílio em suas filiais da Tijuca e Maracanã. Mas ao lado do balcão da Tijuca, há relação de 33 ruas "proibidas". Uma funcionário explica: "É área de risco. Já tivemos mais de 10 Kombis roubadas e motorista feito refém".
"O que fazer? Não é pela mercadoria, que o supermercado cobre, ou pelo veículo, que tem seguro, mas é pela vida dos funcionários que estamos zelando", alega o supervisor.
Entregadores já ficaram encurralados na Rua dos Araújos, na Tijuca, num tiroteio. A empresa teve também Kombi alvejada na Senador Nabuco, em Vila Isabel.
"Se houver muitos assaltos na mesma rua, avisamos à central e eles não aceitam pedidos do lugar", disse Marcelo Moura, motoboy.
Redação Terra
Os locais são riscados do mapa por carteiros, motoboys e até taxistas, que não querem se arriscar numa viagem a lugares onde a ocorrência de assaltos, seqüestros-relâmpago e tiroteios é constante. Assim, quem vive no "asfalto" também começa a experimentar mazelas que moradores das comunidades já conhecem.
E foi exatamente o que aconteceu com o designer Cláudio de Souza Novaes, 45 anos. Ele esperava por um Sedex com exames de ressonância magnética que chegariam para ele e a mulher em seu apartamento, no Grajaú, mas foi surpreendido pela notificação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) para que retirasse a encomenda na agência Cidade Nova, no Centro.
"A alegação para não terem feito a entrega foi: área de risco", conta. A Rua Alfredo Pujol, onde mora, dá acesso ao Morro da Divinéia, mas, segundo ele, isso nunca foi empecilho para que recebesse contas ou uma refeição pedida por telefone.
"Outra moradora do Grajaú também estava reclamando do não recebimento de um malote, mas ela morava na Engenheiro Richard, rua nobre. Então, o Grajaú inteiro se transformou em área de risco e, de agora em diante, não receberei mais nada em casa?", questiona.
A ECT informou que a interrupção de entregas na rua de Cláudio foi motivada por um tiroteio dias antes. A empresa não soube dizer quando as entregas seriam normalizadas.
Assaltos, humilhação e até surras Carteiros e motoristas da ECT confirmam que a Alfredo Pujol não é o único local onde caixas de Sedex não são levadas. Sem querer se identificar, contam que são alvos constantes da violência. "Quando é área de risco ou tem conflito, o cliente fica sem receber. É como quando há um temporal e fica tudo alagado", admitiu um funcionário do Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) Camará.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, há cerca de 10 assaltos a veículos, agências e carteiros todos os dias. "O trabalhador fica à mercê dos bandidos. Já teve motorista espancado e carteiro deixado sem roupa. Alguns têm se recusado a ir nesses pontos. Eles temem pela própria vida", alega o diretor jurídico do sindicato, Marcos Santaguida.
PM pede ajuda O relações-públicas da PM, tenente-coronel Rogério Seabra, reconheceu a existência de áreas de risco fora das favelas. Segundo ele, os batalhões priorizam o policiamento de regiões críticas. "Mas o crime migra, principalmente quando é acuado pela polícia", afirma. "Colocar uma viatura em cada uma dessas ruas não resolve. Precisamos que o cidadão e as empresas nos ajudem, fazendo denúncias. Com base nelas, que podem ser fornecidas anonimamente ao Disque-Denúncia (21 2253-1177), a PM pode fazer planejamento", diz.
Uma das categorias profissionais mais expostas é a dos taxistas. Com 15 anos de profissão, Paulo Nobre recusa viagens: "Já levaram até cadáver no meu táxi. Por isso, evito muitos lugares. Se um passageiro me pede para ir a Santa Teresa ou Santíssimo, peço desculpas e digo que não posso".
"Observamos uma diluição da diferença entre favela e não-favela. As ruas de acesso e entornos são considerados extensão da favela e seus moradores sofrem exclusão: não podem sair e chegar quando querem, não conseguem receber encomendas, além de os preços de imóveis se tornarem inferiores ao valor real. É um escândalo que o cidadão, seja da favela ou do asfalto, não tenha direito a serviços", opina o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj.
Loja tem lista de ruas proibidas Rede de supermercados oferece entregas a domicílio em suas filiais da Tijuca e Maracanã. Mas ao lado do balcão da Tijuca, há relação de 33 ruas "proibidas". Uma funcionário explica: "É área de risco. Já tivemos mais de 10 Kombis roubadas e motorista feito refém".
"O que fazer? Não é pela mercadoria, que o supermercado cobre, ou pelo veículo, que tem seguro, mas é pela vida dos funcionários que estamos zelando", alega o supervisor.
Entregadores já ficaram encurralados na Rua dos Araújos, na Tijuca, num tiroteio. A empresa teve também Kombi alvejada na Senador Nabuco, em Vila Isabel.
"Se houver muitos assaltos na mesma rua, avisamos à central e eles não aceitam pedidos do lugar", disse Marcelo Moura, motoboy.
Redação Terra
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