ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

17 setembro, 2010

CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 17-9-10

Estrada no deserto leva a descoberta no Egito
Ao longo das duas últimas décadas, John Coleman Darnell e sua esposa, Deborah, caminharam e dirigiram por trilhas de caravanas a oeste do Nilo, partindo dos monumentos de Tebas - cidade hoje chamada de Luxor.
Essas e outras estradas desoladas, castigadas pelo tráfego milenar de humanos e burros, pareciam levar a lugar nenhum.
Fazendo o que eles chamam de arqueologia de estradas desertas, os Darnells encontraram porcelanas e ruínas em locais onde soldados, mercadores e outros viajantes acamparam na época dos faraós.
Num penhasco de calcário com uma encruzilhada, eles se depararam com um quadro de cenas e símbolos, algumas das mais antigas documentações da história egípcia.
Em outro local, eles encontraram inscrições consideradas os primeiros exemplos da escrita alfabética.
As explorações da Pesquisa das Estradas Desertas de Tebas, um projeto da Universidade Yale conduzido pelos Darnells, atraiu atenção à antes subestimada importância das rotas de caravanas e povoações em oásis da antiguidade egípcia.
Duas semanas atrás, o governo do Egito anunciou o que pode ser a descoberta mais espetacular da pesquisa.
Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, afirmou que os arqueólogos encontraram extensas ruínas de uma povoação - aparentemente um centro administrativo, econômico e militar - que floresceu há mais de 3.500 anos no deserto do oeste, 180 quilômetros a oeste de Luxor e 480 quilômetros ao sul de Cairo.
Numa época tão antiga, nenhum centro urbano como esse jamais foi encontrado no inóspito deserto.
John Darnell, professor de egiptologia em Yale, disse numa entrevista na semana passada que a descoberta poderia reescrever a história de um período pouco conhecido do passado egípcio e do papel desempenhado pelos oásis, aquelas ilhas de plantas e palmeiras e fertilidade, no renascimento da civilização depois de uma crise negra.
Outros arqueólogos não envolvidos na pesquisa afirmaram que as descobertas eram impressionantes e que, assim que for publicado um relato mais detalhado e formal, elas certamente agitarão o mundo acadêmico.
O sítio de quase 1000 quilômetros quadrados fica no oásis de Kharga, uma faixa de áreas bem irrigadas numa depressão norte-sul com 100 quilômetros de extensão, no planalto de calcário que se espalha pelo deserto.
O oásis fica ao final da antiga Estrada Girga de Tebas e em sua interseção com outras estradas do norte e do sul.
Uma década atrás, nesse oásis, os Darnells identificaram pistas de um assentamento da época do domínio persa, no século VI a.C., como nos arredores de um templo.
"Não haveria um templo aqui se esta região não possuísse alguma importância estratégica", disse Deborah Darnell, também especialista em egiptologia, numa entrevista.
Então ela começou a coletar peças de porcelana anteriores ao templo.
Algumas cerâmicas eram importadas do Vale do Nilo ou até de Nubia, no sul do Egito, mas muitas eram produtos locais.
Evidências de uma "produção de cerâmica em larga escala", apontou Darnell, "é algo que você não encontraria a menos que aqui houvesse um assentamento com uma população permanente, e não apenas sazonal ou temporária".
Foi em 2005 que os Darnells e sua equipe começaram a coletar as evidências que os levariam a uma importante descoberta: ruínas de muros de tijolos, pedras amoladoras, fornos com montes de cinzas e moldes de pão quebrados.
Descrevendo a meia tonelada de artefatos de padaria coletada, além de sinais de uma guarnição militar, John Darnell disse que a povoação estava "assando pão suficiente para alimentar um exército, literalmente".
Isso inspirou o nome do sítio, Umm Mawagir.
A frase em árabe significa "mãe dos moldes de pão".
Além disso, segundo Darnell, a equipe encontrou restos que seriam possivelmente um prédio administrativo, silos de grãos, salas de armazenamento, oficinas de artesãos e as fundações de muitas estruturas não identificadas.
Presume-se que os habitantes, provavelmente alguns milhares de pessoas, cultivavam seus próprios grãos, e a variedade de porcelanas confirmou relações comerciais ao longo de uma ampla região.
O apogeu de Umm Mawagir aparentemente se estendeu de 1.650 a 1.550 a.C., quase mil anos antes de qualquer grande ocupação conhecida no oásis de Kharga.
"Agora sabemos que existe algo grande em Kharga, e isso é muito instigante", disse Darnell.
"O deserto não era uma terra de ninguém, não era o oeste selvagem.
Era selvagem, mas não desorganizado.
Se você quisesse se envolver com o comércio no deserto do oeste, era preciso lidar com o povo do oásis de Kharga".
Encontrar uma comunidade aparentemente robusta como centro de atividade de grandes rotas de caravanas, segundo Darnell, deve "nos ajudar a reconstruir uma imagem mais elaborada e detalhada do Egito durante um período intermediário" - após o chamado Império Médio e logo antes do surgimento do Império Novo.
Nessa época, o Egito estava em meio ao caos.
Os invasores hicsos, do sudoeste da Ásia, controlavam o Delta do Nilo e grande parte do norte, e um rico império núbio em Kerma, no Nilo Superior, invadia a partir do sul.
Encurralados no meio, os governantes de Tebas lutaram para se manter e, eventualmente, vencer.
Eles foram sucedidos por alguns dos faraós mais celebrados do Egito, notáveis como Hatshepsut, Amenhotep III e Ramsés II.
A nova pesquisa, segundo Darnell, "explica completamente a ascensão e importância de Tebas".
Dali os governantes comandavam a rota mais curta do oeste do Nilo a oásis no deserto, além da estrada oriental mais curta ao Mar Vermelho.
Inscrições de cerca de 2.000 a.C.
mostram que um governante de Tebas, provavelmente Mentuhotep II, incorporou tanto a região do oásis ocidental quando o norte de Nubia.
À medida que avançam as investigações em Umm Mawagir, disse Darnell, acadêmicos poderão enxergar o deserto como um tipo de quarto poder, além dos hicsos, núbios e tebanos, na equação política daqueles tempos incertos.
Talvez, o controle das estradas do deserto, aliado às comunidades ativas dos oásis, permitiu que os tebanos desenvolvessem uma superioridade na luta para controlar o futuro do Egito.
De qualquer maneira, as ruínas da encruzilhada no deserto são outra maravilha do mundo antigo.
"As pessoas sempre se maravilham com os grandes monumentos do Vale do Nilo e as incríveis façanhas arquitetônicas vistas ali", disse Darnell na revista dos estudantes de Yale.
"Mas acho que todos deveriam perceber como foi muito mais trabalhoso desenvolver o oásis de Kharga num dos desertos mais áridos da Terra".
© 2010 New York Times News Service



Lampadário acorrentado ao teto é furtado do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro



RIO - Não deveria ser uma tarefa fácil retirar um lampadário de prata, de mais de meio metro de altura, da Capela de São Brás, no Mosteiro de São Bento, no Centro. Apesar de a igreja contar com segurança própria e câmeras de vigilância, bandidos conseguiram colocar uma escada, desprender a peça do teto e carregá-la sem serem notados.
Dom Mauro Fragoso, diretor de Patrimônio do mosteiro, conta que o furto foi descoberto por funcionários na segunda-feira à noite. O religioso não soube informar quantos quilos pesa o adorno. Fitas com a gravação das imagens do circuito interno foram entregues a policiais federais da Delegacia de Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico (Delemaph), que foram ao mosteiro na terça-feira para registrar a ocorrência.
Em 2008, roubo de cinco itens veio à tona
Pouco a pouco, o acervo da abadia vem sendo dilapidado. Ocorrido no fim de 2007, o furto de cinco importantes peças históricas só em junho de 2008 veio à tona. Sumiram dois cálices e duas patenas (disco utilizado para cobrir o cálice ou receber a hóstia) de prata dourada do século 20, além de uma imagem em madeira policromada do século 19.
A capela de onde o lampadário foi retirado fica aberta ao público das 6h às 18h, diariamente. Segundo Dom Mauro, vigilantes se revezam o dia inteiro para tomar conta do templo. Ele diz que já fez o que podia para impedir o furto de peças do Mosteiro:
- É um mistério. O que tem sido feito é contratar seguranças e instalar câmeras, mas essas medidas não têm surtido efeito. A peça é grande e estava acorrentada ao teto. Não tenho ideia de como o furto aconteceu. Acho que o que aconteceu é parte da nossa realidade e fruto de uma sociedade de exploração e imoralidade - diz dom Mauro.
O Mosteiro de São Bento guarda há séculos muitas preciosidades. Entre elas, um medalhão com uma lasca da cruz de Cristo, o primeiro quadro a óleo pintado no Brasil, de autoria desconhecida, além de inúmeros livros raros. Na biblioteca, o mosteiro reúne um acervo com mais de 35 mil volumes, entre eles tratados de filosofia do século 14, livros de direito do século 15 e volumes de ciências que serviram de base para estudos de José Bonifácio de Andrada, o Patriarca da Independência.
Iphan fez há um ano inventário de todas as peças
A Superintendência Regional do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entregou em setembro de 2009 um inventário de todos os bens móveis e integrados do Mosteiro de São Bento. Altares, púlpitos, mesas, quadros, imagens, esculturas, crucifixos, tocheiros e missais, entre outros itens históricos, foram fotografados e descritos minuciosamente. A maioria da peças é do século 18.
Uma cópia do documento foi entregue à direção do convento. Mais de 2.400 fichas informam a época, o material e a importância histórica de cada peça. O inventário é uma medida cautelar contra o roubo de obras de arte. A partir do inventário, no caso de roubos ou furtos, é possível divulgar imagens na imprensa que podes ajudar na recuperação. O Mosteiro São Bento foi tombado pelo Iphan em 1938.
Quem tiver informações sobre o paradeiro do lampadário pode enviá-las para o e-mail ouvidoria.rj@iphan.gov.br ou ligar para 2233-6334.
Jacqueline Costa
O Globo

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