SAÚDE - 16-8-10
FEI desenvolve nova arma para combater dengue e malária
Produto, financiado pela Fapesp, substitui uso de químicos tradicionais e impede que mosquitos depositem ovos na água
Um engenheiro químico da Fundação Educacional Inaciana (FEI) desenvolveu um produto para impedir que mosquitos depositem seus ovos em superfície aquática. O “mosquitocida” é aplicado na água e forma uma película na superfície que reduz a tensão superficial - em outras palavras, faz com que os insetos fiquem com patas e asas encharcadas e morram submersos. O produto foi desenvolvido para combater doenças como dengue, malária e elefantíase, todas transmitidas por mosquitos.
Produto é eficaz contra mosquito da dengue
O mosquitocida, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi criado por Marcos Eduardo Sedra Gugliotti e pode ser encontrado na versão líquida ou em pó. “Prefiro usar a versão sólida porque elimina possíveis perdas do produto”, diz o pesquisador. É atóxico, biodegradável, tem um período de decomposição de 48 horas e, além disso, ataca todas as fases dos mosquitos (desde ovos até a fase adulta), o que potencializa sua eficácia.
Indicado para o uso em grandes áreas, o produto tem composição natural. Quando testado nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP) e da Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo (Sucen), obteve bons resultados. Em uma das experiências, duas horas após a aplicação do produto, o mosquito transmissor da malária, Anopheles aquasalis, foi totalmente eliminado da área selecionada.
Outros testes revelaram que o mosquitocida também é eficiente contra o Aedes aegypti, transmissor da dengue, e o Culex quinquefaciatus, da elefantíase. A eficácia do produto, entretanto, pode ser afetada de acordo com as mudanças climáticas. “Se ventar ou chover, ou até mesmo com o impacto das ondas do mar, o efeito do produto pode ser reduzido, já que a película será quebrada”, afirma o pesquisador.
O produto desenvolvido também foi eficaz na eliminação de algas tóxicas que ficam na superfície da água, já que a película formada prejudica a flutuação e faz com que afundem. Segundo Paulo Eduardo Martins Rebola, pesquisador e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), é preciso utilizar o produto com cuidado para não causar problemas ao meio ambiente. “Haverá impactos a curto e longo prazo, é difícil avaliar. Será preciso uma análise contínua, já que outras populações podem ser afetadas”, diz.
Apesar de ainda não estar disponível no mercado, já existem empresas interessadas. Faltam agora produtores para que a comercialização ocorra ainda este ano. Gugliotti estima que o mosquitocida, custará R$ 22 o quilo. Com essa medida, é possível aplicar a substância em dez mil metros quadrados.
Outras aplicações
Desde 2004 Gugliotti pesquisa substâncias que afetem a tensão da superfície da água - ele já patenteou outras duas descobertas. A primeira, em 2005, usa um produto parecido com o mosquitocida para reduzir as perdas por evaporação de água nos reservatórios. A substância forma uma espécie de barreira protetora que, sem prejudicar as trocas gasosas, diminui a rugosidade da superfície e reduz em até 50% a taxa de evaporação.
Outro produto desenvolvido com a mesma tecnologia, mas composição e finalidades diferentes foi o chamado encolhedor de manchas de óleo. Ele retém o vazamento de petróleo e encolhe-o de maneira considerável. É aplicado na água que circunda a mancha - e como se espalha mais do que o óleo, a mancha se contrai e aumenta sua espessura ficando mais fácil de ser recolhida.
Funcionário da Superintendência de Controle de Epidemias usa o "fumacê" contra a dengue
Assim como os demais, o “encolhedor” é atóxico, biodegradável, pode ser encontrado nas versões em pó e líquido e tem efeito variado de acordo com o clima. O maior benefício é que reduz a mancha para 5% de sua área inicial, dependendo do tipo de óleo. A reação ocorre em minutos e dura entre 24h e 48h. “Fiz um teste em uma marina de Santos e consegui “arrastar” todo o óleo acumulado”, diz o engenheiro. “Não há dispersão como ocorre quando um detergente se mistura na água, o petróleo é coletado”.
Incidência e combate no Brasil
A forma de combate da dengue e malária varia de acordo com sua incidência e localidade. Quando a infestação é grande, são realizadas aplicações de inseticidas por meio de pulverizadores, também conhecidos como “fumacê”. Entretanto, essa forma de combate tem eficácia restrita, foco na morte dos insetos adultos e há a possibilidade dos insetos desenvolvem resistência.
O mosquito Aedes aegypti está presente em mais de 85% dos municípios brasileiros. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2009 foram encontrados 32% dos casos do País na região Nordeste, dos 393.583 registrados em todo o Brasil. O principal meio de combate é ainda a eliminação manual dos criadouros, como distribuição de capas para caixas d’água e tonéis.
No caso de malária, a região norte registrou mais casos com 96,89%, dos 306.908 em todo o País. E, assim como na dengue, as ações de pulverização de inseticida são indicadas para os últimos casos, devido à ação passageira e pouca efetividade, sendo os mosquiteiros o combate mais frequente
Bruna Bessi, iG São Paulo
Marcadores: saúde
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