LIVROS - 20-10-2008
Portais anunciam livros para clientes de todo o País; hoje há livreiros que dependem do comércio virtual
Amados por colecionadores, os sebos sempre foram vistos pelo leitor comum como lugares empoeirados, com livros fora de ordem, onde só se encontram os títulos desejados depois de muita procura.
No Rio, embora sebos tradicionais tenham fechado nos últimos anos, o mercado de livros usados ou raros se mantém quente. A internet, que já reúne bons acervos há alguns anos, ajuda a aquecê-lo ainda mais.
Em portais especializados, é possível encontrar as publicações
desejadas sem espirrar nem ter trabalho - não só na sua cidade, mas em todo o Brasil.
O Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br ), o pioneiro e mais conhecido deles, disponibiliza informações sobre acervos de mais de mil sebos, distribuídos por 200 e tantos municípios brasileiros. Hoje, comemora seu terceiro aniversário, com marca superior a 3 milhões de livros disponíveis para compra. O portal registra 60 mil visitas por dia.
O Estante fica com 5% do valor do pedido, que pode variar de R$ 5 a cifras altas, pagas por edições raras. Com a venda diária de 3 mil livros, o faturamento do site já chega a R$ 1 milhão por mês. Também é cobrada uma mensalidade de cada estabelecimento cadastrado no portal e todos têm de oferecer pelo menos 40% de desconto sobre o preço de capa.
Histórias de sucesso como a do Estante Virtual começam, aos poucos, a surgir na internet.
Criado há um ano, o Sebos OnLine(www.sebosonline.com ) anuncia também vinis, CDs, revistas, gibis e fitas em VHS usados.
O Gojaba (www.br.gojaba.com ) nasceu em fevereiro na Rússia e na Suécia e, em junho, chegou ao Brasil e à Polônia. O internauta brasileiro pode comprar de sebos desses e de outros países.
"Essa novidade é muito boa. Hoje estou mandando um livro para Maceió e outro para Sepetiba, aqui no Rio, onde não tem sebo. Os sebos que ainda não se adequaram estão ficando para trás", diz Roberto Nogueira, funcionário da Livraria Amorim e livreiro particular, com 28 anos de experiência no ramo, inscrito no Estante, no Sebos OnLinee no Gojaba.
Em qualquer um desses sites, nada impede que o leitor do Rio Grande do Sul feche uma compra com um sebo do Ceará. Onde quer que o pedido seja entregue no País, o preço do frete de livros é fixo pela modalidade de encomenda "impresso normal". Os pagamentos normalmente são efetuados por meio de depósito bancário. Atualmente já existem comerciantes que dependem das vendas online para a sobrevivência do negócio.
"Metade das minhas vendas é pela internet. Vendi para os Estados Unidos e o Canadá", diz Amauri Mapa, dono do Sebo da Torre, do Recife, o primeiro a aderir ao Estante. "A exposição online é ótima para o livreiro e mais ainda para o consumidor: o mesmo livro pode ser encontrado por R$ 5 e R$ 50", diz o comerciante.
Em se tratando de livros usados, o preço varia deacordo com o estado de conservação e a data da publicação.
Carlos Cardiano, sócio do sebo carioca O Acadêmico do Rio, fundado há 37 anos e auto-intitulado "o mais antigo da cidade no mesmo endereço", diz que o mercado vem piorando desde os anos 1990. "Há dez anos existiam três ou quatro sebos aqui na Rua da Carioca (no centro do Rio, região que mais concentra sebos na cidade), mas foram fechados. Se eu tivesse dinheiro para investir neste momento, não investiria nisso (sebos)."
O INVENTOR
Obviamente, André Garcia, jovem pai do Estante Virtual - foi ele quem teve a idéia e desenvolveu o site, depois de aprender como fazê-lo por conta própria -, discorda. "Hoje, funcionamos como uma junta comercial dos sebos. Todo dia recebo pedidos de novos cadastros. As livrarias estão cada vez mais restritas a best sellers, concentrando 80% das vendas em 20% dos livros de que dispõem. A gente, não."
Os títulos mais vendidos são tão distintos quanto Vidas Secas, de Graciliano Ramos, A Profecia Celestina, de James Redfield, e A Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado.
A partir da experiência no site, Garcia, que tem apenas 30 anos de idade, viu surgir sebos em cidades antes desprovidas desse tipo de comércio. E também livreiros fecharem as portas por decidirem vender só pela internet. E ainda colecionadores sem loja física optarem por se aventurar na rede. Tudo começou quando ele estudava para uma prova do mestrado em Psicologia Social. Não conseguia achar os Freuds e Lacans de que precisava, ou, quando encontrava, custavam caro demais -decidiu agir por conta própria.
OS LEITORES
"Rato de sebo" desde a adolescência, o professor Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras e autor do Guia dos Sebos, editado pela primeira vez há dez anos e atualmente com acervos de 14 capitais brasileiras, não deixa de freqüentá-los, mas também compra pela internet. "O aumento no número de sebos na internet é diário. Alguns são amadores, mas isso é democrático." No guia do acadêmico, São Paulo aparece em primeiro lugar, com 76 estabelecimentos listados; o Rio é o segundo, com 52.
Aos 72 anos, o economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), lamenta o fechamento de algumas casas tradicionais do Rio, mas ressalta que, se umas foram extintas, outras foram abertas - como a Babel Livros, com duas filiais na capital fluminense, que figura entre seus sebos preferidos. Com Lessa, a internet não tem vez. "Sou um analfabeto digital e gosto muito de pôr a mão no livro. Gosto de garimpar. Se não fossem os sebos, não teria hoje a coleção que tenho."
Roberta Pennafort
O Estado de S.Paulo
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