ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

25 junho, 2007

O FIM DO LIVRO FOI ADIADO

Até onde os observadores das questões literárias conseguem se lembrar, sempre houve previsões sobre o fim do livro. O rádio suplantará a leitura. Os filmes suplantarão a leitura. A televisão suplantará a leitura. Os videogames suplantarão a leitura. E agora nos dizem que a própria tecnologia irá se tornar redundante.
Todos os tipos de inovações - CD-ROMS, a Internet e leitores de livros eletrônicos - foram apontados como substitutos da impressão em papel. No entanto, o livro resistiu bravamente a tais novidades.
As vendas continuam aumentando. Alguns - a série Harry Potter, memórias de celebridades, certas seleções de clubes de livros - estão vendendo em quantidade recorde. Até mesmo a ficção literária, aquele gênero aparentemente fora de moda e elitista, continua encontrando grandes nichos entre os leitores. O que chama menos atenção é o livro como fonte de informação. Nesta área a tecnologia está provocando um grande impacto sobre os tradicionais modelos editoriais. As vendas de dicionários e guias de usuários em inglês caíram 40% nos últimos quatro anos. E os mapas, atlas e enciclopédias também não estão vendendo bem. Em uma região ainda menos charmosas da indústria editorial, aquela de publicações científicas e profissionais, a revolução tecnológica já chegou.
A Reed Elsevier, uma grande editora especializada em publicações dirigidas para usuários profissionais, fez no ano passado vendas eletrônicas no valor total de US$ 3,7 bilhões. É fácil perceber que as publicações de referência e profissionais são adequadas aos meios eletrônicos, mas que os best-sellers de ficção não o são - ou pelo menos não são adequados aos meios eletrônicos inventados até o momento. No ano passado, em meio a grande alvoroço, a Sony lançou o Reader, o mais sofisticado aparelho eletrônico de leitura já produzido. Ele traz algo chamado "E Ink", que força menos os olhos do leitor do que as telas luminosas normais. O aparelho é capaz de armazenar centenas de livros, e a sua bateria dura muito tempo. Mas os especialistas que fizeram testes preliminares com o produto reclamaram da falta de recursos de busca e das dificuldades para lidar com a Connect, a loja online de livros eletrônicos da Sony. As vendas têm sido modestas.
No momento em que escrevo este artigo, há boatos de que a Amazon está prestes a lançar o seu próprio leitor eletrônico, o Kindle. Mas, assim como ocorre com o aparelho da Sony, ninguém está esperando que a máquina da Amazon seja um sucesso de vendas. Esses aparelhos se tornarão mais sofisticados e desejáveis, e não se deve subestimar a possibilidade de que os leitores do futuro achem natural ler livros em uma tela. No Japão, há autores especializados em obras de ficção para serem lidas em telefones celulares.
Um romance, "What the Angel Gave Me" ("O Que o Anjo me Deu"), de autoria de alguém que escreve sob o pseudônimo "Chaco", registrou mais de um milhão de downloads. No entanto, é provável que tais projetos permaneçam fora do universo editorial comum por algum tempo. Embora a tecnologia ainda não esteja transformando os nossos hábitos de leitura, ela está modificando a indústria que satisfaz esses hábitos. O fenômeno mais óbvio tem sido o aumento das vendas de livros pela Internet.
No Reino Unido, por exemplo, a Amazon responde atualmente por 10% de todos os livros vendidos. Juntamente com os supermercados - que acusaram um aumento da venda de livros de 70% nos últimos quatro anos, as vendas pela Internet provocaram a queda dos lucros das redes de livrarias e das livrarias independentes.
E, com relação aos supermercados, eles contribuíram para uma cultura de descontos que criou um abismo entre os best-sellers e os chamados "títulos intermediários", que mal conseguem ser notados. As grandes vendas geradas por esses títulos com descontos intensificaram a competição para adquiri-los e vendê-los. Isso resultou em uma conglomeração, o que, por sua vez, intensificou ainda mais a competição. Agora somente as grandes editoras conseguem arcar com os adiantamentos exigidos por esses livros, e com os orçamentos para fazer propaganda dessas obras. E apenas as maiores redes de lojas conseguem fornecer os descontos atualmente esperados pelo mercado. Essas lojas são a Amazon e as redes de supermercados. Mas a maioria das tendências na indústria editorial é acompanhada por tendências contrapostas. À medida que os conglomerados aumentam de tamanho, surge um novo otimismo entre editoras independentes, que acreditam ser capazes de oferecer obras distintas que as gigantes do setor, com a sua concentração no mercado de massa, deixam de perceber. E embora várias livrarias independentes tenham falido, muitas outras estão otimistas. A tecnologia é responsável por outra tendência oposta. Enquanto os custos de publicação de livros escritos por celebridades aumentam, caem as despesas necessárias para simplesmente tornar um livro disponível ao leitor. Antigamente, autores ambiciosos que não conseguiam fechar um acordo editorial tinham que pagar uma taxa de US$ 11 mil às editoras. Agora eles podem publicar os seus textos no Lulu Website de graça. Graças à tecnologia digital, a impressão e a montagem dos livros também ficaram mais baratas.
Websites como o MySpace e o YouTube oferecem novas formas de fazer promoções baratas - conforme as grandes editoras estão descobrindo.
A forma mais popular de auto-edição é feita, naturalmente, através dos weblogs. Os blogs são desprezados com freqüência como sendo apenas mais uma maneira de os autores não ganharem dinheiro, mas eles podem levar a contratos editoriais convencionais. Porém, o mais significante são os seus efeitos sobre a cultura literária e outras formas de comentários na Web - as revisões feitas por leitores no site da Amazon, por exemplo. O discurso cultural não é mais determinado por um pequeno grupo de críticos e autores profissionais que escrevem para jornais e periódicos. Outros agentes estão exercendo uma influência nesse processo. A digitalização de textos é a tendência mais revolucionária no universo editorial - mas não particularmente porque ela permite que os textos sejam lidos nas telas.
No momento, os novos livros estão todos sendo impressos em papel, montados no formato tradicional, remetidos para depósitos e enviados destes para as livrarias - e muito provavelmente remetidos de volta para serem reciclados. É um negócio baseado no desperdício, mas até o momento foi a única maneira de garantir a variedade que mantém a indústria de livros saudável. Este quadro está fadado a mudar.
Tecnologias geradas pela Internet e baseadas na impressão segundo a demanda em breve atingirão um grau de excelência que possibilitará aos leitores encomendar livros impressos especialmente para eles, e recebê-los em uma questão de minutos enquanto aguardam em uma livraria. Tais avanços tecnológicos poderão liquidar vastas redes de livrarias - que já estão lutando para sobreviver. Os leitores perderão a chance de vasculhar as estantes de livros, folheando-os antes de comprá-los.
Mas ganharão acesso a uma variedade de livros maior do que já esteve disponível em qualquer outra época. A chegada da tecnologia de impressão por demanda, e, em menor grau, do livro eletrônico, significa que o controle do conteúdo digital será o principal campo de batalha editorial do futuro.
As editoras sabem o que aconteceu com as gravadoras tão logo tornou-se prático distribuir música eletronicamente. Elas estão ansiosas para evitar o mesmo destino. Muitas estão tomando ações antecipadas: a Bloomsbury, a editora com sede em Londres, já deu início à criação de um depósito digital, assim como a HarperCollins e a Random House (que reservou uma verba de quase US$ 10 milhões para este fim). Mas eles encaram um potencial rival no Google, que está engajado em um projeto não menos ambicioso de tornar todas as informações do mundo disponíveis no ciberespaço. Os próximos anos não serão fáceis para a indústria de livros. Várias editoras ainda precisam descobrir como ganharão dinheiro com o fornecimento de informações online, e como se adaptarão à distribuição das suas obras mais populares pela Internet.
A garantia dos direitos autorais nesta nova era é outro desafio. Os vendedores de livros já estão descobrindo que as mudanças provocadas pela tecnologia não mais permitirão a existência de grandes livrarias nas quais os títulos que demoram a vender ocupam a maior parte do espaço físico. Mas a tecnologia não desafiou o livro em si; ela o promoveu.
Para o livro, o futuro é brilhante.

Nicholas Clee é ex-editor da "The Bookseller", uma revista britânica especializada na indústria de livros

Tradução: UOL

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