CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 14-3-11

Santa Teresa atrai cada vez mais pessoas com seu charme e roteiros alternativos

Rio - ‘Santa Teresa tem uma atmosfera especial. Falo para as pessoas que esta é minha cidade do interior, onde todos se conhecem, você pode tomar cerveja na calçada com os amigos... Quando me perguntam se o bairro é perigoso, eu respondo: é mesmo, me deixa sozinho por lá!”, brinca o sambista e morador Moyseis Marques, 32 anos, enquanto caminha pelos trilhos do bondinho que corta o bairro.

Apesar do desejo do músico de manter secreto seu ‘cantinho provinciano’, com a pacificação e a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na região, no início de fevereiro, Santa Teresa está resgatando seus tempos áureos de reduto da arte e da boemia carioca.

Foto: Carlo Wrede/ Agência O Dia

Pontos turísticos que andavam abandonados, como o Parque das Ruínas e o Largo das Neves, voltaram a ser disputados por visitantes e até mesmo por moradores. Que o diga a cantora Amy Winehouse, que, na contramão de estrelas internacionais que se hospedam na Zona Sul, optou pela suíte 51 do chique, porém discreto, Hotel Boutique Santa Teresa Relais & Chateaux.

Novos estabelecimentos também estão dando ainda mais charme ao local, como o recém-reaberto Café das Ruínas, com seu concorrido café da manhã com vista para a Baía de Guanabara. Para a turma fashion, há endereços imperdíveis como o Eu Amo Vintage, loja que trabalha com vintage original, e a Rasgando Pano, especializada em moda alternativa e acessórios.

“Eu moro aqui há 9 anos e sei que, quem mora em Santa, admira o bairro e não quer sair daqui. A UPP é importante para desmitificar a ideia de que esta é uma região violenta. Assim, quem tinha medo de vir, passa a frequentar o bairro”, torce Débora Niemeyer, dona da Eu Amo Vintage. “Dá para notar que Santa está mais movimentada. Eu volto andando para casa às 3h da manhã bem mais tranquila agora”, conta a atriz Jéssica Barbosa, moradora do bairro há 4 anos.

Conhecida como a ‘Montmartre Carioca’ — classificação dada pelo governador Sérgio Cabral em referência ao bairro parisiense que abriga artistas e bares —, Santa Teresa reúne cerca de 100 ateliês, além de bares, restaurantes, cafés, lojinhas de artesanato, brechós e museus. Sem falar nos charmosos bondes, tombados como patrimônio histórico e símbolos da região, que têm inclusive um museu para chamar de seu.

“O bondinho é o coração do nosso bairro. Santa é uma tristeza sem o bonde”, explica o artista plástico Getúlio Damado que fez seu ateliê dentro de um ‘amarelinho’. Sobre o bairro, o artista é só elogios. “O carisma da comunidade é o encanto do local. Quem vem a primeira vez, volta”, diz. Santa Teresa agradece.

Endereços

ADEGA DO PIMENTA

Criada pelo alemão Holf Pfeffer, a casa é toda enfeitada com canecas de chope e proporciona aos frequentadores a vista dos bondinhos passando na rua. O bar oferece delícias da culinária alemã, como o Kassler (costeleta de porco defumada, R$ 26) e a feijoada alemã (com feijão branco, salsicha branca e defumada, lombo, costela, a R$ 38,50). Rua Almirante Alexandrino 296 (2224-7554).

ATELIÊ FAVORETTO

O artista plástico João Favoretto expõe trabalhos de arte contemporânea baseados no estudo da flora brasileira. Visitas agendadas. Rua Murtinho Nobre 75 (2526-0988).

ATELIÊ MARCIUS TRISTÃO

Peças abstratas em aço, ferro, bronze e alumínio esculpidas a partir de moldes de areia. Visitas agendadas. Rua Paula Matos 46 (2232-5372).

ATELIÊ ONG CENA URBANA

O espaço reúne trabalhos de artistas ligados a projetos sociais. Em exposição, obras que representam arte contemporânea, arte reciclada, eco design, moda e decoração. Rua Almirante Alexandrino 511, Largo dos Guimarães.

BAR DO GOMEZ

Também conhecido como Armazém São Thiago, funciona desde 1907, e ganhou o nome ‘Gomez’ devido ao sobrinho-neto do fundador, José Gomez Cantorna. Até hoje, o local mantém características de um botequim dos anos 20. Fazem sucesso no cardápio petiscos como o bolinho de bacalhau (R$ 3), o croquete alemão de carne (R$ 3,90) e a polpeta (R$ 3,50). Rua Áurea 26 (2232-0822).

BAR DO MINEIRO

Um do símbolos do Largo do Guimarães (e da boemia do bairro), o bar tem como atrativo a batida de gengibre (R$ 4) e a porção de minipastéis de feijão (R$ 16). Rua Paschoal Carlos Magno 99 (2221-9227).

BONDES

Não há dúvidas de que o jeito mais charmoso de conhecer Santa Teresa é através dos bondinhos, que funcionam desde 1872 e são os únicos ainda em circulação na cidade. O passeio custa apenas R$ 0,60 — quem for em pé não paga passagem —, e proporciona uma viagem no tempo, que começa na Estação dos Bondes, na Rua Lélio Gama, Largo da Carioca, sobe os Arcos da Lapa e segue pelas ladeiras do bairro. Os bondes saem a cada 20 minutos. Os interessados em ouvir a história do lugar, basta embarcar nos horários de visita guiada, das 10h às 14h. Os ‘amarelinhos’ contam com um museu na Rua Carlos Brandt, onde os visitantes conferem uma réplica do primeiro bonde, de 1859, que era puxado por burros.

CAFÉ DAS RUÍNAS

O carro-chefe do estabelecimento é o café da manhã (R$ 18), servido aos sábados e domingos, das 9h às 13h, com pão na chapa, taça de salada de frutas da estação, suco de laranja, bolo, frios e café. O local, além de charmoso, oferece uma espetacular vista para a Baía de Guanabara. Rua Murtinho Nobre 169, Parque das Ruínas (9271-7274/8206-9590). Pagamento somente em dinheiro.

CAFECITO BAR

Endereço descolado para tomar um café expresso e saborear sanduíches, brownies, queijos e cervejas artesanais. Rua Paschoal Carlos Magno 121 (2221-9439).

EU AMO VINTAGE

Por lá, os fashionistas podem garimpar peças vintages originais, inclusive de grifes de alta-costura, que vão de Valentino a Yves Saint-Laurent. Rua Monte Alegre 37 (2221-2855).

MIKE’S HAUS

O restaurante alemão conquistou o paladar dos cariocas com receitas incrementadas e sanduíches turbinados, como o Frankfurt (duas salsichas Frankfurter, R$ 7) e o Nuremberg (filé mignon, pão francês, alface e tomate, a R$ 15). Rua Almirante Alexandrino 1.458, loja A (2509-5248).

MUSEU DA CHÁCARA DO CÉU

A casa de Santa Teresa, desde 1876 também chamada Chácara do Céu, chama atenção, além de sua beleza arquitetônica, pela localização, com incrível vista de 360 graus da cidade. Entre as obras expostas, trabalhos de Matisse, Modigliani, Degas e Miró; coleção de arte brasileira, com Guignard, Di Cavalcanti e Iberê Camargo, entre outros. Destaque para a homenagem ao centenário de Carybé, o mais brasileiro dos artistas argentinos, que vai até 4 de julho. De quarta a segunda-feira, das 12h às 17h. Rua Murtinho Nobre 93 (3970-1126).

NEGA TERESA

Especializado em comida caseira, o restaurante é um dos preferidos dos moradores do bairro. Os pratos executivos com bife, filé de frango ou peixe (R$ 12 cada) são o carro-chefe da casa. Rua Áurea 24 (3852-3992)

PARQUE DAS RUÍNAS

Belíssimo mirante da cidade, o Parque conta também com um centro cultural com programação permanente. Rua Murtinho Nobre 169, próximo ao Largo do Curvelo (2252-1039).

RASGANDO PANO

Lojinha especializada em moda alternativa e acessórios que marcaram época. Fica na Rua Santa Cristina 181 A (2232-1389).

SANTA TERESA HOTEL

Luxuoso hotel de design, com jardins tropicais, piscinas naturais e um viveiro com fauna local, que criam uma atmosfera bucólica, e abriga o sofisticado restaurante Terèze. Rua Almirante Alexandrino 660 (2142-9300).

Por Mariana Brugger e Gislandia Governo

O Dia