CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 6-10-10
Pesquisadores descobrem ossadas que podem ter mais de 3.000 anos em MG
O Museu Arqueológico do Carste do Alto São Francisco (MAC), em Minas Gerais, acaba de realizar sua primeira escavação. Pesquisadores encontraram ossadas de três índios que podem ter sido enterrados no local há cerca de 3 mil anos.
As escavações aconteceram no sítio arqueológico “Abrigo do Ângelo”, no município de Pains. O local foi identificado e registrado em 2002, segundo o diretor do museu, Gilmar Henriques. Ele conta que, na época, foi constatado um sumidouro com abertura de aproximadamente 60 centímetros de diâmetro no interior do sítio arqueológico, que está localizado na base de um rochedo de calcário.
“Em 2008, em uma visita ao sítio, foi constatado que o sumidouro havia se ampliado para um diâmetro de quase 4 metros, literalmente tragando para dentro da terra todo o sedimento do sítio, juntamente com todo o acervo arqueológico encontrado no local”, relata. Foi então que a equipe apresentou um projeto para o resgate arqueológico do sítio.
O projeto foi iniciativa do MAC, em parceria com o projeto de doutorado desenvolvido por Henriques no Programa de Pós-Graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo.
As escavações iniciais priorizaram a borda do sumidouro, área com maior risco de erosão, e no local foi possível constatar vestígios de atividades cotidianas: utilização de vasilhames cerâmicos e machados de rocha polida nos níveis superficiais, além da fabricação de ferramentas de pedra lascada e fogueiras onde vários animais foram preparados e em torno das quais foram consumidos.
“A fim de amostrar e compreender a utilização do local, iniciamos as escavações em um outro compartimento, mais afastado do sumidouro e, para nossa surpresa, nos deparamos com uma área cerimonial, ocupada por um cemitério pré-histórico utilizado em diferentes épocas”, afirma o diretor.
Três esqueletos foram exumados. “Dois deles se apresentaram na forma de sepultamentos secundários, nos quais os ossos estavam desarticulados, mas arranjados. Um terceiro esqueleto se apresentou na forma de um sepultamento primário, com todos os ossos articulados, e em ótimo grau de preservação”, descreve Henriques.
Sepultamentos semelhantes escavados no município de Pains foram datados em 7.000 anos. Mas as expectativas sobre a idade dos corpos só serão confirmadas após envio das amostras do esqueleto para a realização da datações radiocarbônicas.
O esqueleto também será estudado por antropólogos físicos, para que se levantem dados sobre seu sexo, idade, hábitos cotidianos, eventuais doenças e tipo de população a qual o indivíduo pertencia. Depois, o material será mantido no MAC. Uma exposição temporária com os achados do sítio deve ocorrer no segundo trimestre de 2011.
O diretor informa, também, que o Carste do Alto São Francisco é alvo de outro projeto de pesquisa, do arqueólogo Edward Koole, que desenvolve projeto de doutorado na USP (Universidade de São Paulo) sobre sítios da região que foram ocupados por caçadores-coletores do período Arcaico.
O MAC Foi inaugurado em abril deste ano e reúne achados arqueológicos encontrados em oito municípios da região: Pains, Arcos, Formiga, Córrego Fundo, Pimenta, Piumhi, Doresópolis e Iguatama.
Prefeitura de SP tenta abafar descobertas arqueológicas para acelerar obra
PEDESTRE PASSA DIANTE DE CARTAS COM ACHADOS NO SITIO URBANO
A entrada de jornalistas ou de câmeras está proibida pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização). E os arqueólogos foram advertidos para não darem entrevista. No lugar de exibir os achados que revelam o passado de São Paulo às vésperas de seu 456º aniversário, a prefeitura paulistana prefere silenciar sobre os trabalhos arqueológicos que estão sendo feitos na reurbanização do largo de Pinheiros para receber uma estação de metrô.
"A cidade obedece ao mercado. A modernização de Pinheiros tem o desenho da especulação imobiliária. A reforma não é para a população do bairro. Por isso, é mais fácil desqualificar como caquinhos os objetos encontrados, de clara importância histórica", opina o arqueólogo Paulo Zanettini, sócio de uma empresa de resgate arqueológico e especialista nos sítios paulistanos.
Já foram encontradas louças holandesas, francesas e inglesas, bem como garrafas do século 19, mostrando que a vocação comercial da área é antiga. Mas a única forma de saber isso é passar na calçada esburacada no número 700 da rua Fernão Dias. Lá, espremidos entre tábuas de madeira compensada e os pontos de ônibus para Cotia, dois cartazes contam o que acontece por lá.
Os pedestres passam sem ler sobre o aldeamento que os jesuítas fizeram na área até 1640 com os índios guaianás, nem sobre as porcelanas Maastrich ou Sarreguemines usadas pelos habitantes do passado. É fácil ver as placas publicitárias de "compra-se ouro" ou "exame médico demissional" que se espalham pelo largo.
O pano de fundo do ocultamento do resgate arqueológico é o atrito entre Prefeitura paulistana com o Iphan (Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Uma denúncia anônima ao órgão vinculado ao Ministério da Cultura fez as obras de Pinheiros pararem em meados de novembro.
Vestígios do passado
Desde 2002, toda a obra de porte em região de potencial histórico deve ser inspecionada por especialistas, assim como acontece com o obrigatório relatório de impacto ambiental. Isso é determinado pela portaria federal 230. Pela extensão e localização, a reurbanização de Pinheiros, que inclui mais de uma dezena de quarteirões, entra facilmente no caso.
A Emurb, por meio de sua assessoria de imprensa, disse não conhecer essa legislação. A arqueóloga Luciana Juliani, proprietária da empresa A Lasca de prospecção, diz acreditar que a empresa não agiu errado. "A Emurb achou que não estava agindo mal porque não foi cobrada antes", afirmou.
Um mês depois de parte das obras parada para o resgate histórico, porém, a prefeitura convocou jornalistas para desqualificar os objetos encontrados, apontando que não passavam de pedaços de ossos, ferraduras e utensílios domésticos dos anos 1950, desgastados pelo tempo e sem valor histórico. O arqueólogo responsável, Plácido Cali, saiu prontamente para desmentir, mostrando achados de dois séculos atrás. E a tendência é achar coisas mais antigas, afinal, a cada 50 centímetros para baixo se recua um século.
"É por desconhecimento que se julga que a arqueologia existe para descobrir civilizações e múmias. Os grandes achados são raros. Nossa função é revelar como era o cotidiano do passado", disse Juliani.
Zanettini concorda com ela. "A arqueologia revela a história que foi esquecida, a história das pessoas comuns, não aquela contada nos livros de história, que relata bem só a elite de poder. Os cacos que a gente encontra falam de um cotidiano que as fotos e os textos não revelaram."
E o sítio de Pinheiros foi revelador, com um depósito de garrafas enterradas que apontam a presença por ali de uma taberna do início do século 19.
É sintomático que a revitalização da área queira apagar as pessoas comuns do presente e do passado. O novo desenho do local será elo para o eixo endinheirado que une bairros como Brooklin, Itaim e Jardins ao Alto de Pinheiros, Alto da Lapa e Vila Madalena.
O plano do prefeito Gilberto Kassab (DEM) era inaugurar a primeira parte do novo largo em julho de 2010, mas os arqueólogos acreditam que as escavações podem acabar só no final do ano.
Tendo como pano de fundo as eleições gerais deste ano, há quem veja um embate político no embargo do Iphan. A postura da Emurb de tentar abafar o assunto mostra o tamanho do desgaste que a polêmica causou para a prefeitura, Kassab e seus aliados políticos, afinal, a reurbanização de Pinheiros seria inaugurada simultaneamente a entrega da estação de metrô Faria Lima, que deve sair antes e há tempo de ser exibida no horário político dos políticos envolvidos com a obra.
E na futura praça do largo de Pinheiros não espere referência aos achados arqueológicos.
noticias.bol.uol.com.br/.../prefeitura-de-sp-tenta-abafar-descobertas-arqueologicas-para-acelerar-obra.jhtm
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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