CULTURA, PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL
Os museus de Minas abrem as portas para a nova estação. A viagem começa com as orquídeas, que por trás de tanta beleza exalam cheiros repugnantes. Espécies exóticas guardam a surpresa do odor de fezes e bichos mortos. A próxima parada apresenta os primeiros habitantes das Américas. São dinossauros, primatas e muita história gravada em pinturas rupestres. E a cultura vem brindar o público antes do fim dessa jornada, com contadores de histórias, concerto de violinos e a tradição das guardas de congado. As atrações da programação da 2ª Primavera dos Museus, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e que reuniu 235 instituições em todo o país. A iniciativa teve a participação de seis centros culturais da capital: o Museu de História Natural da UFMG (no Horto Florestal, na Região Leste), o Museu de Arte da Pampulha, o Museu Histórico Abílio Barreto (no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul), o Museu de Artes e Ofícios (na Praça da Estação, no Centro), o Museu Mineiro (na Avenida João Pinheiro, também no Centro) e o Museu das Telecomunicações (na Avenida Afonso Pena, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul). No interior de Minas, aderiram instituições de Ouro Preto, Mariana e Juiz de Fora, além do Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH.Nem mesmo a chuva e o vento frio, que marcaram o domingo, espantaram os visitantes. Diante de titanossauros que viveram nas montanhas de Minas há 250 milhões de anos, os primos Giovanna e Bernardo Araújo, ambos de 9 anos, e Vívian Nascimento, de 6, não esconderam a admiração e curiosidade para percorrer todas as exposições do Museu de História Natural da UFMG. “Só conhecia os dinossauros pela televisão e fiquei até com um pouco de medo. Mas é legal ver esses bichos que estavam na Terra antes de nós”, disse Giovanna, que, depois contemplar o acervo de paleontologia, curtiu a apresentação dos violinistas da Orquestra Jovem de Contagem, na Praça de Eventos. No Museu de Arte da Pampulha, a grande atração do domingo foi o grupo Contadores de Estórias Miguilim, de Cordisburgo, que divulgou a arte do escritor Guimarães Rosa. “Fico feliz com essas opções gratuitas de diversão. Os eventos culturais são muito caros e grande parte da população não tem acesso a eles. Por isso, faço questão de prestigiar as apresentações, especialmente as que resgatam nossa história, como ocorre ao ouvir a obra desse artista do nosso estado”, contou a aposentada Salete de Ávila, de 61. O ponto alto da programação do Museu Mineiro foi o encontro de seis guardas de congado. Grupos de BH, Vespasiano, Ubá, Sete Lagoas e Raposos encheram de religiosidade e ritmo os salões e galerias da instituição. “O principal objetivo desse trabalho é reunir as manifestações culturais no museu. Temos uma coleção representativa de arte sacra e queremos articular esse acervo com a comunidade, pois é preciso reforçar a idéia de um espaço de encontro e intercâmbio. Além das guardas, estamos com exposições de doceiros de Ouro Preto e contadores de histórias”, afirmou o diretor do museu, Francisco Magalhães.
Glória Tupinambás - Estado de Minas
Graças a uma revista de decoração, Minas Gerais está perto de receber de volta um significativo fragmento de sua história. Nas páginas de uma antiga edição sobre casas de fazenda, integrantes da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais localizaram o portal entalhado em pedra-sabão do século 18, que pertencia à Igreja do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, de São João del-Rei, na Região Central do estado, criminosamente demolida em 1970. A prova impressa na revista motivou os promotores a ingressar com ação civil pública pedindo a reintegração da relíquia à cidade de origem e proibindo a retirada da portada da fazenda, localizada em Campinas, até o fim do processo. Se os proprietários venderem a peça antes do julgamento, estarão sujeitos a multa de R$ 100 mil. “É uma importante vitória da luta contra o esquecimento e pela memória. Se a portada voltar para São João, estaremos reparando, 38 anos depois, um grave crime cometido contra a cidade”, comemora o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (IHG) , José Antônio de Ávila Sacramento. A briga pela portada foi uma das motivações para a criação do IHG, meses antes da demolição. Na época, mesmo tombada por outro instituto, o do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a igreja foi destruída a mando do padre Jacinto Lovato, que comercializou toras de madeira, retábulo e ornatos de pedra do templo, para arrecadar fundos e construir novo prédio. O maior tesouro da igreja – a fachada principal – foi vendida a um fazendeiro paulista por 5 mil cruzeiros, valor equivalente, hoje, a cerca de R$ 4,3 mil. A legenda da foto na revista em que a peça foi identificada enaltece a “face silenciosamente bela e mística das Minas Gerais” e destaca a “fé removida das igrejas ornadas por Aleijadinho para os redutos de São Martinho da Esperança”, em referência ao nome da fazenda do banqueiro e colecionador de artes paulista Mário Pimenta Camargos, que morreu em 1996. O texto não deixa dúvidas quando fala do “pórtico em pedra-sabão trazido de uma Igreja de São João del-Rei para enriquecer uma capelinha dos anos 50, perdida em meio à vegetação”. O Ministério Público ingressou com a ação depois que o serviço de inteligência visitou a fazenda e confirmou a localização da portada. Leia também:Objeto de fé orna boate na FrançaAtentado contra a memória“A igreja foi demolida em uma época em que não havia preocupação em preservar o patrimônio. Ela não tinha o charme das igrejas do Centro, mais tradicionais”, explica o promotor e curador do Patrimônio Cultural de São João del-Rei, Antônio Pedro da Silva Melo, um dos autores da ação civil pública. Representantes do IHG cobravam do Ministério Público providências em relação à portada havia pelo menos cinco anos. Silva Melo afirma ter ficado surpreso ao encontrar, entre os documentos referentes à demolição da igreja, uma carta do então dirigente do Iphan, Afonso Arinos de Melo Franco, dizendo não haver, ali, qualquer elemento de cunho artístico que interessasse à preservação. “Por ser desprovida de obras de arte conhecidas, a tratavam como uma igreja velha, em vez de histórica”, afirma o promotor. Autorizado pelo bispo da época a vender os bens da igreja para levantar fundos necessários à construção de um novo templo, o padre Jacinto Lovato não gostou dos protestos contra a demolição. Em carta enviada ao IHG, que estava à frente da briga, disse não aceitar “a intromissão de alheios à religião em assuntos de competência da mesma” e argumentou que as igrejas eram para “uso dos fiéis e não para serem contempladas como pura arte de construção”. A carta foi lida pelo pároco em voz alta, na missa de domingo. “Mesmo criticado, o padre nunca se sensibilizou. Ele gostava de ver a igreja construída no lugar da antiga. Achava que era a glória”, conta José Antônio Sacramento, para quem a volta da portada, “mesmo simples, virá carregada de muito simbolismo”, em caso de vitória na Justiça. Moradores e amigos do Bairro Matozinhos já demonstraram a intenção de construir um memorial com a portada, bem próximo ao lugar onde ela ficava no passado. Outra hipótese seria levá-la para o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, instalado no antigo prédio da cadeia da cidade. Atualmente, o lugar abriga mais de 200 peças dos séculos 17, 18 e 19. “A volta da portada pode motivar outras pessoas que sabem onde estão peças do patrimônio histórico de suas cidades a tentar buscá-las. Mesmo difícil, o processo vale a pena e serve de exemplo às novas gerações”, afirma o presidente do IHG de São João del-Rei, José Antônio Sacramento. Denúncias do tipo podem ser feitas às promotorias de defesa do Patrimônio Cultural das cidades.
Thiago Herdy - Estado de Minas
Sinfonia nos Bairros Este projeto permite que muitas pessoas desfrutem do prazer que é ouvir uma boa música instrumental e conheça de perto os tipos de instrumentos compõem uma orquestra. A OSITA – Orquestra Sinfônica Jovem de Taubaté é composta por 42 músicos e regida pelos maestros Rogério Wanderley Brito e Wagner Wanderley Brito.
Neste mês de setembro a apresentação acontecerá na Quadra Poli Esportiva Padre Cícero (ao lado do campo de futebol do Abaeté), situada a rua Francisco Lopes Monteiro, bairro do Bonfim, nesta quarta-feira, dia 24, às 20 horas, com entrada franca.Dançando nos Bairros
Esta iniciativa leva o Balé da Cidade de Taubaté às comunidades, com apresentações que vão do clássico ao contemporâneo, coordenado pela bailarina Alexandra Luppe e coreografias de Arilton Assunção.
Um dos números apresentados é "Um Lá Para Tom" que entrelaça as inesquecíveis músicas de Tom Jobim com a plenitude do amor, da dor, da saudade, do ciúme e da felicidade. O Balé se apresentará nesta sexta-feira, dia 26, às 20 horas, no bairro Santa Catarina, no pátio da Escola Pref. Álvaro Marcondes de Mattos, situada a rua Terezinha de Fátima Cursino, 105, com entrada franca. InauguraçãoDia 24, às 15 horas, na Praça Cel. Vitoriano, s/n, no antigo prédio do Madre Cecília, será inaugurado o novo Centro Cultural Municipal.
Levantamento feito pela USP encontrou acervo em mau estado em todas as 79 instituições visitadas
Os livros de matrículas registram datas de 1898, os pianos foram importados pelo governo no início do século e as fotografias retratam o refinamento das primeiras escolas públicas fundadas no Estado de São Paulo. Essas são algumas das preciosidades encontradas em mau estado de conservação nos 79 antigos colégios visitados pelo Centro de Memória da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (CME/FE-USP).A inexistência de políticas públicas de preservação do acervo escolar leva diretores a ficarem de mãos atadas frente ao patrimônio por não receberem orientação para cuidar das peças ou nem sequer terem espaço para guardá-las. Como é o caso dos arquivos do início do século passado da Escola Estadual Pereira Barreto - antiga Escolas Reunidas da Lapa, que acaba de completar 100 anos - hoje guardados em um porão úmido. Desde o início do ano, com o aval da Secretaria Estadual de Educação e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o CME iniciou um mapeamento do acervo das primeiras escolas públicas de São Paulo. Serão visitadas 215 unidades em todo o Estado até o fim de 2009 - o prazo ainda é prorrogável por mais dois anos. O objetivo do projeto é fazer um diagnóstico da situação e, ao lado da Secretaria Estadual de Educação, criar meios de preservação dessa memória. Só o Caetano de Campos, primeiro colégio do Estado de São Paulo - que hoje abriga a Secretaria de Educação -, não está na lista de visitas porque já tem ações voltadas para a preservação de seu acervo. Dentre as conseqüências da inexistência da política pública que ficaram evidentes nas visitas dos pesquisadores da USP está a perda de parte do acervo dessas instituições. As primeiras carteiras escolares da Escola Normal de Piracicaba - fundada em 1911 e atual Escola Estadual Sud Menuci - decoram um bar do município. Isso porque muitas escolas ao longo dos anos tiveram de se desfazer dos móveis antigos para receber os novos, enviados pelo governo. "O dono do bar comprou o mobiliário de um ferro-velho. O mesmo aconteceu com os móveis escolares encontrados em um sebo em São Carlos", comenta a pesquisadora do CME Iomar Zaia. A Secretaria Estadual de Educação reconheceu no início do ano a ausência de políticas públicas para a preservação que abrangessem todas as escolas e iniciou um processo de busca de parcerias. Segundo Maria Salles, coordenadora do Centro de Referência Mário Covas - órgão ligado à pasta que atua na preservação do patrimônio escolar -, o primeiro passo é fazer o diagnóstico, por meio de parcerias como a feita com a USP, para depois apoiar a direção dos colégios.No próximo ano, a secretaria pretende colocar em prática o projeto de digitalização do acervo de papel, além do registro das peças encontradas nas escolas. "Estamos abertos a parcerias. A preservação tem de ser descentralizada. Conforme formos recebendo os diagnósticos das escolas visitadas, pretendemos incentivar a criação de centros de memórias e a capacitação dos professores e diretores para que mantenham esse acervo aberto."O professor do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis e Integrados da PUC-SP Júlio Moraes aponta a criação de centros de memórias como o ideal para trabalhar educação patrimonial. Diários antigos guardados em porões e móveis nos entulhos de obras nas escolas foram cenas presenciadas pelo professor ao longo dos 22 anos de trabalho com restauro. "Já pude ver valiosos tesouros de memória nos porões ou descartados", conta.
Maria Rehder
Estadão.com.br
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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