CURSOS
Os dois lados da mesma moeda
9 de Setembro de 2008 - Duas notícias recentes merecem ser comentadas hoje, tendo em vista a importância de que se revestem. Uma diz respeito a um possível exame de ordem para a avaliação de qualidade dos médicos recém-formados. Outra se refere ao sucesso pedagógico de uma pequena escola rural do município de Santo Antônio do Pinhal. O exame de ordem, a que se submetem há anos os bacharéis de Direito, vale como uma espécie de peneira fina destinada a separar os que trazem da faculdade um mínimo de conhecimentos relativos ao exercício da profissão, dos que, apesar de diplomados, não sabem o suficiente para a prática da advocacia. É um instrumento de avaliação acadêmica e de interesse social, pois o mau advogado porá em risco o patrimônio e os direitos dos cidadãos. Desde sua adoção, esse exame mais reprovou do que aprovou e, assim, evitou o agravamento dos prejuízos, provocados pelos cursos de má qualidade. Hoje, não passa pela cabeça de quem quer que seja a extinção desse exame.
9 de Setembro de 2008 - Duas notícias recentes merecem ser comentadas hoje, tendo em vista a importância de que se revestem. Uma diz respeito a um possível exame de ordem para a avaliação de qualidade dos médicos recém-formados. Outra se refere ao sucesso pedagógico de uma pequena escola rural do município de Santo Antônio do Pinhal. O exame de ordem, a que se submetem há anos os bacharéis de Direito, vale como uma espécie de peneira fina destinada a separar os que trazem da faculdade um mínimo de conhecimentos relativos ao exercício da profissão, dos que, apesar de diplomados, não sabem o suficiente para a prática da advocacia. É um instrumento de avaliação acadêmica e de interesse social, pois o mau advogado porá em risco o patrimônio e os direitos dos cidadãos. Desde sua adoção, esse exame mais reprovou do que aprovou e, assim, evitou o agravamento dos prejuízos, provocados pelos cursos de má qualidade. Hoje, não passa pela cabeça de quem quer que seja a extinção desse exame.
Cogita-se agora de estender a exigência aos médicos. Dada a frouxidão de critérios que preside tudo neste país surrealista, instalaram-se nos últimos anos 170 faculdades de Medicina, que entregam ao mercado 15 mil novos profissionais por ano (um para cada 600 mil habitantes, o dobro do exigido pela Organização Mundial de Saúde). Recente avaliação de qualidade patrocinada pelo Ministério da Educação (MEC) reprovou 20% delas, que não conseguiram comprovar a presença em sua estrutura do mínimo exigido pela lei e pelo bom senso: hospital-escola, residência para os alunos, professores mestres e doutores, equipamentos diversos e ciclos de especialização. Em suma, suas condições de funcionamento são tão precárias que os seus formandos quase nada aprenderam, mostrando-se incapazes de distinguir um quadro clínico de dengue de uma simples gripe. Embora pesquisas indiquem a aprovação da opinião pública, há quem resista à idéia, argumentando que o que se deve fazer é qualificar os cursos de Medicina.
Ora, uma providência não exclui a outra: crie-se o exame da ordem, qualifiquem-se os cursos precários e fechem-se os irrecuperáveis - tudo isso em nome da vida e da saúde dos brasileiros. Agora, o segundo destaque. Na pobre, precária e carente cidade de Santo Antônio do Pinhal, vizinha de Campos do Jordão, a pequena Escola Municipal Antônio José Ramos, com 45 alunos de três a sete anos, é o cenário de uma experiência pedagógica maravilhosa, sem a incidência dos problemas que martirizam o funcionamento das redes escolares no País. Houve parceria entre a escola e as empresas Semler e Microsoft para a introdução da moderna tecnologia educacional, a atuação de três professores (mais um ou dois voluntários não-docentes) e o respeito a uma liberdade ilimitada para a aprendizagem da criançada. Ali, todos aprendem e ensinam, numa perfeita sintonia. Isso é qualidade, sinônimo de pertinência como condição do sucesso. Os resultados fantásticos alcançados na leitura, na escrita e no cálculo colocam a escola na dianteira das redes de educação infantil e fundamental. Isto serve para provar o que, para mim, vem se tornando uma pétrea convicção: a salvação do ensino brasileiro não depende de reformas mirabolantes, formatadas em leis sofisticadas, e sim de pequenas práticas, enfrentadas com ousadia e competência por professores que saibam identificar para os alunos a utilidade dos postulados ensinados, que fundamentam a ciência, a arte e a tecnologia. Tudo o mais vem em seguida, como acréscimo, sem as artimanhas do filosofês, do psicologês ou do sociologês.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 11)
(Paulo Nathanael Pereira de Souza - Doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do CIEE E-mail: imprensa@ciee.org.br)
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