ENTRESSEIO

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28 abril, 2008

PARA CRÍTICOS, JOÃO GILBERTO, QUE VOLTA A FAZER SHOW NO BRASIL, AINDA É INSUPERÁVEL

SÃO PAULO - Nos 50 anos da bossa nova, apenas um nome faltava para completar as comemorações que se espalham pelo país. O cantor e violonista João Gilberto confirmou oito apresentações para este ano, a partir de junho, para celebrar o gênero que ajudou a fundar, com seu cantar meio falado, meio baixinho, e seu jeito novo de tocar violão.
"João Gilberto não dá um show, dá um recital", diz Zuza Homem de Mello, crítico e historiador de música, explicando que o artista baiano de 76 anos está longe das parafernálias que os artistas usam em suas apresentações.
De fato, basta um banquinho e um violão, praticamente sinônimos de bossa nova, para o cenário de um "recital" de João Gilberto.
"Ele prescinde de tudo o que é efeito. Prescinde de tudo o que é necessário para mascarar a essência do espetáculo que é a música propriamente dita", continua Zuza, autor de "Folha Explica João Gilberto", em entrevista à Reuters.
O deslumbramento de suas platéias sempre lotadas vem em grande parte das sutilezas e detalhes com que ele cria e recria, de forma obsessiva, canções que o acompanharam por toda sua carreira -- como "Doralice", "Corcovado", "Insensatez", "O Pato", "Samba de uma Nota Só".
"Agora, isso só é percebido por quem está prestando completa atenção na apresentação dele ou no disco", disse. "Se não, a pessoa acha que é a mesma coisa. É sutil."
O primeiro show do ano será em 22 de junho no Carnegie Hall, em Nova York.
Depois, se apresenta nos dias 14 e 15 de agosto no Auditório Ibirapuera, em São Paulo; dia 24 de agosto, no Theatro Municipal do Rio; e dia 5 de setembro, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Haverá ainda três shows no Japão.
MELHOR NOTÍCIA DO ANO
Para o crítico e produtor Nelson Motta, o anúncio dos shows "é a melhor notícia para a música brasileira neste ano".
"Ele é um grande mestre, continua insuperável. Nesse gênero que ele inventou, ele é único, nunca houve nada melhor", disse Motta, autor de "Noites Tropicais".
Apesar das diversas contribuições para o gênero que refinou a música popular brasileira, incluindo o maestro Tom Jobim e o poeta Vinicius de Moraes, nada superou a "grande novidade" que João Gilberto trouxe com seu samba sincopado no violão e jeito único de cantar.
"Ele inventou um novo gênero musical. Não existe bossa nova sem a batida de violão do João Gilberto. Ele criou todo um mundo de possibilidades musicais", disse Motta.
Para o especialista, a prova da genialidade de João Gilberto está nas regravações dos sucessos "Chega de Saudade" e "Desafinado" que ele fez em seu último disco de estúdio, "João Voz e Violão" (2000), que seriam muito superiores às suas primeiras versões, "sob todos os aspectos, incluindo voz".
A fama de gênio vem junto com a de excêntrico. É perfeccionista nas gravações e shows, além de viver recluso no Rio de Janeiro, sem nunca dar entrevistas ou frequentar a cena musical da cidade. É como um ermitão, nas palavras de Zuza.
SEMPRE VANGUARDA
Embora solitário, João Gilberto mantém contato com os amigos por telefone, "e está perfeitamente ciente de tudo o que acontece, lê jornal, vê TV", contou Motta.
Ambos os críticos são unânimes em elogiar também sua personalidade. Um doce de pessoa, gentil e delicado, segundo Zuza. Educado e divertido, para Motta.
"O João Gilberto é uma das maiores celebridades da música no mundo que não tem a menor nesga de comportamento de celebridade. Ele vive monasticamente", disse Zuza.
O ano de 1958 é considerado o marco inicial da bossa nova com o lançamento de discos fundamentais. Começava ali um movimento que consagria toda uma geração de músicos brasileiros, como Nara Leão, Carlos Lyra, Luizinho Eça, João Donato, Roberto Menescal, Baden Powell, etc.
Foi naquele ano que Gilberto lançou dois compactos que inauguraram o movimento -- "Chega de Saudade"/"Bim Bom" e "Desafinado"/"Oba-la-lá" -- assim como o álbum "Canção do Amor Demais", com músicas de Jobim e Vinicius interpretadas por Elizeth Cardoso, que também trazia duas faixas com o violão de João.
E, mesmo com 50 anos, os críticos acreditam que a bossa nova segue viva e ainda "emblema da música brasileira no exterior", segundo Zuza.
"A vanguarda não envelhece", explicou o historiador, fazendo comparação com outros movimentos e artistas, como Mozart e Picasso.
"O que é vanguarda naquele momento não deixa de ser vanguarda agora. O que deixa de ser é o que efetivamente não foi."
Fernanda Ezabella
Reuters

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