CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 9-9-10
Abandonado, Pelourinho (BA) vê comércio local em crise e fuga de turistas
Nos últimos 40 dias, dois relevantes centros de varejo encerraram suas atividades no centro histórico de Salvador. O que poderia ser um fato isolado ou até mesmo uma decisão empresarial é, na realidade, reflexo de uma crise que provocou o fechamento de 170 estabelecimentos comerciais desde 2005 e reduziu drasticamente o movimento no mais importante ponto turístico da capital baiana.
Uma pesquisa realizada recentemente pela Acopelô (Associação dos Comerciantes do Pelourinho) mostra que o centro histórico de Salvador, tombado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como patrimônio cultural da humanidade, deixou de ser um espaço interessante para os comerciantes. “Há quase seis anos tínhamos 390 estabelecimentos comerciais funcionando aqui; hoje, contamos com apenas 220. E a tendência é um cenário ainda pior porque o centro histórico está abandonado”, disse o presidente da entidade, Lenner Cunha.
“Enquanto não houver uma integração entre todos os poderes (União, Estado e prefeitura), nada vai prosperar aqui. Temos de agir rápido porque o centro histórico de Salvador não pode ficar refém da prostituição, das pessoas com dependência química, dos catadores de produtos recicláveis e da miséria absoluta”, afirmou o subprefeito do bairro, José Augusto de Azevêdo Leal. “Sem um comércio atraente e com tantos problemas sociais, muitos turistas relutam em visitar o centro histórico”, afirmou.
Depois de muitas queixas dos comerciantes, turistas e moradores do centro histórico, a Polícia Civil apresentou esta semana um plano de segurança para mudar a realidade do Pelourinho. Orçado em R$ 800 mil, o plano prevê corredores monitorados por câmeras, distribuição de mapas e panfletos, policiamento ostensivo, sinalização para evitar que baianos e turistas entrem em áreas de risco, cadastramento de moradores de rua e menores, combate ao comércio ambulante e reforço na iluminação pública.
Lenner Cunha coloca em dúvida a concretização do plano. “Os moradores não foram ouvidos, os empresários não foram consultados. Então, existe uma tendência muito grande de a comunidade boicotar qualquer tipo de ação, até de forma inconsciente, porque não faz parte do jogo. É só interesse político.”
Azevêdo Leal afirmou que a revitalização econômica e cultural do centro histórico de Salvador passa pelas propostas apresentadas pela Polícia Civil. “A caracterização do problema não é novidade. O problema é resolver porque, de fato, o Pelourinho está mal cuidado mesmo, temos de ser realistas.”
Além das sugestões apresentadas pela Polícia Civil, o ministro do Turismo, Luiz Barreto, também anunciou esta semana em Salvador a implantação do projeto “Palco Articulado”, um palco móvel, a quatro metros do chão, ao custo de R$ 4 milhões. “Neste palco vão dialogar atrações musicais importantes e outros eventos”, disse o ministro. “Além de abrigar shows e afins, a ideia é que nele funcione um cinema cultural, assim como cursos. Trata-se de valorizar o patrimônio antigo, agregando modernidade”, ressaltou Antonio Carlos Tramm, secretário estadual do Turismo. Tramm disse, ainda, que o governo da Bahia tem investido em atrações artísticas e programas culturais para aumentar o fluxo de visitantes ao local.
Abandono total
Em sua primeira visita a Salvador, a publicitária mineira Denise Ramos, 25, disse que ficou decepcionada com o centro histórico de Salvador. “Vi muita sujeira, casarões em ruínas, ruas fechadas e ambulantes que dão a impressão que vão atacar os turistas a qualquer momento.”
O advogado carioca Roberto Menezes, 41, também criticou o “abandono” do centro histórico. “É lamentável que um lugar que carrega grande parte da história do Brasil seja tão carente de serviços básicos e essenciais, como a coleta de lixo e segurança.”
Azevêdo Leal disse que os turistas que criticam o centro histórico têm razão. “Não existe uma programação cultural para sustentar o movimento e a quantidade de mendigos e moradores de rua assediando os turistas é impressionante.”
Com aproximadamente 3.000 casarões dos séculos 16, 17 e 18, o centro histórico de Salvador passou por uma grande intervenção na década de 90, com a restauração de cerca de 700 imóveis, reformas de museus, inaugurações de restaurantes, lojas, joalherias e obras de infraestrutura que possibilitaram a criação de redes elétricas subterrâneas e a instalação de esgotamento sanitário. “Os serviços executados transformaram o centro histórico no local mais visitado de Salvador, mas, agora, a realidade é bem diferente”, afirmou o subprefeito.
Além da ausência de segurança para os visitantes e sujeira em suas ruas e ladeiras centenárias, o centro histórico de Salvador também convive com outro problema: a falta de manutenção de muitos casarões. Dos 111 imóveis tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e condenados pela Defesa Civil, 24 estão localizados no local.
Na última terça-feira (31), o Ministério da Integração Nacional liberou uma verba de R$ 6 milhões para a execução de obras emergenciais em 50 casarões. “Vamos atacar inicialmente os imóveis mais problemáticos”, disse o superintendente regional do Iphan, Carlos Amorim.
A turista argentina Mercedes Ortiz, 23, disse que “esperava mais” do centro histórico de Salvador. “As imagens e fotografias que vi são bem diferentes da realidade. O sítio é muito bonito, mas também é muito inseguro e tem muita sujeira acumulada pelas ruas.”
O subprefeito ressaltou que o centro histórico não precisa de “planos mirabolantes” para oferecer mais conforto aos seus visitantes e moradores. “Temos de fazer o básico para melhorar a infraestrutura do local. E o básico inclui a coleta de lixo, mais segurança, qualificação dos comerciantes e combate ao comércio clandestino. Se conseguirmos isso, o centro histórico tem tudo para voltar aos seus melhores dias.”
Correio do Povo de Alagoas
Arqueólogo afirma que Moscou tem mais de mil anos
Moscou, capital da Rússia, que este ano celebra oficialmente seu 863no. aniversário, tem mais de 1.000 anos de idade, declarou nesta quinta-feira o diretor de arqueologia da cidade, Alexander Veksler. "Moscou festejará nos próximos dias seus 863 anos. Mas esta é a data inscrita nos registros, e há coisas muito mais antigas", afirmou o especialista, citado pela agência Interfax.
"Se nos basearmos nas descobertas mais antigas, então o milenário da cidade já aconteceu faz tempo", insistiu Veksler, sem mencionar um cálculo mais preciso. Todos os anos, os moscovitas comemoram a "jornada da cidade", aniversário oficial de Moscou, no primeiro final de semana de setembro.
Embora não restem dúvidas de que o local onde fica Moscou já era habitado há vários séculos, seu antigo nome, Moskov, aparece pela primeira vez nos anais de 1147 do então senhor da região, o príncipe Yuri Dolgoruki. Esta data foi adotada para o aniversário oficial da cidade.
AFP Paris
Faop recupera documentos manuscritos sobre irmandade religiosa
A estudante Elis Furlan é uma das responsáveis pela conservação dos manuscritos que pertenceram à Associação Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, de Barbacena, na Região Central de Minas
A manhã gelada não impede que a estudante Elis Furlan, de 23 anos, dê um revigorante banho de água fria em parte importante da história de Minas. Com o cuidado típico dos restauradores, ela mergulha, um a um, papéis de mais 200 anos numa solução que contém álcool e detergente especial. Nessa limpeza, ela contribui para tornar legíveis e duradouros documentos dos séculos 17, 18 e 19 pertencentes à Associação Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, de Barbacena, na Região Central.
Enquanto faz o trabalho técnico de conservação, a jovem afirma estar diante de um pequeno tesouro, dono até de um nome meio misterioso para leigos: códice. Por isso, vez ou outra, munida de lupa, Elis observa os manuscritos encadernados, feitos de papel de trapo – linho, algodão ou cânhamo – e preenchidos com tinta ferrogálica, em uso até a década de 1920. Traduzindo em miúdos, são letras escritas com material à base de ferro que, ao longo do tempo, oxida e corrói a folha. “É uma tarefa de paciência, podemos ficar um dia inteiro cuidando de duas páginas”, conta a estudante.
Ao lado de outros nove jovens, Elis, natural de Leme (SP), conclui o curso do Núcleo de Conservação e Restauração da Escola de Arte Rodrigo Mello Franco de Andrade, da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), vinculada à Secretaria de Estado de Cultura. E, na reta final, não poderia ter melhor material didático que os sete documentos em restauro sob orientação do professor Demilson Malta Vigiano. Ele explica que todas as irmandades religiosas tinham os seus códices, palavra originária do latim (codex), que significa livro ou bloco de madeira: “Na Europa, são todos os livros de manuscritos anteriores à imprensa, inventada, no século 15, pelo alemão Johann Gutemberg (1397-1468). Já no Brasil, códices são aqueles encadernados até 1850”.
Nesses cadernos, com ou sem capa de couro, há toda sorte de registros, diz a coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauração da Faop, Carla Santana. Ela cita receitas e despesas das irmandades, inventário do acervo (esculturas, imagens, mobiliário etc), informações sobre óbitos, casamentos e nascimentos, enfim, todos os dados cotidianos sobre as atividades das associações. “Se agora nas mãos dos alunos os códices se tornam preciosa ferramenta de aprendizagem, no futuro próximo serão de extrema utilidade para estudiosos. A conservação do suporte, portanto, é peça fundamental para a pesquisa”, diz Carla. O serviço iniciado há um ano vai terminar em dezembro. “É um dos trabalhos de formatura da turma”, diz Demilson, tendo à mão um volume de 400 folhas, usado de 1795 a 1822.
Orgulho e curiosidade
Os principais envolvidos no projeto estão entusiasmados, a exemplo de Sarah Fazzenaro, de 27, natural de Araras (SP) e formada em história. “Estou muito orgulhosa em participar, pois se trata de uma tarefa que valoriza os lados profissional e pessoal e aguça a minha curiosidade”, acredita. Foi numa das aulas que ela descobriu uma anotação feita no início do século 19 e esquecida dentro de um dos códices . “Alguém estava lendo o documento e escreveu ‘Oh!’, ao ler que uma pessoa, para ingressar na irmandade, dera um jumento como pagamento. O espanto era porque, na época, o preço do animal era alto, o equivalente ao de um carro hoje. O mesmo leitor sublinhou o manuscrito, algo que não se pode fazer com um livro”, afirma a estudante.
Ao apresentar um dos códices ao aluno Arthur Francisco da Silva, de 21, morador de Ouro Preto, Demilson mostra que, no livro-caixa, todas as folhas foram rubricadas pelo escrivão Agostinho Pitta de Castro, e algumas contêm marca d’água. Para o estudante, participar da recuperação de um códice significa oportunidade única, diante da dificuldade de ter esse tipo de documento à disposição. “Essas iniciativas são relevantes para valorizarmos o patrimônio e buscarmos sempre a conservação”, comenta o rapaz, admirado com uma página que traz, em cor, o desenho da coroa de Nossa Senhora, e as letras iniciais de Maria.
Rasgos e mofo
Ao chegar à Faop, que banca os custos de restauro, os documentos seculares apresentavam rasgos, mofo, degradação por fungo e pela ação do tempo, embora sem muitos ataques de insetos. No processo de recuperação, entra uma série de procedimentos, começando com a higienização com pincel macio e atenção máxima à numeração das páginas. Na sequência, a equipe desmonta o caderno para, então, mergulhar as folhas, intercaladas com um tela fina, numa solução aquosa composta por detergente laboratorial e álcool. “Qualquer papel é muito resistente à água. Fazemos isso para retirar resíduos, partículas e sujeiras”, revela o professor Demilson. As próximas etapas incluem estabilização da tinta ferrogálica, com produto antioxidante, desacidificação e, finalmente, pôr para secar em prateleiras. Depois disso, é feita a reconstituição das páginas que sofreram perda de papel.
A Associação Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte tem mais de 250 anos e foi criada por autorização de Dona Maria I (1734-1816), rainha de Portugal, conforme documento guardado na Paróquia de Nossa Senhora da Assunção (Igreja Matriz da Boa Morte), de Barbacena. O pároco Daniel Marcos Lima está satisfeito com o restauro, certo de que, assim, se preserva parte da história da cidade e também de Minas. “Venho acompanhando o trabalho e vejo a Faop executar um bom serviço. Nesses documentos, está a vida da irmandade”, diz padre Daniel.
Capacitação
Com 40 anos de atuação, aprovado e reconhecido desde 2002 pelo Ministério da Educação (MEC), o curso técnico de restauração da Faop forma profissionais em escultura policromada, papel e pintura de cavalete. O processo seletivo ocorre a cada semestre. Em parceria com a Secretaria de Estado de Educação, via Programa de Educação Profissional (PEP), a fundação oferece 60 vagas gratuitas para os turnos da manhã, tarde e noite. As próximas inscrições para cursos deverão ser em dezembro. Informações: (031) 3552-2480.
Gustavo Werneck - Estado de Minas
Ruas do Pelourinho, no centro histórico de Salvador (BA), vazias e sem turistas neste sábado Marcadores: cultura, patr. cultural, patr. histórico
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