CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 11-2-10
Haiti - Patrimônio cultural abalado
Impacto do terremoto foi enorme para prédios históricos, igrejas imponentes e obras de arte no país
Enquanto o Haiti continua a contabilizar as vítimas do terremoto do mês passado – a estimativa oficial de mortos chegou ontem a 212 mil –, outras perdas começam a ser notadas em meio à devastação no país. Os danos ao patrimônio cultural haitiano estão entre as mais lamentadas por especialistas.
– Olhamos e dizemos “Meu Deus”. Vamos mais adiante e dizemos de novo “Meu Deus”. Não avaliamos todos os danos em todas as áreas culturais, mas sabemos que a situação é feia – relatou Teeluck Bhuwanee, representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Haiti, ao jornal americano The New York Times.
Mesmo que muitos símbolos culturais tenham sido saqueados e destruídos durante as convulsões políticas do país, o Haiti sempre teve orgulho de sua história como a primeira república independente negra do mundo. Seus edifícios públicos buscavam captar a grandeza do passado.
O Palácio Nacional era um deles. Sede do governo e principal símbolo do país, é um grande prédio cercado por portões de ferro que data de mais de um século, mas foi projetado em estilo renascentista francês para evocar uma época mais antiga. Suas imponentes cúpulas brancas desmoronaram. Além disso, peças de arte e esculturas exibidas em seus salões também parecem ter sucumbido ao tremor.
São as igrejas, porém, que reservam as piores cenas. A Catedral de Porto Príncipe, por exemplo, é agora apenas uma lembrança do que já foi. Já na Catedral Episcopal da Santíssima Trindade, os murais com versões haitianas de passagens bíblicas antes exibidas em suas paredes internas agora se assemelham a um quebra-cabeça. A negociadora de obras de arte Axelle Liautaud fez as equipes de demolição interromperem o trabalho no local, com a esperança de que tijolos e pedaços de concreto contendo partes dos murais pudessem ser restaurados.
– Já sofremos tanta coisa. Nada do que é novo pode substituir o que é antigo. Tudo foi embora em um só dia – disse ao Times.
Mesmo assim, em meio à destruição, há sinais de esperança. Construído no subsolo, o Museu Nacional do Haiti aparentemente teve suas principais coleções preservadas. Nos Arquivos Nacionais, documentos históricos também sobreviveram. E o Escravo Foragido Desconhecido, escultura gigante na frente do Palácio Nacional, continua de pé.
O escultor haitiano Patrick Vilaire reuniu-se com outras pessoas preocupadas em salvar alguns dos textos históricos do país. A prioridade é preservar as coleções de livros em duas residências particulares. Questionado sobre o motivo pelo qual se preocupa com livros antigos depois de uma catástrofe humana, Vilaire respondeu:
– Os mortos estão mortos, sabemos disso. Mas, se não tivermos a memória do passado, o resto de nós não consegue dar continuidade à vida.
Zero Hora
Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial