NATUREZA - 2-10-2008
Cientista chinês salva espécie lendária de primata da extinção
Muito tempo atrás, nas empobrecidas colinas da região sul da China, uma aldeia decidiu que baniria as crianças para a floresta vizinha, deixando que se alimentassem de frutas e plantas selvagens. Anos mais tarde, quando a situação de abastecimento de comida melhorou, os pais voltaram ao bosque para levar suas crianças de volta.
Muito tempo atrás, nas empobrecidas colinas da região sul da China, uma aldeia decidiu que baniria as crianças para a floresta vizinha, deixando que se alimentassem de frutas e plantas selvagens. Anos mais tarde, quando a situação de abastecimento de comida melhorou, os pais voltaram ao bosque para levar suas crianças de volta.
Para sua surpresa, elas haviam se adaptado notavelmente bem à vida na floresta; os lenços brancos que elas portavam na cabeça se haviam transformado em pêlos, caudas haviam crescido no extremo de suas espinhas e elas se recusaram a voltar para casa.
Na Reserva Natural de Nongguan, no município de Chongzuo, província de Guangxi, os descendentes reais das crianças desse mito - macacos conhecidos como langures-de-cabeça-branca - continuam a se movimentar entre os galhos das árvores da floresta.
Enquanto os langures se deslocam por um monte rochoso muito alto em meio a uma paisagem digna dos grandes pintores da natureza chinesa, eles parecem intocados pelo tempo e pela mudança, mas a sobrevivência da espécie, e da floresta que a abriga, representa um feito notável.
Em 1996, quando os langures eram considerados como espécie sob ameaça extrema, Pan Wenshi, o mais renomado especialista chinês na biologia dos pandas, decidiu visitar Chongzuo para estudá-los, em meio ao que era, então, uma base militar abandonada. Na época, ainda havia caçadores que removiam os jovens langures, caracterizados por uma cor amarelo canário, de suas baluartes nas cristas rochosas, e aldeões que devastavam a floresta para obter lenha.
Pan rapidamente contratou seguranças para proteger os animais restantes, e foi um passo além, tomando medidas que levavam em conta também os fatores sociais e econômicos mais amplos que colocavam a espécie em risco. Pan reconhecia que o mito sobre a origem dos animais era lenda, mas acreditava igualmente que medidas que reduzissem a extrema pobreza da região eram essenciais para que os animais pudessem sobreviver em longo prazo.
Na reserva natural de 24 km² na qual ele concentrou seus estudos, a população de langures se ampliou a mais de 500, ante os 96 que existiam em 1996.
"É um modelo quanto ao que se pode fazer em regiões de crise que sofreram devastação ambiental causada pelo desenvolvimento", disse Russell Mittermeier, presidente da Conservation International. "Pan combinou todos os elementos - proteção, pesquisa, ecoturismo, bom relacionamento com a comunidade local. Ele realmente transformou os langures na base da vida de toda a região".
Parte do que torna tão notáveis as realizações de Pan é o sucesso que ele está obtendo, se comparado com o destino dos primatas em outras regiões. De acordo com a mais recente edição da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional pela Conservação da Natureza, cerca de metade das 634 espécies e subespécies de primatas do planeta estão em perigo de extinção.
"Caso você estude a Lista Vermelha, descobrirá que a Ásia tem de longe a mais elevada porcentagem nas categorias ameaçadas", disse Mittermeier.
Quando Pan chegou a Guangxi, o desafio de estudar os langures, quanto mais protegê-los, parecia insuperável. Ele e um aluno passaram seus dois primeiros anos de trabalho ocupando alojamentos militares deteriorados, construídos em blocos de concreto que pareciam a ponto de desabar, e não contavam com eletricidade ou água corrente.
Na época, a população dos langures estava em queda livre, tendo caído de um total estimado em dois mil espécimes no final da década de 80 a menos de 500, uma década mais tarde. Em termos históricos, os agricultores locais tinham o costume de caçar langures para fins alimentícios, ocasionalmente, mas na verdade eram equipes de caça vindas de fora da região que estavam exercendo o maior impacto sobre a população.
"Nos anos 90, a economia chinesa entrou em forte expansão, e aqueles que dispunham de dinheiro - governadores, proprietários de fábricas, empresários - todos desejavam comer os animais da nossa fauna, para demonstrar o quanto eram poderosos", diz Pan, 71.
Um grande avanço no que tange à proteção da espécie foi conseguido em 1997, quando Pan ajudou aldeões locais a construir um aqueduto que garantia às aldeias um abastecimento de água limpa. Pouco depois, um dos agricultores libertou um langur apanhado em uma armadilha e o levou a Pan.
"Quando você ajuda os aldeões, eles com certeza gostam muito de ajudar você, para retribuir", afirma o biólogo.
Como defensor da região, um papel que ele mesmo decidiu que lhe cabia assumir, Pan conseguiu levantar dinheiro para a construção de uma nova escola em outra das aldeias locais, supervisionou a construção de clínicas de saúde em duas cidades da província próximas da reserva e organizou exames médicos preventivos para toda a população feminina da área.
"Agora, quando pessoas vêm de fora e tentam caçar langures, os moradores locais impedem que eles entrem na região", disse Pan.
No entanto, os aldeões continuam dependentes das árvores da reserva florestal para a lenha de que necessitam como combustível. "Se eu dissesse a eles que não podem cortar as árvores, não estaria agindo corretamente", afirma Pan. "Afinal, todas as pessoas aqui precisam alimentar suas famílias".
Em 2000, ele conquistou um prêmio ambiental no valor de US$ 12,5 mil concedido pela Ford Motors. Pan investiu o dinheiro na construção de digestores de gases biológicos - poços revestidos de concreto que servem para capturar o gás metano contido nos dejetos animais. Isso basta para fornecer combustível suficiente à alimentação de cerca de mil pessoas.
Com base no sucesso daquele projeto, o governo federal chinês decidiu financiar uma elevação de 700% no projeto de construção de tanques de gases biológicos. Hoje, cerca de 95% da população que vive nas regiões adjacentes à reserva usam gases biológicos como combustível em suas cozinhas.
Como resultado, o número e a diversidade de árvores na reserva florestal -que constituem a principal fonte de alimento e o único habitat dos langures- se elevou de maneira significativa.
"Quando cheguei aqui pela primeira vez", disse Pan, "as encostas das colinas eram rocha nua. Agora, se tornou difícil ver as rochas e ainda mais difícil ver os langures, devido às árvores que vêm crescendo".
Quase todo o dinheiro que Pan emprega em seus projetos de desenvolvimento vem de fora da região, mas os esforços dele, não passaram despercebidos pelos funcionários do governo local. Em 2001, o governo do município bancou a construção de um centro de pesquisa instalado na reserva, com acomodações para Pan e para seus alunos, uma casa de hóspedes e um centro de educação, cuja construção ainda não concluída, para exibir a diversidade biológica da região.
Mas ainda restam interessados em explorar a beleza cênica do parque para fins lucrativos. Uma proposta recente incluía um hotel cinco estrelas, e faria do prédio do centro de educação um cassino e rinha para brigas de galo.
Em 2002, quando Pan inaugurou o Parque Ecológico de Chongzuo, a pequena porção da Reserva Natural de Nongguan que está aberta ao público, ele fez entalhar nos pilares de pedra do portão de entrada uma citação de Mêncio, um filósofo da China antiga: "em uma sociedade ideal, todos deveriam trabalhar pelo bem-estar do próximo".
A citação era um sutil lembrete aos funcionários do governo local de que o parque não deveria ser utilizado indevidamente para promover ganhos financeiros pessoais. Mas a citação também tinha por objetivo os interessados em proteger os langures de que a proteção à comunidade humana da área era igualmente prioritária.
"Essa é a coisa mais importante que podemos fazer", disse Pan. "Se os aldeões não foram capazes de se manter alimentados, os langures não terão chance alguma".
Pan é um líder carismático que não hesita em conduzir seus alunos a trabalhos de campo sob condições terríveis, e que tampouco vacila em se fantasiar de langur em celebrações locais a fim conscientizar o mundo sobre a espécie.
O trabalho dele em conservação da fauna começou em 1980, com estudos do panda gigante da província de Sichuan, em companhia do biólogo George Schaller, da Sociedade de Conservação da Fauna, que é ligada ao zoológico do Bronx.
Schaller deixou a China em 1985, mas Pan passou mais 11 anos envolvido em trabalho de campo e suas pesquisas se provaram essenciais para a preservação de habitats críticos para os pandas.
Mas sua maior realização pode bem ter sido aquilo que transmitiu às gerações vindouras. Em 1991, ele fundou o departamento de conservação biológica da Universidade de Pequim - hoje conhecido como Centro de Natureza e Sociedade -, uma das primeiras instituições chinesas dedicadas ao estudo e proteção das espécies ameaçadas.
Hoje comandado por 10 antigos alunos de Pan, o departamento conduz trabalhos de campo sobre inúmeras espécies, dos golfinhos do Mar do Sul da China aos leopardos da neve no altiplano do Tibete.
Comportamento dos grupos traz vantagens evolutivasPan começou a se interessar pelos langures no começo dos anos 90, depois de ler Sociobiologia: A Nova Síntese, o inovador livro do biólogo e ambientalista Edward Wilson, da Universidade Harvard.
O texto sugeria que certos comportamentos sociais propiciavam vantagens evolutivas. Pan queria testar as idéias de Wilson em campo, mas precisava de uma espécie mais gregária que o panda, que vive basicamente em modo solitário.
Ele vem estudando os langures desde 1996, e observou numerosos casos de infanticídio - nos quais um macho adulto que assumiu o comando de um grupo familiar mata todos os filhotes do macho que anteriormente liderava o grupo.
O objetivo primário do infanticídio não é matar, mas induzir as fêmeas que cuidam dos filhotes a começar a ovular com mais rapidez, o que amplia as chances de o macho usurpador procriar. O infanticídio já havia sido documentado em outras espécies, mas ele foi o primeiro a observá-lo entre os langures de cabeça branca.
Com base em observações de eventos de sucessão entre os langures machos que não envolviam a prática don infanticídio, Pan suspeita que a estratégia reprodutiva do animal pode estar evoluindo de maneira a incluir acordos negociados entre machos. Em casos como esses, dois machos dividem fêmeas e território entre si sem matar os filhotes.
"Eu gostaria de saber qual é o grau de proximidade entre os machos, em termos de parentesco", disse Patricia Wright, da Universidade de Stony Brook, em Nova York, sobre as mais recentes observações de Pan, "mas ainda assim o trabalho dele suscita uma série de possibilidades teóricas interessantes".
De volta a Chongzuo, Pan conduz um pequeno grupo de visitantes a um córrego ladeado por grama alta e formações rochosas calcárias. Acima do grupo de pessoas, os langures saltitavam de árvore em árvore, na direção de uma encosta rochosa onde planejavam passar a noite.
O biólogo espera que os descendentes dos animais se espalhem para além da reserva e voltem a povoar as montanhas vizinhas, da mesma maneira que espera que outros cientistas continuem o trabalho que iniciou.
"Não posso fazer todo o trabalho de conservação que é necessário aqui na China", disse Pan, "mas meus alunos e muitos outros cientistas vão continuar na direção desse objetivo". Tradução: Paulo Migliacci.
The New York Times
Na Reserva Natural de Nongguan, no município de Chongzuo, província de Guangxi, os descendentes reais das crianças desse mito - macacos conhecidos como langures-de-cabeça-branca - continuam a se movimentar entre os galhos das árvores da floresta.
Enquanto os langures se deslocam por um monte rochoso muito alto em meio a uma paisagem digna dos grandes pintores da natureza chinesa, eles parecem intocados pelo tempo e pela mudança, mas a sobrevivência da espécie, e da floresta que a abriga, representa um feito notável.
Em 1996, quando os langures eram considerados como espécie sob ameaça extrema, Pan Wenshi, o mais renomado especialista chinês na biologia dos pandas, decidiu visitar Chongzuo para estudá-los, em meio ao que era, então, uma base militar abandonada. Na época, ainda havia caçadores que removiam os jovens langures, caracterizados por uma cor amarelo canário, de suas baluartes nas cristas rochosas, e aldeões que devastavam a floresta para obter lenha.
Pan rapidamente contratou seguranças para proteger os animais restantes, e foi um passo além, tomando medidas que levavam em conta também os fatores sociais e econômicos mais amplos que colocavam a espécie em risco. Pan reconhecia que o mito sobre a origem dos animais era lenda, mas acreditava igualmente que medidas que reduzissem a extrema pobreza da região eram essenciais para que os animais pudessem sobreviver em longo prazo.
Na reserva natural de 24 km² na qual ele concentrou seus estudos, a população de langures se ampliou a mais de 500, ante os 96 que existiam em 1996.
"É um modelo quanto ao que se pode fazer em regiões de crise que sofreram devastação ambiental causada pelo desenvolvimento", disse Russell Mittermeier, presidente da Conservation International. "Pan combinou todos os elementos - proteção, pesquisa, ecoturismo, bom relacionamento com a comunidade local. Ele realmente transformou os langures na base da vida de toda a região".
Parte do que torna tão notáveis as realizações de Pan é o sucesso que ele está obtendo, se comparado com o destino dos primatas em outras regiões. De acordo com a mais recente edição da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional pela Conservação da Natureza, cerca de metade das 634 espécies e subespécies de primatas do planeta estão em perigo de extinção.
"Caso você estude a Lista Vermelha, descobrirá que a Ásia tem de longe a mais elevada porcentagem nas categorias ameaçadas", disse Mittermeier.
Quando Pan chegou a Guangxi, o desafio de estudar os langures, quanto mais protegê-los, parecia insuperável. Ele e um aluno passaram seus dois primeiros anos de trabalho ocupando alojamentos militares deteriorados, construídos em blocos de concreto que pareciam a ponto de desabar, e não contavam com eletricidade ou água corrente.
Na época, a população dos langures estava em queda livre, tendo caído de um total estimado em dois mil espécimes no final da década de 80 a menos de 500, uma década mais tarde. Em termos históricos, os agricultores locais tinham o costume de caçar langures para fins alimentícios, ocasionalmente, mas na verdade eram equipes de caça vindas de fora da região que estavam exercendo o maior impacto sobre a população.
"Nos anos 90, a economia chinesa entrou em forte expansão, e aqueles que dispunham de dinheiro - governadores, proprietários de fábricas, empresários - todos desejavam comer os animais da nossa fauna, para demonstrar o quanto eram poderosos", diz Pan, 71.
Um grande avanço no que tange à proteção da espécie foi conseguido em 1997, quando Pan ajudou aldeões locais a construir um aqueduto que garantia às aldeias um abastecimento de água limpa. Pouco depois, um dos agricultores libertou um langur apanhado em uma armadilha e o levou a Pan.
"Quando você ajuda os aldeões, eles com certeza gostam muito de ajudar você, para retribuir", afirma o biólogo.
Como defensor da região, um papel que ele mesmo decidiu que lhe cabia assumir, Pan conseguiu levantar dinheiro para a construção de uma nova escola em outra das aldeias locais, supervisionou a construção de clínicas de saúde em duas cidades da província próximas da reserva e organizou exames médicos preventivos para toda a população feminina da área.
"Agora, quando pessoas vêm de fora e tentam caçar langures, os moradores locais impedem que eles entrem na região", disse Pan.
No entanto, os aldeões continuam dependentes das árvores da reserva florestal para a lenha de que necessitam como combustível. "Se eu dissesse a eles que não podem cortar as árvores, não estaria agindo corretamente", afirma Pan. "Afinal, todas as pessoas aqui precisam alimentar suas famílias".
Em 2000, ele conquistou um prêmio ambiental no valor de US$ 12,5 mil concedido pela Ford Motors. Pan investiu o dinheiro na construção de digestores de gases biológicos - poços revestidos de concreto que servem para capturar o gás metano contido nos dejetos animais. Isso basta para fornecer combustível suficiente à alimentação de cerca de mil pessoas.
Com base no sucesso daquele projeto, o governo federal chinês decidiu financiar uma elevação de 700% no projeto de construção de tanques de gases biológicos. Hoje, cerca de 95% da população que vive nas regiões adjacentes à reserva usam gases biológicos como combustível em suas cozinhas.
Como resultado, o número e a diversidade de árvores na reserva florestal -que constituem a principal fonte de alimento e o único habitat dos langures- se elevou de maneira significativa.
"Quando cheguei aqui pela primeira vez", disse Pan, "as encostas das colinas eram rocha nua. Agora, se tornou difícil ver as rochas e ainda mais difícil ver os langures, devido às árvores que vêm crescendo".
Quase todo o dinheiro que Pan emprega em seus projetos de desenvolvimento vem de fora da região, mas os esforços dele, não passaram despercebidos pelos funcionários do governo local. Em 2001, o governo do município bancou a construção de um centro de pesquisa instalado na reserva, com acomodações para Pan e para seus alunos, uma casa de hóspedes e um centro de educação, cuja construção ainda não concluída, para exibir a diversidade biológica da região.
Mas ainda restam interessados em explorar a beleza cênica do parque para fins lucrativos. Uma proposta recente incluía um hotel cinco estrelas, e faria do prédio do centro de educação um cassino e rinha para brigas de galo.
Em 2002, quando Pan inaugurou o Parque Ecológico de Chongzuo, a pequena porção da Reserva Natural de Nongguan que está aberta ao público, ele fez entalhar nos pilares de pedra do portão de entrada uma citação de Mêncio, um filósofo da China antiga: "em uma sociedade ideal, todos deveriam trabalhar pelo bem-estar do próximo".
A citação era um sutil lembrete aos funcionários do governo local de que o parque não deveria ser utilizado indevidamente para promover ganhos financeiros pessoais. Mas a citação também tinha por objetivo os interessados em proteger os langures de que a proteção à comunidade humana da área era igualmente prioritária.
"Essa é a coisa mais importante que podemos fazer", disse Pan. "Se os aldeões não foram capazes de se manter alimentados, os langures não terão chance alguma".
Pan é um líder carismático que não hesita em conduzir seus alunos a trabalhos de campo sob condições terríveis, e que tampouco vacila em se fantasiar de langur em celebrações locais a fim conscientizar o mundo sobre a espécie.
O trabalho dele em conservação da fauna começou em 1980, com estudos do panda gigante da província de Sichuan, em companhia do biólogo George Schaller, da Sociedade de Conservação da Fauna, que é ligada ao zoológico do Bronx.
Schaller deixou a China em 1985, mas Pan passou mais 11 anos envolvido em trabalho de campo e suas pesquisas se provaram essenciais para a preservação de habitats críticos para os pandas.
Mas sua maior realização pode bem ter sido aquilo que transmitiu às gerações vindouras. Em 1991, ele fundou o departamento de conservação biológica da Universidade de Pequim - hoje conhecido como Centro de Natureza e Sociedade -, uma das primeiras instituições chinesas dedicadas ao estudo e proteção das espécies ameaçadas.
Hoje comandado por 10 antigos alunos de Pan, o departamento conduz trabalhos de campo sobre inúmeras espécies, dos golfinhos do Mar do Sul da China aos leopardos da neve no altiplano do Tibete.
Comportamento dos grupos traz vantagens evolutivasPan começou a se interessar pelos langures no começo dos anos 90, depois de ler Sociobiologia: A Nova Síntese, o inovador livro do biólogo e ambientalista Edward Wilson, da Universidade Harvard.
O texto sugeria que certos comportamentos sociais propiciavam vantagens evolutivas. Pan queria testar as idéias de Wilson em campo, mas precisava de uma espécie mais gregária que o panda, que vive basicamente em modo solitário.
Ele vem estudando os langures desde 1996, e observou numerosos casos de infanticídio - nos quais um macho adulto que assumiu o comando de um grupo familiar mata todos os filhotes do macho que anteriormente liderava o grupo.
O objetivo primário do infanticídio não é matar, mas induzir as fêmeas que cuidam dos filhotes a começar a ovular com mais rapidez, o que amplia as chances de o macho usurpador procriar. O infanticídio já havia sido documentado em outras espécies, mas ele foi o primeiro a observá-lo entre os langures de cabeça branca.
Com base em observações de eventos de sucessão entre os langures machos que não envolviam a prática don infanticídio, Pan suspeita que a estratégia reprodutiva do animal pode estar evoluindo de maneira a incluir acordos negociados entre machos. Em casos como esses, dois machos dividem fêmeas e território entre si sem matar os filhotes.
"Eu gostaria de saber qual é o grau de proximidade entre os machos, em termos de parentesco", disse Patricia Wright, da Universidade de Stony Brook, em Nova York, sobre as mais recentes observações de Pan, "mas ainda assim o trabalho dele suscita uma série de possibilidades teóricas interessantes".
De volta a Chongzuo, Pan conduz um pequeno grupo de visitantes a um córrego ladeado por grama alta e formações rochosas calcárias. Acima do grupo de pessoas, os langures saltitavam de árvore em árvore, na direção de uma encosta rochosa onde planejavam passar a noite.
O biólogo espera que os descendentes dos animais se espalhem para além da reserva e voltem a povoar as montanhas vizinhas, da mesma maneira que espera que outros cientistas continuem o trabalho que iniciou.
"Não posso fazer todo o trabalho de conservação que é necessário aqui na China", disse Pan, "mas meus alunos e muitos outros cientistas vão continuar na direção desse objetivo". Tradução: Paulo Migliacci.
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