FAXINEIRO CRIA BBB EM SUA CASA
Versão acontece em Sabará (MG) com oito participantes e sete câmeras; TV fixada no muro e voltada para rua mostra tudo
No "Muro Brother Brasil", "paredão" é "murão", o confessionário é o banheiro e a turma é eliminada com batidas na porta da casa
Em Sabará, cidade de cerca de 130 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, todo mundo já sabe: "dar uma espiadinha" significa bem mais do que assistir, na Globo, às intrigas e azarações de uma turma que está a 450 km dali, na casa carioca do "Big Brother Brasil". Para dar vazão ao voyeurismo, basta andar alguns quarteirões e acomodar-se diante da casa de Francisco Dario dos Santos, 33, o Chiquinho, onde o próprio comanda o "Muro Brother Brasil", com oito participantes (todos parentes dele, com exceção do cachorro Duque) disputando a preferência de uma audiência que escolhe o eliminado da vez pelo número de batidas na porta -em que, aliás, um furo permite olhadelas generosas no cotidiano dos competidores. Os conchavos e complôs, diz Chiquinho, são exibidos "quase todo dia", em uma TV de 14 polegadas colocada num buraco do muro e virada para a rua.
No "Muro Brother Brasil", "paredão" é "murão", o confessionário é o banheiro e a turma é eliminada com batidas na porta da casa
Em Sabará, cidade de cerca de 130 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, todo mundo já sabe: "dar uma espiadinha" significa bem mais do que assistir, na Globo, às intrigas e azarações de uma turma que está a 450 km dali, na casa carioca do "Big Brother Brasil". Para dar vazão ao voyeurismo, basta andar alguns quarteirões e acomodar-se diante da casa de Francisco Dario dos Santos, 33, o Chiquinho, onde o próprio comanda o "Muro Brother Brasil", com oito participantes (todos parentes dele, com exceção do cachorro Duque) disputando a preferência de uma audiência que escolhe o eliminado da vez pelo número de batidas na porta -em que, aliás, um furo permite olhadelas generosas no cotidiano dos competidores. Os conchavos e complôs, diz Chiquinho, são exibidos "quase todo dia", em uma TV de 14 polegadas colocada num buraco do muro e virada para a rua.
Faxineiro da prefeitura, onde recebe um salário mínimo, Chiquinho decidiu criar a versão caseira do "reality show" depois de mandar fitas para as sete edições oficiais já realizadas e receber uma negativa atrás da outra. "Não quero ficar rico, mas famoso. Meu sonho é ser apresentador de TV", diz, explicando a insistência. A obstinação o segue pelo menos desde 17 de janeiro de 1997, quando flagrou um sujeito em ebulição intestinal acocorado atrás de uma igreja, no que seria a transmissão inaugural da TV Muro. De lá para cá, o Murojac (corruptela do Projac global) já produziu atrações como o jornal esportivo "Muro Espetacular" e a revista gastronômica "A Hora da Janta".
O "Muro Brother Brasil", no ar há nove dias, é o carro-chefe das comemorações dos dez anos do canal. Na disputa por uma cesta básica, estão, além do cão Duque, Tayná, 11, Taís, 8, e Sandy, 7, enteadas de Chiquinho; a mãe, Maria da Piedade, 68; a irmã dele, Maria de Fátima, 48; a sobrinha Fabrícia, 17; e a cunhada Jucélia, 16. Chiquinho Mial
No "murão" da última quarta-feira, quem deixou a competição foi Maria de Fátima, a Risadinha, que, dois dias antes, dissera à Folha se achar parecida com a DJ paranaense Analy, do "BBB7", "por causa do jeito comunicativo" -a reportagem pôde comprovar.
A eliminação rendeu pico de audiência de 28 pessoas na porta da casa, segundo aferiu, pelo buraco do portão, a matriarca e "guardiã" (versão para o "anjo" do "BBB") vitalícia Maria da Piedade. A interação do público com o "Muro Brother" vai além das batidas na porta: a "câmera do povo", encarapitada no telhado, grava perguntas dos espectadores para os confinados. As respostas são exibidas na TV Muro. Se não forem satisfatórias, há sempre a possibilidade de inquirir os participantes cara a cara, pelas ruas da cidade, já que o isolamento é parcial: a criançada vai à escola, e os adultos trabalham. À noite, entretanto, todos devem se recolher ao número 299 da rua São Francisco, uma antiga (e, reza a lenda, assombrada) fábrica de caixões, para cumprir as tarefas ditadas por Chiquinho Mial (o Bial das alterosas), desabafar e lavar a roupa suja no confessionário, leia-se, banheiro.
A lista de regras inclui imunidade tripla para a ala mirim (ou seja, as crianças têm que ser votadas quatro vezes para sair) e proibição de álcool, cigarro e palavrão na casa. Quem perder a linha está fora.
Se a rotina doméstica ficar monótona, Chiquinho sabe como afastar o marasmo. "Haverá filmagens externas: na missa e na "pelada" de rua." Os passos do grupo serão seguidos por uma engenhoca chamada "bike link" .
A gincana termina junto com o "BBB", ou seja, daqui a mais de um mês.
Lucas Neves, Folha Ilustrada
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