CURSOS - 28-6-10
Belo Horizonte-MG – Memória Gráfica – Typografia Escola de Gravura
A Memória Gráfica – Typographia Escola de Gravura – Centro de Internação da Criança e do Adolescente é uma associação sem fins lucrativos, constituída em 1999 por 25 artistas e gravadores mineiros que ao saberem da desativação da extinta Fundação para o Bem-Estar do Menor (FEBEM) se mobilizou para resgatar a cidadania de adolescentes vulneráveis recuperando, ao mesmo tempo, as tipografias abandonadas daquela instituição. Sediada à Rua Conselheiro Rocha, 3.800, no Bairro Horto, em Belo Horizonte (MG) ela oferece oficina de artes visuais e gráficas para adolescentes, inclusive alguns privados de liberdade. A idéia partiu do artista gráfico Oswaldo Medeiros, já falecido. A antiga FEBEM possuía máquinas e equipamentos que pertenciam ao Estado, mas os artistas conseguiram autorização de uso.
A administração da Associação era originalmente composta pelo Presidente, Oswaldo Medeiros; Vice-Presidente, Paulo Henrique Pereira Giordano; Secretária, Regina Célia de Vasconcelos; e Tesoureira, Maria Dulce Peixoto Barbosa. A Associação procurou o Conselho Estadual de Direito da Criança e do Adolescente (CEDCA) e conseguiu restaurar os equipamentos e passaram a atender adolescentes entre 14 e 21 anos em situação de risco social e pessoal e em conflito com a lei.
A missão de Memória Gráfica é transformar através da arte. Seu foco principal é a arte-educação, dando prioridade à educação continuada das crianças e dos adolescentes. A entidade começou recebendo cerca de 40 jovens, divididos em três turmas, que freqüentam a associação de segunda a sexta-feira. Eles são beneficiados com uma bolsa de R$80,00, concedida pelo Instituto Credicard e podem participar de todos os eventos da entidade. Atualmente, o projeto atende cerca de 120 adolescentes, entre 15 a 21 anos, a maioria de jovens recolhidos ao Centro de Internação Provisória (CEIP) e ao Centro de Internação do Adolescente (CIA). O projeto atende crianças e adolescentes encaminhados por diversas instituições sociais de Belo Horizonte.
Os profissionais que realizam trabalhos voluntários na associação são assistentes sociais, psicólogos, dentistas, oftalmologistas e ONGs ligadas à saúde; artistas plásticos, encadernadores, artistas gráficos, programadores visuais, escritores. As atividades ensinadas às crianças e adolescentes são de formação artística e gráfica, comunicação e expressão, gravura, computação e editoração, impressão gráfica, encadernação e papelaria. Para que estas crianças e adolescentes se capacitem são oferecidos cursos, treinamentos, seminários e similares em áreas pertinentes por profissionais de formação de pessoal especializado para atividades pedagógicas e de criação em artes, sobretudo para a educação da comunidade em situação de risco social e pessoal. As crianças, adolescentes e familiares têm orientação sobre direitos civis e sociais visando a geração de renda ou emprego.
Segundo Maria Dulce Peixoto Barbosa, o treinamento de jovens por meio de técnicas tipográficas sempre traz bons resultados e ganhos quando voltado para a formação de artistas e artesãos. “O resgate da gráfica artesanal produzindo edições de qualidade, além de gerar renda para os adolescentes e seus familiares, proporciona para nossa cidade o reconhecimento de pioneiros no desenvolvimento de aptidões artísticas dos adolescentes”, afirma. Projetos realizados pela Memória Gráfica:
Typographia Escola de Gravura – Oficinas de Formação Artística e Gráfica. Este projeto engloba oficinas de gravura, impressão gráfica, encadernação e papelaria. Os alunos aprendem também as técnicas de gravura em preto e branco, de recorte, colorida, por eliminação, pouchior e monotipia. As gravuras desenvolvidas são do tipo xilogravura, linóleo gravura e isogravura. Já a oficina de impressão gráfica trabalha as formas de impressão por meio da união da tipografia, do offset e das técnicas de hot-stamping. Impressos como livros, jornais e semanários são confeccionados nessa oficina. Técnicas de encadernação com costura manual, por caderno e simples, espiral, peças gráficas coladas, grampeadas e picotadas, douração e marmorização também são ensinadas e na oficina de papelaria os jovens produzem cartões, pastas, papéis de carta, envelopes e similares. O projeto é patrocinado pela Usiminas, por intermédio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. Outra ação, denominada “De Gutenberg a Bill Gates” complementa o processo de formação dos jovens, por meio da oficina de informática e editoração eletrônica, já que visa à inclusão digital dos mesmos. As aulas oferecem aos participantes a oportunidade de trabalhar com planejamento gráfico e de criar imagens digitais passando para a diagramação e a editoração de livros. Esse projeto foi premiado nos concursos nacionais “Cidadão 21 – Arte”, promovido pelo Instituto Ayrton Senna e Embratel, em 2002 e “Transformando com arte”, realizado pelo BNDES no ano passado. As conquistas tornaram A Memória Gráfica parceiro dessas instituições, o que viabilizou a continuidade do projeto. Memória Gráfica também disponibiliza para comercialização os produtos das oficinas, tais como: cartões de natal, cartões comemorativos, livros e pastas, gravuras, cordéis, agendas, blocos e cadernetas, jornais, panfletos, cartões de visita, camafeu, cartonagem, dentre outros.
Projeto Gravura na Praça: Oficina Itinerante de gravura e desenho é realizada em praças públicas de municípios mineiros como parte do Circuito Telemig de Celular de Cultura, também promovido por meio da lei de incentivo a cultura do estado. De acordo com os organizadores, com este projeto, os adolescentes atendidos pela Formação Artística têm grande oportunidade de colocar seu apren¬dizado em prática já que passam à condição de monitores, integrando a equipe que oferecerá a oficina à população da cidade visitada.
Projeto Edição de Obras Primorosas: com o apoio da Usiminas, a Memória Gráfica editou quatro livros de caráter artístico e cultural. Segredos, uma antologia de poemas escritos por Luiz Nazario; Roteiro estético das minas enganosas, com textos e críticas sobre a obra de diversos artistas mineiros escritos ao longo de 30 anos pelo por Moacyr Laterza; Mãe África, ensaio de Fidêncio Maciel de Freitas sobre os costumes africanos buscando congruências e semelhanças com as culturas brasileira, americana e européia; e Organizações poéticas, com textos e poemas épicos de Leda Souza Dutra.
Projeto Cordel de Rua: edição de literaturas de cordel a partir de histórias contadas pelos adolescentes atendidos nas oficinas de “For¬mação artística e gráfica”. A ação é patrocinada pelo IMS (Instituto Marista de Solidariedade).
Projeto Clube da Gravura: por meio deste projeto, cada participante recebe duas imagens de gravuras a cada três meses, sendo uma produzida por um artista renomado e a outra por um dos jovens gravadores.
Todo o material gráfico é produzido através de um processo artesanal, a partir de recursos tipográficos, como clichês, tipos móveis e xilogravura. A encadernação é manual e os impressos são produzidos em máquinas offset, com aplicação de hot-stamping. O conteúdo desse material busca recuperar a história das artes gráficas e o acabamento também é feito pelos adolescentes atendidos pelo projeto.
Os produtos do trabalho dos jovens são vendidos ou apresentados nos eventos de que Memória Gráfica participa. “A verba arrecadada é revertida para a associação, mas nosso principal objetivo com a exposição não é a venda e sim o estímulo à arte”, acrescenta Maria Dulce. Entre os produtos estão livros, álbuns de gravura, literaturas de cordel, cartões postais e de Natal ilustrados e outros.
Nesse sentido, a entidade participou, em 2002 e 2003, de uma exposição interativa, em comemoração ao centenário de Carlos Drummond de Andrade. No evento, foram apresentados os materiais tipográficos e os trabalhos produzidos na oficina de gravura. Além disso, esteve presente em duas edições da Festa Gentileza, promovida pela Telemig, onde ofereceu aos presentes a oficina de gravura. Outras exposições foram realizadas: Memória Gráfica (2003) por Marcelo Terça-Nada!; e Memória Gráfica – typographia escola de gravura, na Biblioteca Luis de Bessa (2006), que mostrou trabalhos em gravura, cartões e papelaria, todos criados por crianças e adolescentes de baixa renda. A exposição caracterizou-se principalmente pelo cuidado artesanal na confecção do material gráfico: literatura de cordel, livros, álbuns de gravura, cartões postais e de Natal com ilustrações originais. Tudo feito a partir de recursos tipográficos, como clichês, tipos móveis e xilogravura, além de encadernação manual, impressão em hot-stamp e off-set, sempre recuperando a história das artes gráficas e em especial a do impresso. Todo o acabamento e a confecção foram realizados pelas crianças e adolescentes que compõem a mostra.
Em entrevista com Maria Dulce Peixoto Barbosa fomos informados de que o maior parceiro da Associação Memória Gráfica é a Fundação Ayrton Sena. Mas colaboram também a USIMINAS – Usina Siderúrgica de Minas Gerais; o Centro Cultural da UFMG; o Instituto CREDICARD; e a AMAS – Associação Municipal de Assistência social, que busca pessoas de outras regionais para trabalharem juntos. A prestação de contas aos parceiros da Associação é feita trimestralmente. Para que isto possa acontecer com garantia e de forma correta, as anotações são feitas diariamente num livro caixa, tudo com profissionalismo, seriedade e compromisso.
Dulce informou que na associação as pessoas trabalham em dois turnos. São feitas visitas em algumas cidades de Minas Gerais, como Ouro Preto, Mariana, São João Del Rei e Tiradentes, para que as crianças e adolescentes conheçam os pontos turísticos e possam fazer seus esboços para futuros desenhos. Quando retornam à associação elas realizam seus trabalhos. São feitos também encontros estaduais e regionais anuais das ONGs para divulgação dos trabalhos, como um Encontro das ONGs em Araxá, onde a discussão foi a alfabetização das crianças e adolescentes. Hospedagem e alimentação são por conta dos parceiros da associação. Algumas padarias de Belo Horizonte, como a Boníssima, doam sobras de pães, bolos, biscoitos e alimentos de boa qualidade para a Associação, que são reaproveitados nas alimentações das crianças e adolescentes. Sua maior felicidade é quando jovens que são recuperados pela associação conseguem se reintegrar à sociedade, como no caso de “Fernando”, que hoje trabalha com tipografia, já tem sua casa e sua moto, fazendo ainda serviços de entrega. Fernando é tão grato à associação que todos os dias antes de ir apara sua residência após o trabalho passa na associação, cumprimenta todos e ajuda a Associação nos seus dias livres como voluntário. É a Memória Gráfica mineira utilizando as artes gráficas como forma de conquista da cidadania, preparando profissionais capacitados e bem treinados para o mercado de trabalho.
Referências Bibliográficas
AMAS, http://www.amas.org.br/
Elza Maria Santos
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