CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 27-10-10
Caruaru // Mais que um local para exibição de peças, o Espaço Zé Caboclo é usado para ajudar no aprendizado
A bravura dos cangaceiros, a fortaleza dos retirantes, os versos de um poeta, a sanfona e a boiada. Nas salas da casa de máquina de uma antiga fábrica de algodão, construída em 1935, a história dos nordestinos é contada nas vozes da seca. O acervo do Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo, no Pátio de Eventos de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, traz as obras genuínas dos artesãos do Alto do Moura. Fruto do barro, a cerâmica denota o cotidiano da luta, os causos e folguedos. Em exposição, mais do que as peças nascidas da terra batida. Das aquarelas, surgem as cores da resistência, os traços de uma arte simples, a cara de uma nação. Na música, as rimas inconfundíveis do rei do baião, Luiz Gonzaga, cantam as verdades do chão rachado. E em 2.300 peças, se revela a história do Nordeste.
Estudantes aprendem mais sobre a diversidade cultural nordestina e se tornam especiais para a diretora Regina Oliveira Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
Fundado em 1988, o Museu do Barro expõe em cinco ambientes obras de ceramistas do Alto do Moura e do Mestre Vitalino, considerado a maior expressão de arte popular brasileira. Em uma das salas,a Coleção Abelardo Rodrigues mostra mais do que a cultura tipicamente pernambucana, obras de cerâmica de artistas de outros estados, como Ceará e Bahia, compõem o cenário repleto de técnicas e estilos diferentes para a mesma realidade. Cada peça mostra bem mais do que representa. Nos detalhes se escondem verdades e histórias que marcaram uma época. Um exemplo é o anjo cangaceiro de barro feito por Mestre Vitalino para ser entregue ao papa João Paulo II através de dom Helder Câmara. O presente foi considerado uma afronta pela Igreja Católica que tentou impedir a escultura de chegar ao Vaticano, mas, ainda assim, foi entregue e muito bem recebida. Hoje uma réplica no museu lembra o acontecido. Para os visitantes, o passeio é mais do que uma simples visita a antiguidades, é o descobrir das raízes. "É o resgate da nossa história. Sentimos necessidades de conhecer mais sobre nós mesmos e de mostrar isso para as futuras gerações", salientou Terezinha Souza, 40, diretora do Centro Educacional Paulo Freire.
Em outroambiente, na Pinacoteca Luísa Cavalcanti Maciel, que este ano completa cinco décadas de carreira, uma exposição fixa do trabalho da artista caruaruense explica os motivos pelo qual a pintora é considerada referência nas artes plásticas. Além disso, uma outra sala conta ainda com exposições temporárias e oficinas de atividades educativas com rotatividade bimestral. No espaço dedicado a Luiz Gonzaga, fotografias, documentos, troféus, roupas, discos e instrumentos enchem de música uma das salas sobre o ícone da música regional. Outras duas salas são dedicadas aos festejos juninos da capital do forró, à devoção aos santos padroeiros da época. E em uma área anexa, o Espaço Elba Ramalho traz adereços de shows, discos e objetos da trajetória artística da cantora. Diariamente, instituições de ensino fazem excursões ao museu para que os alunos possam desvendar os segredos da cultura popular e conhecer as obras dos conterrâneos. "É a primeira vez que eu venho aqui. Gostei muito de tudo, principalmente das fotos do baião. Achei muito bonita a parte de Luiz Gonzaga", comentou Amanda Maria da Silva, de apenas 8 anos, estudante da 3ª série.
O Museu do Barro é mantido pela Prefeitura Municipal de Caruaru através da Fundação de Cultura e do governo do estado. De acordo com a diretora Regina Lúcia de Oliveira, a manutenção do espaço faz parte de uma missão maior. "O museu é parte de um processo educativo para deixar a cultura sempre viva".
Serviço
Museu do Barro
Funcionamento: Terça a sábado, das 8h às 17h e aos domingos, das 9h às13h
Ingresso: R$ 1 (inteira) e R$ 0,50 (meia)
Adaíra Sene
diariodepernambuco.com.br
O site do Pavilhão das Culturas Brasileiras já está disponível.
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