CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 31-3-10
Babilônia será preservada e se tornará atração turística
Grupo internacional lançou projeto para tentar conservar monumento no Iraque
Bagdá, Iraque. A Babilônia, que abrigou uma das Sete Maravilhas do mundo antigo, fica onde hoje é o Iraque. E a ameaça mais imediata à preservação das suas ruínas é a água, que está encharcando o solo e destruindo o que sobrou de uma grande cidade dos tempos do rei Nabucodonossor II.A água também é uma das ameaças mais antigas. O próprio rei enfrentou problemas de água 2.600 anos atrás. Negligência, reconstrução mal feita e saques de guerra também contribuíram para a destruição. Entretanto, arqueólogos e especialistas em preservação de relíquias culturais dizem que nada de substancial deve ser feito no local até que o problema do vazamento de água seja solucionado.
Um estudo atual, conhecido como "Futuro da Babilônia", documenta os danos causados pela água associada principalmente ao rio Eufrates e aos sistemas de irrigação das redondezas. O solo está saturado logo abaixo da superfície em locais como o Portão de Ishtar e os já extintos Jardins Suspensos, uma das Sete Maravilhas. Os tijolos estão se despedaçando, e os templos, desmoronando. A Torre de Babel, há muito tempo reduzida a entulhos, está cercada por água parada.
Líderes do projeto internacional, descrevendo suas descobertas em entrevistas e em um congresso realizado neste mês em Nova York, disseram que qualquer plano para retransformar a Babilônia em uma atração turística e um lugar para pesquisa arqueológica precisa incluir o controle da água como "a prioridade mais alta".
O estudo, realizado com a intenção de desenvolver um plano piloto para a cidade antiga, foi iniciado no ano passado pelo Fundo de Monumentos Mundiais em colaboração com o Quadro de Antiguidade e Patrimônio do Iraque. Uma concessão de US$ 700 mil feita pelo departamento de Estado norte-americano está financiando os dois anos iniciais de estudo e um plano preliminar de gerenciamento. Segundo um oficial do fundo de monumentos, todo esse projeto pode durar entre cinco e seis anos.
"Esse é, sem dúvida, o programa mais complexo que tive que organizar", disse Bonnie Burnham, presidente do fundo.
Contratempo. Alguns arqueólogos demonstraram preocupação sobre a lentidão do projeto em seu início. Membros do projeto alegaram ter tido problemas graves em convencer especialistas estrangeiros a irem ao Iraque e legalizarem sua documentação e equipamentos para trabalhar no país.
Além do desgaste provocado pelo tempo, do qual todas ruínas da antiguidade são vítimas, a Babilônia sofreu depredações em sua história recente. Arqueólogos alemães que fizeram o primeiro estudo cuidadoso sobre o local, antes da Primeira Guerra Mundial, reconheceram águas desviadas de um afluente do Eufrates para irrigação a 80 km de Bagdá. McGuire Gibson, especialista em arqueologia mesopotâmica, concordou que a água é um "problema grave". Segundo ele, o problema piorou nos últimos anos quando um lago e um canal foram criados como parte de uma campanha para atrair turistas.
O próprio Nabucodonossor lidou com problema de água canalizando diretamente do rio para construções elevadas no topo das antigas ruínas.
Local sofre há muito tempo
Local sofre há muito tempo
Danos. Rachadura em muro próximo a onde ficava o Portão de Ishtar, que hoje está em Berlim
Bagdá. Os primeiros pesquisadores alemães a estudarem a Babilônia, comandados por Robert Koldewey, relataram a descoberta de danos extensivos pela água em estruturas de tijolo de barro. Eles também disseram que houve a criação de campos agrícolas e vilas dentro dos limites da cidade original.
As pessoas saquearam tijolos e pedras, não deixando quase nada da grande zigurate, conhecida a partir do historiador Heródoto e da Bíblia como Torre de Babel. Os próprios alemães levaram o Portão de Ishtar para um museu em Berlim.
Então, nas décadas de 70 e 80, o executado presidente iraquiano Saddam Hussein, alegando ser herdeiro da grandeza de Nabucodonossor, mandou construir seu palácio na Babilônia, sobre as linhas do palácio do seu “antecessor”.
Ele inclusive adotou a prática do rei de estampar seu próprio nome nos tijolos para a reconstrução. Arqueólogos ficaram consternados. O novo palácio e algumas outras restaurações são pouco autênticas, mas dominam o lugar, dizem os pesquisadores.
“O que fazer com o palácio de Saddam é outra questão”, disse Jeff Allen, consultor em preservação que mora no Cairo, Egito. “Será difícil equilibrar a integridade do lugar com seu uso como uma atração turística”, explicou Allen.
“O Iraque conta com a Babilônia como uma futura fonte de lucro com a visita de turistas estrangeiros. Mas seriam necessários milhões de dólares para demolir o palácio ou transformá-lo em centro de visitação para turistas. (JNW/NYT)
John Noble Wilford
The New York Times
Traduzido por André Luiz Araújo
Marcadores: cultura, patr. cultural
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