O LIVREIRO BEST SELLER
Dono da Livraria Cultura, o paulistano Pedro Herz inaugura no Conjunto Nacional uma loja de 4300 metros quadrados, a maior do país. Com 2 milhões de títulos no acervo e planos de abrir três novas unidades até 2008, ele segue rumo ao topo dos negócios no mercado das letras
Pedro Herz, na cobertura do prédio onde mora, no centro: "O livro precisa ser bem interessante para concorrer com essa vista"
Morador do último andar de um edifício no centro, o livreiro Pedro Herz vê São Paulo a seus pés, a 115 metros de altura. A viagem ao apartamento, localizado no 32º andar, é tão longa (cerca de um minuto e meio) que um amigo dele já sugeriu que deveriam servir um lanche no elevador. Herz está habituado a observar a cidade ainda mais do alto. Há seis anos ele pilota um helicóptero modelo Robinson 44 em passeios de fim de semana a destinos como Monte Verde e Parati. "Chego a subir a 8 000 pés (aproximadamente 2 400 metros)", conta o empresário, que agora busca o topo também nos negócios.
Pedro Herz, na cobertura do prédio onde mora, no centro: "O livro precisa ser bem interessante para concorrer com essa vista"
Morador do último andar de um edifício no centro, o livreiro Pedro Herz vê São Paulo a seus pés, a 115 metros de altura. A viagem ao apartamento, localizado no 32º andar, é tão longa (cerca de um minuto e meio) que um amigo dele já sugeriu que deveriam servir um lanche no elevador. Herz está habituado a observar a cidade ainda mais do alto. Há seis anos ele pilota um helicóptero modelo Robinson 44 em passeios de fim de semana a destinos como Monte Verde e Parati. "Chego a subir a 8 000 pés (aproximadamente 2 400 metros)", conta o empresário, que agora busca o topo também nos negócios.
A Livraria Cultura, uma empresa familiar comandada por ele desde 1969, será a partir desta segunda-feira (21) a maior do país, tanto em tamanho quanto em oferta de produtos. As quatro lojas que hoje ocupam o Conjunto Nacional serão transferidas para outro espaço no mesmo endereço, com 4 300 metros quadrados (três vezes mais que o somatório das unidades prestes a fechar as portas). No ambiente onde por quarenta anos funcionou o Cine Astor, desativado em 2001, estarão disponíveis mais de 150 000 títulos de livros nas prateleiras (há 2 milhões em catálogo) e 35 000 CDs e DVDs. O acervo é mais variado que o de sua principal concorrente, a Fnac.
Pela primeira vez desde sua fundação, sessenta anos atrás, uma loja da Cultura vai contar com um confortável teatro de 166 lugares, dirigido pelo ator Dan Stulbach. "Além de selecionar as peças da programação, vou organizar cursos e, futuramente, montar uma companhia ligada ao espaço", diz ele. Outra novidade é o V. Café, criado especialmente pelo grupo Viena para o novo ponto.
Depois de hesitar por anos em se tornar superlativa, a Cultura finalmente assumiu o rótulo de megastore em 2000, quando abriu a unidade do Shopping Villa-Lobos. Agora, como batizou Herz, se torna uma gigastore. Em meados dos anos 90, quando as megastores se popularizavam, o dono da Cultura costumava se referir a esse modelo de negócio como "supermercado de livros". Foi por influência dos filhos, Sergio, de 35 anos, e Fábio, de 33, há mais de dez anos trabalhando com ele, que o livreiro se tornou simpático à idéia de abrir espaço para CDs e DVDs. "Afinal, são igualmente produtos culturais, parceiros dos livros", explica. Os filhos também o convenceram a crescer para além das estantes do Conjunto Nacional. Não que Herz, de 66 anos, fosse avesso a modernidades. Pelo contrário: a Cultura tornou-se a pioneira, em 1995, nas vendas pela internet – hoje recebe cerca de 1 500 pedidos por dia, com uma média de 110 reais por encomenda. As restrições às mudanças apoiavam-se mais na preocupação em preservar as características que fizeram da livraria a preferida dos intelectuais paulistanos, como o clima intimista das lojas e o atendimento personalizado. Seus balconistas são famosos por procurar títulos do alemão Nietzsche ou do russo Dostoievski sem precisar pedir ao cliente para soletrar o nome dos autores. A exigência quanto ao nível de conhecimento dos vendedores é tamanha que os candidatos a trabalhar lá passam por um concorrido vestibular, com perguntas formuladas pelos próprios funcionários da empresa. "Quando inauguramos a loja do Shopping Market Place, no ano passado, houve mais de 4 000 inscrições para 100 vagas", conta o livreiro. "E mesmo assim tivemos dificuldade em preenchê-las."
Depois de hesitar por anos em se tornar superlativa, a Cultura finalmente assumiu o rótulo de megastore em 2000, quando abriu a unidade do Shopping Villa-Lobos. Agora, como batizou Herz, se torna uma gigastore. Em meados dos anos 90, quando as megastores se popularizavam, o dono da Cultura costumava se referir a esse modelo de negócio como "supermercado de livros". Foi por influência dos filhos, Sergio, de 35 anos, e Fábio, de 33, há mais de dez anos trabalhando com ele, que o livreiro se tornou simpático à idéia de abrir espaço para CDs e DVDs. "Afinal, são igualmente produtos culturais, parceiros dos livros", explica. Os filhos também o convenceram a crescer para além das estantes do Conjunto Nacional. Não que Herz, de 66 anos, fosse avesso a modernidades. Pelo contrário: a Cultura tornou-se a pioneira, em 1995, nas vendas pela internet – hoje recebe cerca de 1 500 pedidos por dia, com uma média de 110 reais por encomenda. As restrições às mudanças apoiavam-se mais na preocupação em preservar as características que fizeram da livraria a preferida dos intelectuais paulistanos, como o clima intimista das lojas e o atendimento personalizado. Seus balconistas são famosos por procurar títulos do alemão Nietzsche ou do russo Dostoievski sem precisar pedir ao cliente para soletrar o nome dos autores. A exigência quanto ao nível de conhecimento dos vendedores é tamanha que os candidatos a trabalhar lá passam por um concorrido vestibular, com perguntas formuladas pelos próprios funcionários da empresa. "Quando inauguramos a loja do Shopping Market Place, no ano passado, houve mais de 4 000 inscrições para 100 vagas", conta o livreiro. "E mesmo assim tivemos dificuldade em preenchê-las."
Por causa disso, e por estar decidido a levar adiante o projeto de expansão da rede, Herz já fala em ser mais flexível no processo de seleção. "Podemos ajudar os bons candidatos a adquirir conhecimento."
Nos últimos sete anos, a Cultura abriu cinco filiais. Duas em São Paulo e mais as unidades de Brasília, Recife e Porto Alegre. Juntas, elas faturaram 154 milhões de reais em 2006.
O namoro da Cultura com a intelectualidade paulistana ficou firme nos anos 90, quando a livraria passou a ser ponto de encontro, nas manhãs de sábado, de personalidades como os escritores Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey, Ivan Angelo e Mário Chamie, além do jurista Ives Gandra Martins. "Um dia o Pedro colocou umas mesinhas do lado de fora e o Ives comprou umas coxinhas no bar da frente", conta Loyola. "No fim de semana seguinte cada um trouxe seu uísque, e a coisa foi ganhando ares de tradição." Herz passou a guardar em seu escritório as garrafas etiquetadas dos clientes, que a essa altura já consumiam livros no esquema "pendura". As despesas eram anotadas num caderninho e cobradas no fim do mês, como num botequim. E não havia perigo de o freguês desaparecer sem pagar a conta. Além dos encontros aos sábados, desde os anos 70 eram realizadas ali longas e concorridas sessões de autógrafos, ainda hoje uma marca da Cultura. A de Fernando Gabeira, em 1979, quando lançou O que É Isso, Companheiro?, levou tanta gente ao Conjunto Nacional que houve um engarrafamento humano no saguão. "O Pedro é bom de papo e sempre teve uma personalidade gregária", diz o psicoterapeuta Flávio Gikovate, cliente há trinta anos e amigo de Herz há dez. "Naturalmente ele reúne pessoas em torno de si."
Esse clima de ação entre amigos está na origem da livraria. A Cultura nasceu quando a imigrante alemã Eva, mãe de Herz, começou a alugar aos membros da colônia germânica no Brasil dez volumes publicados em sua língua natal que ela trouxera na mala quando veio para cá, em 1938, fugida do nazismo, ao lado do marido, Kurt Herz. Ambos eram judeus. Para ajudar Kurt, que trabalhava como representante comercial, Eva começou, em 1947, a emprestar livros em troca de dinheiro. Os dois filhos, Pedro e Joaquim, cresceram entre os volumes, que iam se multiplicando na casa em que moravam, na Alameda Lorena, à medida que os negócios ganhavam força. Os dois irmãos nunca se deram muito bem. Joaquim, que é três anos mais novo, não tem participação na empresa. "Fizemos um acerto em família em 1973", conta Pedro Herz. "Joaquim ficou com uma livraria que havíamos aberto na Rua Turiassu e eu com a Cultura." A Livraria Turiassu sobreviveu até 2001. Pedro e Joaquim não se falam desde a morte de Eva, em 2002.
O namoro da Cultura com a intelectualidade paulistana ficou firme nos anos 90, quando a livraria passou a ser ponto de encontro, nas manhãs de sábado, de personalidades como os escritores Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey, Ivan Angelo e Mário Chamie, além do jurista Ives Gandra Martins. "Um dia o Pedro colocou umas mesinhas do lado de fora e o Ives comprou umas coxinhas no bar da frente", conta Loyola. "No fim de semana seguinte cada um trouxe seu uísque, e a coisa foi ganhando ares de tradição." Herz passou a guardar em seu escritório as garrafas etiquetadas dos clientes, que a essa altura já consumiam livros no esquema "pendura". As despesas eram anotadas num caderninho e cobradas no fim do mês, como num botequim. E não havia perigo de o freguês desaparecer sem pagar a conta. Além dos encontros aos sábados, desde os anos 70 eram realizadas ali longas e concorridas sessões de autógrafos, ainda hoje uma marca da Cultura. A de Fernando Gabeira, em 1979, quando lançou O que É Isso, Companheiro?, levou tanta gente ao Conjunto Nacional que houve um engarrafamento humano no saguão. "O Pedro é bom de papo e sempre teve uma personalidade gregária", diz o psicoterapeuta Flávio Gikovate, cliente há trinta anos e amigo de Herz há dez. "Naturalmente ele reúne pessoas em torno de si."
Esse clima de ação entre amigos está na origem da livraria. A Cultura nasceu quando a imigrante alemã Eva, mãe de Herz, começou a alugar aos membros da colônia germânica no Brasil dez volumes publicados em sua língua natal que ela trouxera na mala quando veio para cá, em 1938, fugida do nazismo, ao lado do marido, Kurt Herz. Ambos eram judeus. Para ajudar Kurt, que trabalhava como representante comercial, Eva começou, em 1947, a emprestar livros em troca de dinheiro. Os dois filhos, Pedro e Joaquim, cresceram entre os volumes, que iam se multiplicando na casa em que moravam, na Alameda Lorena, à medida que os negócios ganhavam força. Os dois irmãos nunca se deram muito bem. Joaquim, que é três anos mais novo, não tem participação na empresa. "Fizemos um acerto em família em 1973", conta Pedro Herz. "Joaquim ficou com uma livraria que havíamos aberto na Rua Turiassu e eu com a Cultura." A Livraria Turiassu sobreviveu até 2001. Pedro e Joaquim não se falam desde a morte de Eva, em 2002.
Revista Vejinha - Sandra Soares
Marcadores: notícia
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial