CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 8-7-10
Ricardo Resende vai dirigir o Centro Cultural São Paulo
Curador deixa cargo na Funarte para dirigir o CCSP, espaço da Prefeitura que vai fazer 30 anos
Juan Guerra/Divulgação
SÃO PAULO - Crítico e curador, Ricardo Resende já pediu demissão da diretoria do centro de artes visuais da Fundação Nacional das Artes (Funarte), do Ministério da Cultura, para assumir a direção-geral do Centro Cultural São Paulo (CCSP), órgão da Prefeitura. No início de maio, Martin Grossmann anunciou sua saída espontânea do cargo de diretor do CCSP (estava desde 2006). Resende, que anteriormente à Funarte dirigiu, entre 2005 e 2007, o Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, pretende começar sua gestão no CCSP a partir da segunda quinzena de julho.
"Precisava de alguém com experiência institucional e o Ricardo ainda tem a vantagem de ter trabalhado no governo. Trabalhar no governo não é muito simples. As pessoas vêm com as melhores das intenções e esbarram em todo o tipo de dificuldade, porque o serviço público é muito controlado, para dizer o mínimo", afirmou o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, que convidou Resende para assumir o CCSP. O novo diretor da instituição pretende se reunir com Calil e com Grossmann amanhã para se inteirar da situação do CCSP. "Me parece que vai tudo muito bem e sua programação é sintonizada com a arte contemporânea", diz Resende, que, a princípio, tem como ideia dar continuidade ao programa de Grossmann.
Análises. O CCSP tem como orçamento para 2010 a ordem de R$ 10.677.373,00, segundo a Secretaria Municipal de Cultura. Resende, mesmo ainda achando ser prematura qualquer avaliação, acredita que o montante "é pouco" para a estrutura de um espaço com 48 mil m² com atividades gratuitas e grande circulação de público - em 2009, a instituição contabiliza ter recebido 819.503 pessoas em suas atrações e frequência em 2010, até maio, 308.862. "O que me preocupa como secretário não são as coisas que estão bem encaminhadas, como a programação e a sinergia das áreas culturais propostas por Grossmann, mas as ligadas à preservação do acervo, que nós não conseguimos fazer", afirma Calil, que, ele próprio, dirigiu o CCSP antes de assumir a Secretaria Municipal de Cultura, em 2005.
"Não consegui realizar ainda a reserva técnica e estou muito preocupado com a melhoria das salas de espetáculos, que estão quase que na lona, algumas delas. Construídas em 1982, elas não foram modernizadas e isso tem que ficar pronto até 2012, porque não só é fim da minha gestão na Secretaria, como o Centro Cultural vai fazer 30 anos." Calil afirma que está buscando recursos para essas empreitadas e, inclusive, aporte do Ministério da Cultura para a obra da reserva técnica, que já tem projeto arquitetônico.
As bibliotecas do CCSP - "gostaria que voltassem a ter atitude ativa", diz Calil - necessitam de cuidado, mas a questão dos acervos também é prioritária. Por exemplo, está aos cuidados da instituição a Coleção de Arte da Cidade, de cerca de 2.800 obras e coleções de arte postal. Calil tinha como projeto usar a Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca (retomada do Masp pelo município), para abrigar e expor a Coleção de Arte da Cidade, entretanto, ele diz que, por decisão do prefeito Gilberto Kassab, o espaço não será mais cultural, vai tornar-se um anexo da Prefeitura. Resende cogitou que se criasse dentro do CCSP espaço museológico.
Resende é mestre em História da Arte pela USP, nasceu em 1962 em Minas, mas foi criado em Mococa (SP). Tem carreira na área museológica, com passagens pelo MAC/USP, MAM-SP e direção do museu do Centro Dragão do Mar em Fortaleza. Assumiu em janeiro de 2009 cargo na Funarte e desde 1996 coordena o Projeto Leonilson.
Camila Molina
estadao.com.br
Vila histórica de São Paulo sofre com deterioração
O local onde antes funcionava o colégio dos meninos está em ruínas; árvores ocupam a parte interna do que restou do prédio.
Foto: Divulgação
No centro da maior cidade do País, um local se difere das construções modernas e do trânsito congestionado da metrópole paulistana. Na Vila Maria Zélia, no Belenzinho, região do Brás do centro de São Paulo, as 174 casas remetem a uma época que muitos só viram em filmes. A poucos metros da intensa agitação paulistana, quem entra na vila, após se identificar na cancela, encontra uma atmosfera de tranquilidade típica de cidade de interior. É como se estivesse ingressando em uma visita ao passado.
O bairro foi construído entre 1911 e 1916 pelo empresário Jorge Street, dono da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, para ser local de moradia, lazer e serviços para os funcionários. Fundada como a primeira vila operária do Brasil, ela foi tombada como patrimônio cultural em 1985, mas sofre com a descaracterização arquitetônica e deterioração do tempo.
Nas ruas largas dos cerca de dez quarteirões as casinhas eram todas iguais, com portas marrons e paredes pintadas de amarelo escuro, segundo o morador Antônio Fantin Filho, 79 anos, que há 50 anos vive na Maria Zélia. Detalhista, ele descreve como as luzes nas ruas de terra davam a impressão de serem lampiões.
A realidade, porém, já não é mais a mesma. Com a falência da indústria nos anos 20, os prédios dos colégios e armazéns, que totalizam seis construções, foram apropriados pelo IAPI (atual INSS). As construções estão abandonadas desde então. Nas paredes já aparecem os tijolos gastos e árvores crescem dentro dos prédios.
A transformação da vila
Edílcio Pereira Pinto, conhecido na vila como Dedé, compartilha histórias de três gerações na Vila Maria Zélia. "Meu avô foi funcionário do senhor Street, ele chegou aqui em 1919", disse. Ele mora há 61 anos no local e acompanhou o fechamento das portas da farmácia, da barbearia, da sorveteria, do restaurante dos solteiros, dos colégios de meninos e meninas e do salão de baile, onde ele fez sua festa de casamento.
"Aqui era uma minicidade, tinha dois campos de futebol e até um prefeito", diz. O campo de futebol deixou de existir. Caminhando pelas ruas, quase não se vê casas sem modificações. Dedé, que luta pela revitalização do patrimônio histórico, conta como começou a descaracterização: a partir de 1967, os moradores que tinham dinheiro reformaram as casas e a "cara" da vila se perdeu. Para ele, o problema foi o tombamento tardio, cujo processo teve início apenas em 1985.
De acordo com o INSS, foi assinado um contrato com a prefeitura em 25 de agosto de 2006 e "o convênio permite a utilização dos imóveis da Vila Maria Zélia pela prefeitura mediante contrapartida ao INSS, sendo um dos itens a restauração das construções e a preservação do acervo histórico". O termo vence em 2011 e, até agora, os prédios não passaram por qualquer revitalização, segundo Dedé. Apenas em um deles recebeu telhado.
"O primeiro beijo que eu dei na minha esposa foi aí atrás daquela árvore", disse Milton Pimentel, 83 anos. Aos 14 anos, conhecido na época como Miltinho Sombra, ele "cabulava aulas para brincar com o pessoal da vila", já que não morava lá. Receptivo, Pimentel foi logo mostrando as fotos da infância vivida no vilarejo. Partidas de futebol, reunião de amigos, banhos no córrego do rio Tietê são momentos que ele diz sentir saudades.
Depois da fase namoradeira, em que beijava meninas às escondidas, foi com Rosa Maria Galardo que se casou, aos 24 anos. A festa aconteceu no salão de bailes da Vila Maria Zélia - mesmo local escolhido por Dedé para celebrar seu casamento.
Revitalização
Segundo o INSS, em fevereiro de 2010, o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps), autarquia especial do Governo do Estado de São Paulo, enviou um ofício manifestando interesse em comprar pelo valor de mercado os seis imóveis. O INSS é a favor do acordo, porém, para isso, é necessário o cancelamento do contrato com a prefeitura. A Prefeitura de São Paulo elaborou um documento que está sendo analisado pela Direção Geral do INSS.
De acordo com a assessoria do Centro Paula Souza, a instituição aguarda a posição do órgão com avaliação de engenharia e confirmação do valor da venda.
Para o prédio do antigo restaurante dos solteiros, a proposta da Secretaria Municipal de Cultura é que o Centro Paula Souza ceda o local para a instalação de um Centro de Residência de Teatro.
Enquanto nada é feito para conservar a vila, a Sociedade Amigos da Vila Maria Zélia busca mais rapidez junto à prefeitura e desenvolve projetos para proporcionar entretenimento aos moradores. Uma quadra de futebol, local para jogo de bocha e festa junina são mantidas pela organização, de acordo com o presidente da Sociedade, Paulo Salomão.
Thais Sabino
Direto de São Paulo
Arqueólogo começa a procura por objetos de 10 mil anos em Limeira, São Paulo
Entre dois e três metros de profundidade da região em que vivemos podem ser encontradas relíquias arqueológicas de cerca de dez mil anos. E a procura por elas começa este mês, coordenada pelo pesquisador Astolfo Gomes de Mello Araujo, arqueólogo e geólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa, intitulada “A Ocupação Paleoíndia no Estado de São Paulo: Uma Abordagem Geoarqueológica”, abrange os municípios de Limeira, Rio Claro, Araras, Ipeúna e Charqueada, e deverá durar pelo menos dois anos. Em entrevista à Gazeta, Araujo explica que o foco do estudo é encontrar peças datadas entre oito mil e dez mil anos, época denominada paleoíndia, mas outros artigos mais “novos” que vierem a ser encontrados deverão ser catalogados.
A escolha da região se deve a sítios arqueológicos já conhecidos, como o Alice Boer, em Rio Claro. “A partir daí resolvemos ampliar a área de estudo pelo relevo, que conta também com muitas lagoas naturais, onde podem ser encontradas coisas interessantes”,diz.
Entende-se por sítio arqueológico qualquer local que conserve vestígios, artefatos ou instrumentos feitos por índios. Araujo explica que objetos de cerâmica feitos por tribos são menos antigos, por exemplo, do que os de pedra lascada.
PASSOS PARA O PASSADO
Ele frisa que a pesquisa não envolve desapropriações, tombamento ou coisas do tipo. Pelo contrário: o trabalho, para ser executado, precisa de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), aval dado no início do mês. A pesquisa terá financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Também será necessária a autorização de proprietários para as pesquisas. O trabalho é feito com escavação cuidadosa, devido à importância da localização exata. Encontradas as peças, que podem estar enterradas pelo menos a dois metros, é feita a catalogação e estudo. E a terra é recolocada, sem prejuízo ao proprietário.
“Pedimos, inclusive, que quem tiver alguma informação ou artigo, como ponta de uma flecha, entrem em contato. É uma forma de identificar os locais que possam ter materiais”, diz. Lembra, no entanto, que o comércio dessas peças é proibido por lei. “Mas as pessoas podem doar para museus, que é uma forma de não perdê-las com o tempo, conforme passam as gerações”.
Na região, Araujo já encontrou sítios em Araras, embora o trabalho não fosse acadêmico. Para o início da pesquisa, embora haja locais mapeados, deverão ser buscadas informações das áreas com maior potencial arqueológico. O trabalho será feito com cavadeira, além de peneiras para a terra e outros equipamentos. Quanto melhor enterrado, maior a dificuldade.
A equipe, que terá de cinco a oito pessoas, mas pode chegar entre 10 e 15 quando houver escavações, se revezará entre os locais. Farão parte do grupo alunos da USP e Unesp. “É possível que contratemos trabalhadores da região para ajudar”, acrescenta o pesquisador. Dependendo do que for encontrado, o projeto pode se estender além dos dois anos previstos. Poucos anos que levarão a uma viagem longa no tempo para revelar o que usavam e quem eram os longínquos moradores das terras em que agora habitamos.
Daíza Lacerda
Gazeta de Limeira.
Ricardo Resende, que tem carreira na área museológicaMarcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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