ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

04 maio, 2010

CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 4-5-10

Caixa lança quatro editais de patrocínio a projetos culturaisEncadernação artesanal de livros, uma obra de arte!

A Caixa Econômica Federal anunciou quatro editais de apoio a projetos culturais para 2011 que somam R$ 33,1 milhões. A novidade neste ano é a criação do Programa Caixa de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro. Serão publicados também o de Ocupação dos Espaços Culturais, o de Apoio ao Artesanato Brasileiro e o de Festivais de Teatro e Dança.
As inscrições de projetos para todos os programas passam a ser por meio de formulário eletrônico.
Todas as informações necessárias para a inscrição de projetos estarão disponíveis no regulamento de cada programa, no site http://www.caixacultural.com.br/html/index.html
As dúvidas relacionadas aos regulamentos deverão ser encaminhadas exclusivamente por meio da ferramenta “Fale conosco”, disponibilizada no site.
Gazeta do Povo



Com quase 32 anos de UFRJ, José Carlos encaderna livros desde os 14 anos de idade. Grande parte do que sabe aprendeu de seu pai, que, como herança, lhe deixou a profissão. A outra parte descobriu por si, ao logo da vida. Hoje, José Carlos trabalha encadernando e recuperando os livros da FAU, desde 2004.José Carlos entrou para a UFRJ como desenhista do ETU, o extinto Escritório Técnico Universitário. De lá, foi para a pós-graduação da antiga PR2, onde encadernou os livros da biblioteca de lá. Atualmente está atua na Faculdade de Arquitetura. Quem o chamou para a FAU foi o professor Jerônimo de Paula, então chefe do Departamento de História e Teoria da Arquitetura (DHT), para restaurar os livros do Núcleo de Estudos da Arquitetura Colonial, o NEAC. Durante sua passagem por lá, o prof. Veríssimo pediu ao prof. Pablo Benett, então diretor da FAU, um novo espaço para a oficina, voltada para a conservação do acervo daquela faculdade. Tal espaço situa-se no térreo do prédio da FAU, com o apoio indispensável do prof. Gustavo Rocha, atual diretor, e amplo suporte de Dilza Alvim, chefe da Biblioteca. “O incentivo e suporte de ambos” – diz José Carlos, muito grato – “ainda são valiosos para a continuidade do serviço de recuperação dos livros da biblioteca”.


Zé Carlos faz jus a todo esse apoio. Ele, que também já fez muita encadernação por encomenda, transforma o livro “velho” numa obra de arte única, através de técnica artesanal, nos estilos francês, português, italiano ou espanhol. Como a técnica de recuperação de documentos, restaurar livros querer apuro e disposição. E, acima de tudo, bom gosto. Por isso, o tempo de restauração e encadernação, que pode chegar a vários dias, depende do estado do livro e do acabamento desejado


Breve história da encadernação
A prática de encadernar livros data do século VII d.C., na China. Tempos depois, invadiu a Europa, sendo utilizada, durante a Idade Média, nos Mosteiros e nas Universidades. Os mosteiros contribuíram muito para a encadernação, e, até o século XII, os monges encadernavam seus próprios manuscritos: capas de madeira eram encomendadas a carpinteiros, e ourives as cobriam com ricas fazendas, realçadas com motivos em ouro e prata. Na época do Renascimento, desenvolveu-se com vigor a técnica de marmorização, a fim de incrementar ainda mais a capa das obras. Tendo como produto final o papel marmorizado, este foi largamente usado durante Humanismo, quando da valorização das letras e da concepção racional do mundo.
Entretanto, a primavera da encadernação encontrou um obstáculo histórico. Com o advento da Revolução Industrial, a partir do século XVIII, a criação de novas máquinas levou a um trato diferente em relação ao livro. Este passou a ser publicado em capas cada vez mais padronizadas e com materiais de menor qualidade. No entanto, esse não foi o fim da encadernação artesanal. Atualmente, embora se encontre extremamente reduzida (segundo José Carlos, menos de 10 artesãos a praticarem no Rio de Janeiro), ainda há quem faça encadernação com material nobre. Tais materiais devem estar à altura de obra de arte e, ao mesmo tempo, devem servir como ponto de união entre o texto do livro e a decoração.Desmanche e limpeza do livro
1ª etapa: desmancha-se o livro
Recebido o livro em mau estado da biblioteca, faz-se uma limpeza nele, retirando as linhas envelhecidas, geralmente de má qualidade, e o excesso de cola. É possível notar, então, que grande parte dos livros sofre, durante sua fabricação, um processo inadequado de encadernação, devido à pressa. Em outras vezes, os erros são cometidos por outros encadernadores artesanais, por falta de conhecimento. José Carlos aponta dicas de como não se encadernar um livro: “Em primeiro lugar, jamais se usa cola plástica. Nem fitas adesivas ou linhas de fibra sintética. Rasgos no livro antigo devem ser fechados com papel vegetal, colados com uma cola especial à base de trigo”.
2ª etapa: após desmanchado, o livro é serrotado para costura
Após desmanchado, abrem-se sulcos na lombada nua do livro. Nesses sulcos entrarão a nova linha.

3ª etapa: costura-se o livro
Para tanto, usa-se um “costurador” . Construído pelo próprio José Carlos, consiste num objeto retangular de madeira, ao qual são afixadas dezenas de pregos, que servem para esticar a nova linha que será posta no livro. Tal linha, necessariamente forte e resistente, pode ser fio de vela, como na imagem, ou mesmo cadarço, conforme o livro, a necessidade ou o gosto do cliente. Os fios de vela entram nos sulcos feitos durante a serrotagem.

4ª etapa: após a costura, prepara-se o livro para receber nova capa
O livro está quase pronto para ser encadernado. Forra-se o com papel Kraft, bastante parecido com papel pardo e bem resistente. Coloca-se também a “guarda”, papel usado para guardar a frente do livro. Trata-se de papel apergaminhado, o qual, além de ser branco, é bem encorpado. Papelão e papel acetinado são outros tipos de papel usados na encadernação.
Outra opção é fazer encadernação em couro. Entre as opções, estão: pelica, couro de porco, de antílope, de carneira. “Também são raros os a que fazem”, revela José Carlos. Devida à falta de especialização, de tempo e de material, costuma-se substituí-lo por karpel, pano (brim) e até papel fantasia. Mesmo assim, ainda segundo o artesão, poucos sabem fazer.

5ª etapa: a douração
Uma vez encapado o livro, é chegado o momento da “douração”, ou seja, de pôr, em sua lombada, o título e a numeração, além dos motivos decorativos, conforme cada caso. Usa-se, então, uma fita de papel dourado, em cujo verso de pressiona um carimbo bem aquecido. Como resultado, surge, na capa do livro, a figura carimbada. De acordo com José Carlos, o dourador profissional procura deixar criar calo do dedo, para poder suportar o calor sobre a pele sem acessórios.
Nessa complexa tarefa, usam-se mais de 17 ferramentas, entre as quais martelo, tesourão, pincel, régua-escala, linha, agulha, cola de madeira, canetaFerramentas utilizadas.

 
O Papel Marmorizado
Diz-se “marmorizado” o papel que reveste a capa dos livros de encadernação artesanal. Belíssimos nas cores e formas, seu processo de confecção requer um longo aprendizado e uma boa dose de criatividade e senso estético. Porém, uma vez que se detém o conhecimento básico do procedimento, é possível dar asas à imaginação. O resultado é sempre inédito. “Dois papéis marmorizados podem até ser parecidos entre si; mas, na verdade, são únicos como impressão digital”, anuncia José Carlos.

De acordo com ele, há coisas na encadernação que só se aprende vendo, como em todo processo artístico cuidadoso. O modo de fazer a tinta é uma delas, o que dá, à confecção, um tom sigiloso. Artesanal como o restante do processo, quem faz é a própria pessoa. A beleza e a complexidade do produto final serão proporcionais à experiência do artesão. No entanto, um papel marmorizado que seja feio para uma pessoa poderá, muito bem, dizer muito ao espírito de outra.

Há diversas maneiras de pintar o papel marmorizado. Primeiramente, aplica-se uma base líquida, feita à base de algas marinhas e água. A proporção de cada um desses componentes definirá a densidade do papel. Em seguida, aplica-se a misteriosa tinta. As mais diferentes cores podem ser usadas, e infinitas combinações podem ser feitas. É importante, porém, que o papel marmorizado fique em harmonia com a lombada do livro que será posta no livro.
Papel Marmorizado

Rafael N. Godinho


 Papel Marmorizado
 Papel Marmorizado
 Recebendo a "douração"
 Forro com papel Kraft
 Consturador

Antes e depois

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