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21 março, 2011

CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 21-3-11

Casarões relembram o início de Uberlândia


Para conhecer os primórdios da história de Uberlândia, basta dar uma volta por seus distritos e se informar um pouco mais sobre seus seculares casarões e sobre as famílias que os habitaram. É o caso, por exemplo, do distrito de Miraporanga, a 40 quilômetros da cidade, antigamente conhecido como distrito de Santa Maria, que guarda muitas histórias do início da cidade. Ali, apesar de alguns prédios estarem ruindo e preocupando a população, há imóveis históricos bem conservados, incluindo a Capela de Nossa Senhora do Rosário, erguida entre 1850 e 1852 e considerado o patrimônio histórico mais antigo de Uberlândia.
Foi em Miraporanga que as primeiras famílias chegaram à região e deram origem ao arraial de São Pedro de Uberabinha, atual Uberlândia. E os casarões que abrigavam os primeiros moradores resistiram ao tempo e até hoje são vistos como referência da arquitetura e da história local.
A Capela de Nossa Senhora do Rosário, que foi erguida entre 1850 e 1852,foi a 15ª capela construída no Sertão da Farinha Podre e é a única que permanece conservada até hoje.
A obra começou sob orientação do padre Antônio Dias de Gouveia, então vigário de Prata, e foi concluída sob orientação do padre Jerônimo Gonçalves Macedo. Inicialmente, era chamada de capela de Nossa Senhora das Neves. Construída por escravos, serviu como local de repouso para homens que seguiam para a Guerra do Paraguai em 1865.
Com forte referência no estilo colonial primitivo e com predominância de madeira na construção, a capela foi tombada como patrimônio histórico municipal em 1968. Em 1986, depois de votação realizada pelo Conselho Comunitário de Miraporanga, a igreja passou a se chamar Nossa Senhora do Rosário. No mesmo ano, foi restaurada pelas secretarias de Cultura e de Obras. Entre 1999 e 2001 passou por nova restauração e há cerca de cinco anos houve retoque na pintura.
Atualmente, a igreja está conservada, tanto a fachada quanto o mobiliário e imagens de santos. É mantida por uma família que mora ao lado da igreja, que cuida da limpeza. Uma vez por mês, a capela é aberta para missas e, apesar do acesso único por uma ponte de madeira, continua como referência para os visitantes.
Com o passar do tempo, construção foi ao chão
É com um olhar triste e saudosista que o aposentado João Batista Alves, morador de Miraporanga há 51 anos, observa o que restou de um casarão antigo localizado na avenida do Comércio. “Do jeito que está não tem como manter. É um patrimônio histórico que precisa de restauração. Aqui já foi muito bonito, mas hoje está esquecido no tempo”, afirmou.
O casarão faz parte do tradicional conjunto que foi de Domingas Camin. A construção é do fim do século 19, sem documento histórico que comprove a data exata. O conjunto tem 5,7 mil metros quadrados e é composto por duas casas, uma garagem e uma cocheira. Erguido pelo coronel Ernesto Rodrigues da Cunha, foi vendido posteriormente para Pascoal Bruno, que transformou uma das casas em comércio, possivelmente uma mercearia.
Em meados da década de 60 foi comprado por Domingas Camin, que transformou a casa comercial em fábrica de queijos. A fábrica foi desativada em 1970, o que acelerou o processo de deterioração. Com o falecimento da antiga dona na década de 90, a casa ficou fechada, sendo alugada posteriormente para reuniões do centro espírita do distrito. Em outubro de 2000, o conjunto foi tombado pelo patrimônio histórico municipal, o que não resultou na preservação das construções. Tanto não foi preservado que, em março de 2010, o casarão comercial foi ao chão. Atualmente, o estado de preservação do conjunto é precário. Além da casa que foi derrubada pelo tempo, a outra casa está com paredes rachadas, vidros quebrados e pintura danificada. Mesmo assim, é usada como moradia por Sílvio Rosa de Freitas.
Igrejinha também não resistiu ao tempo


A igreja de Nossa Senhora do Carmo, localizada no número 245 da avenida do Comércio, que segundo moradores foi construída pela antiga benfeitora do Distrito de Miraporanga Domingas Camin como forma de ficar mais perto de casa e assistir às missas com mais comodidade, também não resistiu ao tempo e está completamente destruída. A fachada está tomada por mato e todas as janelas estão quebradas. A capela não tem mais teto, que caiu ao chão quando um antigo zelador tinha saído para pescar.
Segundo conta o morador João Batista Alves, este zelador estava lavando roupas no tanque quando desceu para um córrego para pegar alguns peixes. “Nem 20 minutos depois que ele saiu a gente escutou um barulho muito alto. Quando fomos ver, o teto caiu sobre o tanque em que ele estava”, afirmou. Atualmente, o local está em estado precário de conservação.
Revolta com o descaso


Alguns moradores de Miraporanga ouvidos pela reportagem do CORREIO estão preocupados com a situação do distrito e esperam que providências sejam tomadas. É o caso do tratorista agrícola Gilmar Carlos, que há 25 anos mora no local. “O nosso patrimônio histórico está esquecido no tempo, o que é triste para quem mora aqui e também para a história do município de Uberlândia, já que essa é a ‘mãe’ da cidade. O governo precisava ter interesse e resgatar os casarões”, afirmou.
O pedreiro Adenilson do Nascimento compartilha a opinião. “É ruim ver do jeito que está hoje. Há muito tempo era o que tinha de mais bonito aqui, mas agora algumas construções estão derrubadas”, disse.
Até o fechamento dessa edição, a prefeitura não se pronunciou sobre o assunto.
Marcelo Calfat Repórter
Correio de Uberlandia
João Batista, há 51 anos no distrito, inconformado com as perdas
Capela erguida por benfeitora está em situação precária
Capela do Rosário erguida entre 1850 e 1852, em Miraporanga, é construção mais antiga da cidade

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