CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 18-1-10
Emílio Braga. O rival português dos Moleskine
Têm novas cores e padrões, mas o processo de produção é o mesmo há cem anos. Os "galocha" já chegaram a Nova Iorque.
Sem pensar duas vezes, Lucinda Oliveira, 53 anos, passa uma dobradeira de osso de vaca sobre as páginas de um caderno A6. Já não sabe quantas vezes repetiu este gesto. Há 37 anos que trabalha na tipografia da Emílio Braga. A dobradeira acompanha-a desde os primeiros tempos. "Por isso é que já está gasta", explica. "O osso desliza melhor do que a madeira. Mas antes tem de cozer muito tempo na panela de pressão, para ir mirrando."
Lucinda é uma das seis mulheres que produzem à mão cada um dos cadernos que saem da Emílio Braga, perto da Avenida de Roma, em Lisboa. Só o ano passado foram quase 15 mil. Na produção, ainda se usa cola de farinha com água. Uma das máquinas de coser é de 1914. O processo chama-se "encadernação de galocha" - o mesmo que muitos de nós aprenderam nas aulas de Trabalhos Manuais. Daí o nome por que os livros ficaram conhecidos, logo desde 1918, quando Emílio Braga começou a produzi-los: galocha.
O fundador
A primeira papelaria abriu na Rua Nova do Almada, no Chiado. A tipografia ficava na Baixa, na Rua das Pedras Negras. Emílio Braga era, nas palavras da sobrinha-neta, Filipa Spínola, "um homem de gancho, mas brincalhão". Pelo Natal, oferecia sempre meias aos funcionários, lembra, divertida. O pai começara do nada o negócio das papelarias. Ele expandiu-o e começou a produção própria. Chegou a ter quatro lojas e o Grande Hotel das Caldas de Felgueira, em Canas de Senhorim.
Por tradição, o galocha era um caderno comercial: estreito e comprido para as contas de "deve e haver" dos merceeiros; A4 para a contabilidade, livros de ponto, registo de horas suplementares e por aí fora. A aparência é até hoje inconfundível: a capa de papel "chagrin" preto; os cantos e a lombada forrados com algodão vermelho.
Há cinco anos, Filipa, 35 anos, resolveu lavar-lhes a cara. Em 2004, ela e o marido, António Spínola, 40 anos, que até então trabalhara na banca, tinham tomado conta do negócio. Ele tratou de agilizar a produção e pôr ordem nas contas - "os cadernos custavam 30, 40 euros cada. De cada vez que se produziam, mudava o preço", exemplifica - ela lembrou-se de os fazer de várias cores e em papel "agatha". O nome: Peb Colours. "Felizmente, as pessoas voltaram a gostar do que é português e tradicional", diz. Entretanto passaram a produzir uma colecção exclusiva para a loja "A Vida Portuguesa" idealizada pela própria Catarina Portas. Só este Natal venderam 2800.
Novidades
A Emílio Braga acaba de apresentar a nova colecção, com mais seis cores. Estão disponíveis nos formatos A4, A5 e A6, com ou sem elástico (uma inovação introduzida para "responder à concorrência", justificam), e com uma inovação. As folhas são lisas, mas um cartão pautado de um lado e quadriculado do outro torna o caderno versátil. Os preços vão dos €6 aos €15,6.
Desde Setembro que os Peb Colours estão à venda em Nova Iorque, na Kiosk Store. Também se encontram em Itália e em Angola. Por cá o cliente tem uma vantagem, pode encomendá-los à medida, com as cores e padrões que quiser. Depois, é só esperar uns dias. O preço, garantem, é o mesmo.
Papelaria Emílio Braga. Rua Oliveira Martins, 41, Lisboa
Joana Stichini Vilela
Ionline.com
Mogi das Cruzes-SP - Especialistas sugerem restauração de imóvel histórico que pode ser demolido
Notícia publicada pelo MN de que um prédio poderia ser derrubado gerou grande repercussão entre arquitetos e historiadores
A notícia de uma possível demolição do casarão de nº 917 da rua Coronel de Souza Franco, publicada na edição de ontem do Mogi News, comoveu arquitetos, urbanistas e historiadores da cidade. Eles defendem a preservação do prédio de características neoclássicas, uma das construções mais antigas e raras do Brasil, e propõem um acordo entre a Prefeitura e o proprietário do imóvel, o advogado Dauro Paiva.
"Trata-se de um casarão particular, mas que tem extrema importância para a população de Mogi. O estilo neoclássico começou a ser empregado no Brasil em 1910, em prédios públicos e de pessoas nobres, o que indica que muitos comandantes e membros da elite mogiana podem ter morado naquela residência. Lá, deve existir uma história da cidade que poucos conhecem, portanto, tem de ser preservado e vigiado", disse o historiador Mário Sérgio de Moraes.
Ele compara a edificação ao casarão da avenida Paulista onde moraram os barões do café, Francisco Matarazzo, Von Bulow e outros.
O presidente do Colégio de Arquitetos de Mogi, Paulo Pinhal, tem a mesma opinião: "É um prédio muito singular, de detalhes arquitetônicos muito especiais. Se as condições internas do prédio estiverem muito comprometidas, sou a favor de que ao menos a fachada seja preservada", opinou.
O presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes (Comphap), o arquiteto Nelson Bettoi Batalha Netto, acredita num consenso entre o órgão e o dono do imóvel. "Ainda vamos conversar com o proprietário a fim de descobrir quais são as intenções dele com o imóvel. Se realmente o plano dele for demolir, o Comphap poderá propor a desapropriação do imóvel e a utilização do espaço como um bem público. Caso contrário, o Comphap terá de adotar medidas judiciais, que são mais demoradas e vão impedir qualquer tipo de intervenção física do imóvel, podendo prejudicar inclusive o levantamento técnico para o processo de tombamento", explicou.
Parcerias
Ana Maria Sandim, integrante do Comphap e presidente do Conselho Municipal de Cultura, acredita num consenso por meio de parcerias entre a Prefeitura e a iniciativa privada.
"É possível que, por meio de uma lei de incentivo, empresas que atuam na cidade contribuam financeiramente com a restauração do prédio. Seria uma forma de preservar o espaço e os direitos de seu dono", argumentou.
Venda
O dono do casarão, Dauro Paiva, reafirma que está "aberto a negociações". "Já recebi várias propostas de venda do terreno. Há dois anos, antes da Lei de Tombamento, já haviam me oferecido R$ 800 mil e não aceitei. Agora, está difícil de vender por causa da Lei de Tombamento, mas, se a Prefeitura quiser comprar, podemos ter um acordo", disse.
Segundo Ana Maria, o professor Flaviano de Melo Freire viveu no casarão durante a década de 30. O imóvel está incluído no raio de 300 metros do centro histórico (a referência é a Igreja do Carmo), com trâmite de processo de tombamento, portanto, o proprietário precisa de autorização prévia do Comphap.
NOEMIA ALVES
Moginews
José Pedro Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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