Organização e estratégia explicam vantagem de Obama sobre McCain
Com mais dinheiro e habilidade política que o rival, democrata consolida sua liderança na corrida presidencial
Além da c rise do sistema financeiro, o democrata Barack Obama conta ainda com outros trunfos para manter-se à frente da corrida presidencial americana. A principal base de Obama é um sólido apoio construído durante as primárias do partido, quando ele disputou voto a voto com Hillary Clinton a indicação democrata.
Desde janeiro, quando começou a disputa, mais de 4 milhões de novos eleitores foram registrados em 11 Estados-chave. Na Flórida, os democratas registraram duas vezes mais novos eleitores que os republicanos - 360 mil a 190 mil. Em Nevada e no Colorado, foram recrutados quatro vezes mais democratas. Na Carolina do Norte, seis vezes mais. "Quase toda essa vantagem foi construída durante as primárias, na disputa com Hillary", disse ao Estado o estrategista democrata Gary Pearce. De acordo com analistas, Obama adotou uma posição mais agressiva para registrar novos eleitores e contou com a ajuda de um exército de 2 milhões de voluntários e comitês que atuaram em todos os 50 Estados. Essa capacidade gigantesca de realizar operações de campo é sustentada por uma arrecadação recorde. Segundo The New York Times, até o mês passado o democrata tinha arrecadado US$ 468 milhões, mais que o dobro dos US$ 224 milhões de McCain.
Outro fator que o manteve na ponta foi o pensamento estratégico de sua campanha. Segundo especialistas, Obama pensou a eleição no longo prazo, estrategicamente, enquanto McCain tem agido taticamente. Os termos, muito utilizados no universo militar, foram empregados à exaustão nos dois primeiros debates presidenciais, tanto por democratas quanto por republicanos. Grosso modo, estratégia é fixar um objetivo - no caso de Obama, vencer as eleições em novembro. A tática, porém, define de forma mais específica como atingir esse objetivo - no caso de McCain, seriam ações para derrotar o rival apenas no curto prazo. "O erro de McCain tem sido usar muita tática e nenhuma estratégia", disse James Fallows, colunista da revista The Atlantic. "O contraste entre estratégia e tática é a maior diferença entre Obama e McCain", concorda a consultora independente Linda Berthold.
Foi pensando no impacto no curto prazo que McCain nomeou Sarah Palin para vice, no início de setembro. Quando o frenesi causado por ela se dissipou, ele precisou de uma outra cartada. Duas semanas depois, usou a crise econômica como pretexto para suspender a campanha e voltar a Washington para negociar a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca. Para retratar o momento atual da campanha de McCain, Linda traz para o debate o general chinês Sun Tzu (544 a.C.- 496 a.C), teórico e autor de A Arte da Guerra. "Ele dizia que a estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória, mas que a tática sem estratégia é apenas o barulho que se faz antes da derrota", disse ela. "A julgar pela conduta das últimas semanas, barulho é o máximo que McCain tem conseguido fazer."
Cristiano Dias
Estadão.com.br
Discreto político finlandês ganha Prêmio Nobel da Paz
Ex-presidente Martti Ahtisaari atuou como mediador em conflitos
O Comitê do Nobel da Paz atribuiu o prêmio deste ano a Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia, que há décadas trabalha pela paz adotando uma diplomacia prudente e silenciosa na Ásia, África e Europa. De acordo com o Comitê, entre as 197 pessoas indicadas ao prêmio, Ahtisaari foi escolhido "pelo seu importante trabalho em diversos continentes há mais de três décadas para a solução de conflitos".Para os leigos, Ahtisaari, 71 anos, parece distante e pouco expansivo. Mas as pessoas que trabalharam com ele elogiam o que Gareth Evans, chefe do Grupo de Crise, ONG com sede em Bruxelas, qualificou de "charme e humor" no trato com seus parceiros de negociação.
Ahtisaari teve um papel crucial na solução de conflitos que se enraizaram no fim do século 20 e ameaçaram explodir no início do 21. O Comitê do Nobel mencionou especificamente o trabalho para pôr fim ao domínio sul-africano na Namíbia, que durou dos anos 70 até o fim da década de 90, e também os seus esforços de paz na província indonésia de Aceh, em Kosovo, na Irlanda do Norte, na Ásia Central, no Chifre da África e, mais recentemente, no Iraque.
Por várias vezes, Ahtisaari foi considerado candidato ao Nobel da Paz, que no ano passado foi concedido ao ex-vice-presidente americano Al Gore e ao Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, órgão da ONU. Ao decidir-se pelo finlandês, o Comitê parece ter optado por um candidato mais tradicional, cuja eleição não envolveria sensibilidades políticas. Em entrevista após o anúncio do prêmio, Ahtisaari declarou que pretende diminuir o ritmo de viagens que o mantêm longe da Finlândia 200 dias por ano. "Quero passar mais tempo com minha mulher", disse.De acordo com o Comitê, "durante toda a sua vida, como presidente da Finlândia ou em função internacional, freqüentemente ligada às Nações Unidas, Ahtisaari trabalhou pela paz e pela reconciliação". O texto diz também que "Ahtisaari é um extraordinário mediador internacional. Pelo seu incansável trabalho e em razão dos bons resultados, ele mostrou o papel que a mediação, sob várias formas, pode desempenhar na solução de conflitos."Ahtisaari afirmou estar "muito feliz e agradecido" pelo prêmio - equivalente a US$ 1,4 milhão. Ele receberá o Nobel em uma cerimônia em Oslo, dia 10 de dezembro. Ole Danbolt Mjoes, presidente do Comitê, rechaçou insinuações de que o Nobel hesitou em premiar um dissidente chinês por medo de represálias de Pequim. "Não há nada que nós não ousemos fazer", disse. Antes do escolhido ao Nobel da Paz ser anunciado, especulou-se muito que ele poderia ser outorgado ao ativista de direitos humanos chinês Hu Jia. Segundo Mjoes, o histórico de Ahtisaari é "fantástico". "Ele nunca desiste, mesmo quando há retrocessos", afirmou. Mjoes disse ainda esperar que o exemplo de Ahtisaari estimule uma mediação similar no Afeganistão.
No início deste mês, o ex-presidente finlandês recebeu um outro prêmio da paz, oferecido pela Unesco. Na ocasião, disse que estava "seriamente preocupado com o grande número de conflitos que a comunidade internacional não solucionou". "Não devemos jamais aceitar que alguns conflitos fiquem cristalizados para sempre", disse.No discurso, atribuiu seu interesse pela paz às suas próprias experiências na infância. "As origens da minha carreira como mediador vêm da minha infância. Nasci na cidade de Viipuri, que na época ainda era parte da Finlândia. Mas perdemos Viipuri quando a União Soviética atacou meu país. Junto com 400 mil companheiros, tornei-me uma pessoa eternamente deslocada no resto da Finlândia", afirmou. "Com minha mãe, mudei-me de um lugar para outro até me fixar na região leste do país, em Kuopio. Essa experiência, que milhões de pessoas no mundo têm vivido, deu-me mais sensibilidade, o que explica meu desejo de promover a paz e ajudar outras pessoas que passam por experiências similares à minha", declarou.
Ahtisaari foi professor de escola primária antes de tornar diplomata, em 1956. Atuou como embaixador na Tanzânia e nas Nações Unidas. Na ONU, ele participou da iniciativa de paz que levou à independência da Namíbia, em 1990. Como chefe da sua própria organização - Iniciativa para Gestão de Crises - promoveu reuniões na Finlândia entre xiitas e sunitas do Iraque. Entre 2003 e 2005, atuou como enviado especial da ONU para a Ásia Central e Chifre da África.
Walter Gibbs e Alan Cowell
Estadão.com.br
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