ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

03 junho, 2011

CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 3-6-11

Sobre edições de bolso
A média de livros lidos por ano é bastante assustadora, mas, ainda assim, mais alta do que eu supunha para o brasileiro. Não se sabe se está correta – qualquer um pode, teoricamente, responder o que quiser a essas pesquisas. Mas não é a isso que eu gostaria de me ater, e sim à descrição de livro popular.
Quem já leu alguma resenha minha elogiando determinada edição (capa, encadernação, folhas) pode acreditar que, na minha visão, os livros caros e produzidos com atenção e materiais mais nobres têm maior valor sob todos os pontos de vista. Não é o caso. Admiro belos livros, aqueles que são obras de arte abertos ou fechados, tendo-se lido ou não o seu conteúdo, mas reconheço o apelo e a importância das obras mais baratas, de menor rigor estético – mas cujas histórias, enredos, palavras e personagens são os mesmos. Por isso que acho louvável a iniciativa de editoras de produzir as chamadas edições de bolso, que são menores, mais baratas e mais acessíveis.
Tudo bem: não vamos fingir que é altruísmo das editoras essa aventura pelo nicho de obras populares. É, claro, um modelo de negócio, mas que acaba por atender às expectativas e necessidades de boa parte da população. Pouco a pouco, todas as empresas do setor estão se adequando a essas novas possibilidades. As mais conhecidas a atuar nesse ramo são a L&PM Editores, com a L&PM Pocket, a Companhia das Letras, com a Companhia de Bolso, e a Martin Claret. Não raro, encontramos obras excelentes apenas em versão diminuta e mais barata. Não é de se estranhar: será que, em um país onde se lê em média 4,7 livros ao ano (um número que acho deveras elevado frente a algumas realidades do dia a dia), haveria público suficiente para consumir uma edição mediana – e, ainda assim, cara – de Esboço para uma teoria das emoções, Jean-Paul Sartre? Acredito que não. É por isso que pude conseguir a obra por R$ 8,00 – ela faz parte da coleção da L&PM Pocket, que, por sinal, é absurdamente completa no que diz respeito à literatura de alta qualidade. Mesmo o texto, já que alguns podem argumentar contra a tradução, revisão e diagramação de obras assim, é muito bom.
Ou seja: a editora não gastou muito para conceber e imprimir aquele livrinho fininho do Sartre. Se ele custou R$ 8,00, seu custo de produção deve ser bem inferior. Não é uma grande perda, portanto, se os exemplares encalharem nas prateleiras. Mas a surpresa (boa) é: eles não encalham. Porque a maior parte dos brasileiros que lê pelo menos um pouco, como tão bem ilustra a pesquisa, ainda reluta em gastar dinheiro com a literatura. Para eles, isso é de menor importância. É por isso que as bibliotecas e os amigos servem bem aos seus propósitos – e, agora, os livros baratos também. Pode ser uma visão utópica, mas acredito que a disseminação dessa pequenas edições terá, em breve, o poder de mudar algumas realidades.
Os leitores que estão iniciando a incursão no universo dos livros, e mesmo os assíduos, querem, além de tudo, consumir obras de qualidade – baratas, como já se disse (a maioria ainda não é apaixonada pela literatura, devotada aos autores e enredos, e, portanto, não está disposta a gastar muito). De qualidade, sim. Por que não haveriam de querer? Não estou sozinha com a opinião de que a autoajuda, o esoterismo, o misticismo e o charlatanismo de alguns autores devem ser encarados com maus olhos. Acredito, e isso é apenas uma conjetura nada científica (sempre bom esclarecer...), que, no Brasil, pode-se dividir os leitores em dois tipos básicos: os que leem Augusto Cury e Paulo Coelho e gostam do que absorvem, e portanto flutuam apenas nesse nicho, e os que leem (ou desejam ler) obras mais complexas, visando tanto à formação quanto ao entretenimento.
Vendidos em banca de revista, às vezes com preços semelhantes a publicações como Veja, Época e ISTOÉ, as edições de bolso já estão constituindo um concorrente forte para as publicações semanais e mensais. Quem é que nunca precisou matar tempo em um aeroporto ou em uma rodoviária, correu para uma banca e decidiu levar um livro? Isso é comum. E é por aí que são conquistados alguns leitores.
Tudo, no fim, caminha para a democratização do conhecimento. Já estava na hora. As pessoas têm decretado, há anos, o fim dos livros impressos. Esse apocalipse é anunciado com mais fervor na era digital. Mas não creio que vá acontecer – e porque a maioria que consome as mini-edições não tem dinheiro para comprar um tablet ou e-reader. O livro impresso ainda vai perdurar, e, felizmente, se tudo der certo, chegar a todos os cantos desse Brasil.
Camila Kehl
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo:
Diário de Canoas
“Hoje, a média de livros lidos por ano pelo brasileiro é de 4,7 por ano (a maior parte, emprestado, de conhecidos e de bibliotecas) e o governo tenta emplacar o livro popular, que custaria até R$ 10 e atenderia às classes C, D e E.”

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