ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

27 agosto, 2009

ATUALIDADES - 27-8-09

Médici e Nixon planejaram derrubar Allende e Fidel
O presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon (1913-1994) e o general de turno na ditadura brasileira, Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) conspiraram juntos na Casa Branca em dezembro de 1971 pela derrubada do socialismo em Cuba e no Chile de Allende. O relato do encontro está num arquivo secreto da Casa Branca agora desclassificado. O comportamento de Garrastazu adapta-se perfeitamente ao qualificativo: capacho do imperialismo americano.
A reunião ocorreu no Salão Oval da Casa Branca, às 10h de 9 de dezembro de 1971. Do lado brasileiro, só Médici estava presente, deixando o Itamaraty de fora. Sem falar inglês, precisou da ajuda do general Vernon Walters. Agente da CIA (em breve seria nomeado seu vice-diretor), Walters fora adido militar americano no Brasil durante o golpe de 1964, falava bem o português e transitava facilmente nos círculos da direita militar brasileira.
Médici, sabujo, bajulador e servil
O relato Top Secret da conversa está agora – em inglês – no site americano The National Security Archive. Segundo o arquivo, Nixon perguntou a Médici se o exército chileno seria capaz de derrubar Allende. Médici disse que "achava que sim" e deixou claro "que o Brasil estava trabalhando para este fim".
Na parte pública dessa visita de Garrastazu a Washington, ficou famosa uma frase de Nixon: “Para onde o Brasil se inclinar, a América do Sul se inclinará". Agora, a transcrição das atas do encontro reservado no Salão Oval da Casa Branca deixa explícito qual era o sentido verdadeiro do comentário.
Vistos quase quatro décadas mais tarde, os arquivos evidenciam o quanto mudou o Brasil e a América Latina. Naquela época, como fica claro na conversação, era uma reserva direta dos EUA, merecendo integralmente o rótulo de quintal do imperialismo americano. Ainda hoje há no vizinho do Norte quem assim pense, colaborando com os golpistas hondurenhos ou planejando bases militares na Colômbia.
Mas é difícil acreditar que haja espaço para uma repetição do comportamento sabujo, bajulador e servil exibido pelo general Emílio Garrastazu Médici conforme a transcrição. O relato torna-se ainda mais repugnante quando se recorda que dentro do Brasil vivia-se em plena escalada das torturas e assassinatos de opositores da ditadura.
Conspiração para derrubar Fidel
Conforme o documento, Nixon começa por esclarecer que os movimentos de seu governo em relação à União Soviética e à china "absolutamente não significam" que "também haverá mudança em nossa política para com Cuba". O relatório descreve:
"O presidente [Nixon] repetiu que não haveria mudança em nossa atitude para com Cuba enquanto Castro estivesse no comando e continuasse a tentar exportar a subversão. O presidente Médici disse que estava muito contente de ouvir isso e que isso coincidia exatamente com a posição brasileira."
Depois de discutirem maneiras de barrar o reingresso de Cuba na OEA (Organização dos Estados Americanos) – uma posição que veio abaixo em 2009 –, Nixon e Médici concordam em estabelecer "meios de comunicar-se diretamente, fora dos canais diplomáticos normais". O ditador brasileiro indicou como seu canal privado de contato o chanceler Gibson Barbosa. Em seguida, voltou ao tema cubano.
"O presidente Médici disse então que havia grande número de exilados cubanos nas Américas em geral; ele acreditava que existiam então um milhão de cubanos nos Estados Unidos. Esses homens alegavam que tinham forças e condições de derrubar o regime de Castro. Surge a pergunta: deveríamos ajudá-los ou não? O presidente [Nixon] ponderou a questão e disse achar que devíamos, desde que não os levássemos a fazer algo que não pudéssemos apoiar, e desde que a nossa mão não aparecesse. O presidente Médici concordou, dizendo que em nenhuma circunstância uma assistência que déssemos deveria ser visível. Caso houvesse alguma coisa em que o Brasil pudesse ajudar, seria de se apreciar que obtivéssemos essas opiniões através do canal privado."
O "trabalho" da ditadura brasileira no Chile
A conversa trata também das relações do Brasil com o Peru, a Bolívia, as ditaduras do Paraguai e da Argentina (esta, uma relação "de general para general", segundo Garrastazu). Entra em pauta então a questão do Chile, que vivia então a experiência do governo Salvador Allende, eleito no ano anterior por uma coligação socialista-comunista. Veja o trecho:
"O presidente [Nixon] perguntou então ao presidente Médici sua opinião sobre como se desenvolveria a situação no Chile. O presidente Médici disse que Allende seria derrubado pelas mesmíssimas razões pelas quais [o presidente brasileiro João] Goulart fora derrubado no Brasil. O presidente [Nixon] então operguntou se o presidente Médici pensava que as forças armadas chilenas seriam capazes de derrubar Allende. O presidente Médici respondeu que acreditava que eram, agregando que o Brasil estava intercambiando muitos oficiais com os chilenos, e deixou claro que o Brasil estava trabalhando para este fim. O presidente [Nixon] disse que era muito importante que o Brasil e os Estados Unidos trabalhassem muito intimamente nesse campo. Se os brasileiros sentirem que há algo que possamos fazer para sermos úteis nessa área, gostaríamos que o presidente Médici nos fizesse saber. Caso fosse preciso dinheiro, ou outra ajuda discreta, estaríamos dispostos a fornecê-la. Isso deveria ser conduzido com a mais elevada reserva. Mas deveríamos tentar, evitar novos Allendes e Castros e tentar, onde possível, reverter essas tendências. O presidente Médici disse que estava contente em ver que as posições brasileiras e americanas eram tão próximas".
Médici ajudou a manipular eleição uruguaia
Outro documento secreto, relatando um encontro com o primeiro ministro britânico, Edward Heath, 11 dias mais tarde, mostra o entusiasmo de Nixon com o anticomunismo de Garrastazu. Veja esta transcrição do que ele disse, quando Heath perguntou-lhe sobre Cuba:
"O homem Castro é um radical. Radical demais até para Allende e os peruanos. Nossa posição é sustentada pelo Brasil, que é, afinal, a chave para o futuro. Os brasileiros ajudaram a manipular ["rig"] a eleição uruguaia. O Chile é outro caso – a esquerda está em dificuldades. Há forças que estão trabalhando e que nós não estamos desencorajando."
Na eleição presidencial uruguaia de novembro daquele ano, a Frente de Esquerda concorrera pela primeira vez. A coalizão de esquerda, hoje na presidência e favorita na eleição de outubro, obteve 18% dos votos na contagem oficial; ela era a principal preocupação tanto da Casa Branca como da ditadura brasileira.
Apelo a Lula: abra os arquivos da ditadura
Peter Kornbluh, diretor dos projetos sobre Chile e Brasil do The National Security Archive, considera que "os arquivos do Brasil são o elo perdido" e "um capítulo oculto da intervenção conjunta para derrubar o governo do Chile". Kornbluh fez um apelo para que o presidente Lula abra os arquivos dos militares. "A história completa da intervenção na América do Sul nos anos 1970 não pode ser contada sem acesso aos documentos brasileiros", afirmou.
Um relatório da CIA, citando fontes brasileiras, registra que Nixon e Médici concordaram em colaborar para contrarrestar a "tendência à expansão marxista/esquerdista" na América latina. Nixon prometeu "ajudar o Brasil quando e como fosse possível". Esse relatório observa que o conteúdo do acordo secreto causou constrangimentos em alguns altos oficiais brasileiros. O general Vicente Dale Coutinho, comandante do 4º Exército, afirmou, segundo o texto da CIA, que "os EUA obviamente querem que o Brasil faça o 'trabalho sujo' na América do Sul".
O site The National Security Archive fornece numerosos outros originais mantidos em segredo pela Casa Branca, na medida em que vão sendo desclassificados e têm sua divulgação permitida. Alguns deles, inclusive sobre as relações com o Brasil, são liberados com tarjas pretas cobrindo os trechos que ainda são considerados "sensíveis".
Bernardo Joffily
Vermelho

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