POR QUE TODA ESSA CONFUSÃO ?
A preocupação americana com a segurança de Bush é, paradoxalmente, um sinal de fraqueza do poder
Por que toda essa confusão? Por que ele não usa helicóptero? Por que não divulgar a trajetória da comitiva? Por que ele não veio no sábado, em que incomodaria menos paulistanos? Que ruas serão fechadas? Ah, isso é segredo, a CET não divulga etc.
A visita de George W. Bush a São Paulo tornou-se uma enorme preocupação para os paulistanos. O maior esquema de segurança já montado para um presidente, um esquema de segurança que obriga toda uma metrópole a se adaptar.
O risco que Bush corria no Brasil parece claramente desproporcional ao esquema de segurança. Mas, sob certo aspecto, é muito conveniente para a viagem de um "imperador". Tudo pára para vossa majestade.
Antes que conveniente segurança, a circulação em veículos pela cidade, e não em helicóptero, é uma demonstração de força. Não adianta argumentar que ele viaja apenas no helicóptero oficial -a Força Aérea dos EUA certamente poderia embarcar num avião cargueiro um helicóptero especialmente preparado para viagens internacionais de um presidente e fazê-lo pousar em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro ou Brasília. Poderia mandar caças para escoltá-lo. Há, houve e sempre haverá alternativas mais simples e talvez mais econômicas que a adotada pelo cerimonial e pela segurança de Bush.
Mas, aí, a visita de Bush seria igual à de qualquer outro chefe de Estado. O povo, na rua, talvez nem tomasse muito conhecimento dela. Agora, todos sabem que Bush está aqui. E que veio conhecer o nosso etanol. E lembrar, ao mesmo tempo, aos habitantes da maior cidade do país quem é quem no jogo político internacional.
Essa demonstração de força, dialeticamente, é também uma demonstração de fraqueza. Certa vez, entrevistando um professor de filosofia da USP, já há alguns anos, ele comentou como o chanceler alemão Helmut Kohl circulava, sem um aparato de segurança evidente, entre as pessoas nos festejos dos 200 anos da Revolução Francesa (ou num evento similar, já não tenho certeza). Algo que, já na época da nossa conversa, era impensável.
Isso é uma fraqueza do poder, uma fraqueza do maior poder do mundo: uma derrota ideológica, no sentido grande do termo. Seu poder já não se sustenta no consenso, mas apenas na demonstração de força. O poder hoje, e Bush é apenas o símbolo máximo disto, parece poder apenas ser temido para permanecer como tal, parece já ter não a opção de ser amado.
Tirando o almoço oferecido por Lula, Bush só comeu o que veio dos Estados Unidos (comida congelada, enlatada ou in natura?), e pediram que a Laura Bush não fosse oferecido nem um cafezinho numa das visitas planejadas.
Privações a que nem todos se sujeitam. Indo provar hoje pela manhã, no Largo São Bento, o bolo Paschoalis que os monges beneditinos criaram especialmente para a visita do papa (à venda por R$ 38 a unidade; fui de metrô, porque o Minhocão estava fechado), fica claro como Bento XVI, apesar de protegido por outras tantas preocupações de segurança, terá momentos de prazer em São Paulo que a Bush não foram, pelo menos em tese, permitidos.
Haroldo Ceravolo Sereza - UOL
Por que toda essa confusão? Por que ele não usa helicóptero? Por que não divulgar a trajetória da comitiva? Por que ele não veio no sábado, em que incomodaria menos paulistanos? Que ruas serão fechadas? Ah, isso é segredo, a CET não divulga etc.
A visita de George W. Bush a São Paulo tornou-se uma enorme preocupação para os paulistanos. O maior esquema de segurança já montado para um presidente, um esquema de segurança que obriga toda uma metrópole a se adaptar.
O risco que Bush corria no Brasil parece claramente desproporcional ao esquema de segurança. Mas, sob certo aspecto, é muito conveniente para a viagem de um "imperador". Tudo pára para vossa majestade.
Antes que conveniente segurança, a circulação em veículos pela cidade, e não em helicóptero, é uma demonstração de força. Não adianta argumentar que ele viaja apenas no helicóptero oficial -a Força Aérea dos EUA certamente poderia embarcar num avião cargueiro um helicóptero especialmente preparado para viagens internacionais de um presidente e fazê-lo pousar em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro ou Brasília. Poderia mandar caças para escoltá-lo. Há, houve e sempre haverá alternativas mais simples e talvez mais econômicas que a adotada pelo cerimonial e pela segurança de Bush.
Mas, aí, a visita de Bush seria igual à de qualquer outro chefe de Estado. O povo, na rua, talvez nem tomasse muito conhecimento dela. Agora, todos sabem que Bush está aqui. E que veio conhecer o nosso etanol. E lembrar, ao mesmo tempo, aos habitantes da maior cidade do país quem é quem no jogo político internacional.
Essa demonstração de força, dialeticamente, é também uma demonstração de fraqueza. Certa vez, entrevistando um professor de filosofia da USP, já há alguns anos, ele comentou como o chanceler alemão Helmut Kohl circulava, sem um aparato de segurança evidente, entre as pessoas nos festejos dos 200 anos da Revolução Francesa (ou num evento similar, já não tenho certeza). Algo que, já na época da nossa conversa, era impensável.
Isso é uma fraqueza do poder, uma fraqueza do maior poder do mundo: uma derrota ideológica, no sentido grande do termo. Seu poder já não se sustenta no consenso, mas apenas na demonstração de força. O poder hoje, e Bush é apenas o símbolo máximo disto, parece poder apenas ser temido para permanecer como tal, parece já ter não a opção de ser amado.
Tirando o almoço oferecido por Lula, Bush só comeu o que veio dos Estados Unidos (comida congelada, enlatada ou in natura?), e pediram que a Laura Bush não fosse oferecido nem um cafezinho numa das visitas planejadas.
Privações a que nem todos se sujeitam. Indo provar hoje pela manhã, no Largo São Bento, o bolo Paschoalis que os monges beneditinos criaram especialmente para a visita do papa (à venda por R$ 38 a unidade; fui de metrô, porque o Minhocão estava fechado), fica claro como Bento XVI, apesar de protegido por outras tantas preocupações de segurança, terá momentos de prazer em São Paulo que a Bush não foram, pelo menos em tese, permitidos.
Haroldo Ceravolo Sereza - UOL
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