CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 2-9-10
Casarões do medo e do perigo
Prédios abandonados na capital são usados para esconderijo de bandidos e consumo de drogas
Paredes em ruínas, tetos desabando, portas e janelas quebradas. Os belos casarões abandonados no centro da capital paraibana vem deixando uma herança maldita não apenas para os filhos de proprietários, que recebem o legado com dívidas de impostos e serviços que muitas vezes ultrapassam o valor de venda dos imóveis, mas também para a população, que testemunha o abandono das edificações, usadas agora como cenário para assassinatos, esconderijo para bandidos e 'boca' de fumo para traficantes e usuários de drogas.
Nas Ruas Monsenhor Walfredo Leal Princesa Isabel casas oferecem risco; Foto :Fabyana Mota/ON/D.A Press
Atualmente, cerca de 90 imóveis abandonados pelos proprietários há décadas são monitorados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep). A partir do levantamento realizado no Centro de João Pessoa, os técnicos do instituto tentaram identificar e entrar em contato com os donos das casas, mas apenas 23 pessoas foram localizados.
De acordo com o assessor técnico da Defesa Civil do município, Lutigard Padilha, muitos proprietários não têm interesse de restaurar ou até mesmo vender os imóveis, que poderão ser tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). "A maioria destes casarões são heranças de família e, no caso de venda, os filhos teriam que dividir o valor. O valor de dívidas de impostos e serviços acumuladas ao longo dos anos, porém, muitas vezes ultrapassa o valor de venda do imóvel e, por isso, os proprietários acabam deixando-os abandonados", revelou.
A beleza arquitetônica das casas se confunde com o ambiente macabro de abandono, com a vegetação invadindo os cômodos e se tornando um ninho para bichos, e, principalmente, para criminosos. Há cerca de dez dias, um adolescente que trabalhava como flanelinha no Parque Solon de Lucena (Lagoa) foi encontrado morto dentro de uma residência abandonada, na Rua Princesa Isabel, no centro da capital. A polícia acredita que o rapaz tenha
De acordo com comerciantes que trabalham próximo ao imóvel, o local é constantemente invadido por adolescentes eadultos, que se reúnem para cheirar cola e consumir bebibas alcóolicas. A casa foi desocupada há cerca de três anos, após a ocorrência de um assalto às três senhoras que moravam lá. O imóvel foi vendido a uma construtora, mas até o momento permanece vazio, tomado apenas pelo mato e sendo usado como ponto para o uso de drogas.
No mês de abril deste ano, um travesti também foi encontrado morto numa casa abandonada no centro da cidade. A vítima foi encontrada nua, com vários hematomas espalhados pelo corpo e uma calcinha amarrada no rosto. Ao lado do corpo, uma latinha de refrigerante que foi usada para o consumo de crack. A perícia comprovou que o homossexual foi espancado e asfixiado até a morte, mas o autor do crime ainda não foi encontrado.
Outro crime bárbaro foi cometido numa casa abandonada, em agosto de 2008. Uma adolescente de 15 anos foi estuprada e estrangulada num imóvel vazio no bairro Jardim Veneza, após sair de casa para tomar um lanche com um amigo. Daniele Araújo de Figueiredo foi encontrada umdia após o crime, com o corpo marcado pelos sinais da violência que sofreu entre as paredes de uma edificação abandonada, sem que pudesse ser socorrida por alguém.
Técnicos da Defesa Civil do município devem realizar uma nova inspeção nos 87 imóveis abandonados que são monitorados pelo Iphaep ainda este ano. "A ação está prevista para acontecer entre os meses de novembro e dezembro e, a partir de agora, o Iphan vai passar a interferir no centro histórico da cidade. Caso os proprietários não sejam encontrados ou o imóvel permaneça abandonado, o órgão poderá usá-lo para outros fins", concluiu Lutigard Padilha.
Priscylla Meira // priscyllameira.pb@dabr.com.br
Nova Orleans vive explosão cultural pós-Katrina
Cidade berço do jazz ganhou novo impulso nos cinco anos que se seguiram à tragédia.
A centenária tradição artística de Nova Orleans, cidade que é conhecida como berço do jazz, ganhou um novo impulso nos cinco anos que se seguiram à tragédia do Katrina.
Quando o furacão devastou a região, em 29 de agosto de 2005, muitos artistas tiveram de abandonar a cidade.
Nos anos que se seguiram, porém, Nova Orleans assistiu à chegada de uma nova geração de artistas, atraídos pela possibilidade de participar do processo de reconstrução - e também pela grande quantia de dinheiro injetada na cidade nos primeiros anos após a tragédia.
"Muitos jovens artistas chegaram à cidade após o Katrina", diz a americana Suzanne Corley, que apresenta um programa semanal de música brasileira em uma rádio local.
Na semana passada, a reportagem da BBC Brasil acompanhou um debate entre jovens artistas plásticos que atuam em Nova Orleans.
Todos relataram que foram atraídos pelo senso de comunidade surgido após o desastre e pela possibilidade de participar do processo de criação de uma cidade que renascia. Havia, ainda, uma profusão de histórias para contar.
Passados cinco anos do Katrina, a maioria dos músicos e outros artistas que deixaram a cidade por causa do furacão já estão de volta. E muitos daqueles que vieram durante a reconstrução acabaram ficando.
Música e cinema
Nas ruas do bairro francês, um dos principais pontos turísticos da cidade, há novamente um músico em cada esquina, e nos bares lotados, moradores e turistas assistem a shows de jazz, blues, rock e até salsa.
Entre os inúmeros projetos habitacionais surgidos após o Katrina, um é o Musicians Village, um bairro criado dentro da região do Upper Ninth Ward especialmente para abrigar músicos e suas famílias.
A renovação cultural da cidade vai além da música. Nova Orleans é hoje um importante pólo cinematográfico nos Estados Unidos, atrás apenas de Los Angeles e Nova York, graças especialmente aos incentivos fiscais oferecidos pelo Estado da Louisiana.
Segundo dados do New Orleans Office of Film & Video, em 2007 foram rodados na cidade 14 grandes projetos cinematográficos, e desde então esse número vem crescendo. Neste ano, já foram 24.
Nova Orleans também ganhou mais importância nos campos das artes plásticas, especialmente a partir da Prospect. 1, bienal realizada em 2008 que trouxe o trabalho de 80 artistas internacionais e chamou a atenção para o setor de artes plásticas da cidade.
Segundo o Arts Council of New Orleans, a cidade tem hoje mais de 160 galerias de arte.
Dificuldades
Apesar da efervescência cultural da cidade, os artistas também enfrentam dificuldades.
Segundo um relatório da ONG Sweet Home New Orleans, que trabalha com a comunidade musical, cerca de dois terços dos músicos da cidade moravam em casas alugadas durante o desastre, e não puderam receber compensação financeira por perdas.
O estudo também revela que, logo após o Katrina, o número de oportunidades de trabalho para os músicos caiu de uma média de 12 para seis shows por mês, situação que persiste até hoje. O cachê recebido também sofreu redução, estimada em 63% nesses cinco anos.
As condições foram agravadas pela recessão e pelo vazamento de petróleo no Golfo do México, que teve um forte impacto econômico na região, diz o relatório.
No entanto, mesmo diante das dificuldades, os artistas tiveram um papel crucial na reconstrução da cidade.
"Cinco anos depois, a música e a cultura de Nova Orleans provaram ser um agente poderoso na renovação da cidade", diz a Sweet Home New Orleans. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
BBC Brasil
São Miguel das Missões proporciona um mergulho no passado com suas ruínas preservadas
Rio - As ruínas de São Miguel são um dos monumentos históricos brasileiros mais importantes. Ficam na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina e foram herdadas pelas missões jesuíticas do século XVII. Sua fachada de pedras avermelhadas ainda se mantém de pé, imponente, rodeada pelo verde de um gramado que tem muita história para contar. Afinal, já se foram três séculos de história.
As missões jesuíticas tinham o objetivo de catequizar os índios, mas, a partir de 1636, acabaram sofrendo diversos ataques dos bandeirantes paulistas que estavam em busca de escravos. Com isso, se mudaram para o outro lado do rio Uruguai, onde permaneceram por algum tempo, retornando ao seu local original e construindo o complexo arquitetônico que vemos atualmente.
O mais incrível foi a construção da igreja. Os blocos de arenito usados para colocá-la de pé percorriam uns 20 km até o local. O processo durou 10 anos. O projeto foi assinado pelo italiano Gian Batista Primolli.
Dentro do sítio arqueológico funciona o Museu das Missões, com acervo de esculturas de santos feitas por índios, que, regularmente, estão em frente ao museu vendendo artesanato. Se a intenção é levar uma lembrança de São Miguel, vale a pena comprar uma das bonitas cestas confeccionadas por eles.
Ao escurecer, o belo espetáculo de luz e som, narrando a história da cidade, encerra o dia com apresentação de quase uma hora. O sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo é o único patrimônio histórico-cultural do Sul do Brasil reconhecido pela Unesco.
O QUE FAZER E VER
REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO Visitação: 9h às 12h e 14h às 18h. Patrimônio Cultural da Humanidade, foi fundada em 1632 pelo Padre Cristóvão de Mendonça, na região do Tape. Porém, os habitantes da vila mudaram-se para a margem ocidental do Rio Uruguai em 1638, quando São Miguel Arcanjo foi novamente fundada, desta vez por jesuítas. Com a assinatura do Tratado de Madri, inicia-se o declínio das missões e reduções. Com a Guerra Cisplatina em 1828, o exército espanhol incorpora-se nas missões, destruindo definitivamente esta pequena civilização. Suas ruínas são um cantinho histórico no Sul do Brasil que merece ser visitado.
ANTIGA IGREJA Sua construção foi iniciada em 1735 e levou 10 anos para ser finalizada. Em estilo barroco, os blocos de granito para sua construção eram levados de uma distância de aproximadamente 20 km. Sua ornamentação interna era bastante colorida e rica, com pinturas e esculturas sacras.
CRUZ MISSIONEIRA A Cruz Missioneira foi trazida para as Américas pelos jesuítas. Foi esculpida pelos índios em uma pedra de arenito. É o maior símbolo de toda a Região Missioneira.
MUSEU DAS MISSÕES Visitação: 9h às 12h e 14h às 18h. Quase 100 imagens refletindo a influência barroca europeia, fundida com os traços indígenas.
SACRISTIA A antiga sacristia da Igreja da Redução de São Miguel Arcanjo foi restaurada em 1983 e possui uma maquete da redução.
COLÉGIO Só quem possuía o direito de estudar naquela época eram os filhos homens dos líderes. As mulheres aprendiam a bordar, costurar e tecer.
OFICINAS Nas oficinas, madeira, metal e barro, entre outros, eram trabalhados para a produção de utensílios para as construções.
QUINTA Ali eram plantados vegetais vindos da Europa e plantas para fins domésticos. Todo o trabalho era supervisionado pelos jesuítas.
CEMITÉRIO Naquela época, os mortos eram separados por sexo e a idade do falecimento. As alas eram separadas por masculinas e femininas.
PRAÇA Local público onde todos se reuniam periodicamente. Ali ocorriam as festividades, os cortejos e os desfiles.
COTIGUAÇU Era uma grande casa, onde habitavam as viúvas e os órfãos. Naquela época, não era bem visto uma viúva casar-se novamente.
FONTE MISSIONEIRA 9h às 12h e 14h às 19h. A fonte foi descoberta em 1982 e está localizada a 1 km do Sítio Arqueológico.
ESPETÁCULO LUZ E SOM - R$ 5. Funcionamento: checar pelo tel.: (55) 3381-1294. O espetáculo narra a história de jesuítas e índios entre os séculos XVII e XVIII.
FAZENDA DO PRESENTE Área verde para a prática do turismo rural, muito comum no Rio Grande do Sul. Possui área para camping. Lá também está o Barreiro Missionário, local onde os índios guaranis amassavam o barro para a fabricação de telhas de cerâmica para as casas.
ALDEIA GUARANI A aldeia indígena Tekoa Koenju (Aldeia Alvorecer) fica num espaço adquirido pelo governo para o assentamento dos indígenas, que produzem artesanato belíssimo, vendido diariamente em São Miguel.
O Dia Online
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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