ENTRESSEIO

s.m. 1-vão, cavidade, depressão. 2-espaço ou intervalo entre duas elevações. HUMOR, CURIOSIDADES, UTILIDADES, INUTILIDADES, NOTÍCIAS SOBRE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS, AQUELA NOTÍCIA QUE INTERESSA A VOCÊ E NÃO ESTÁ NO JORNAL QUE VOCÊ COSTUMA LER, E NEM DÁ NA GLOBO. E PRINCIPALMENTE UM CHUTE NOS FUNDILHOS DE NOSSOS POLÍTICOS SAFADOS, SEMPRE QUE MERECEREM (E ESTÃO SEMPRE MERECENDO)

28 abril, 2008

O CONTO DO AMOR

O título, "O Conto do Amor", sugere à primeira vista que se trata da história de uma paixão. Essa é, de fato, uma das formas de amor abordadas no livro de Contardo Calligaris, mas há outras, que, misturadas, criam a teia de afetos presentes no enredo: há o amor entre pai e filho, há o amor interrompido no passado que deixa marcas na história dos envolvidos, há o amor aparentemente simples que, para ser levado adiante, irá requerer desprendimento e coragem.
Carlo Antonini, o protagonista da obra, é um italiano que mora em Nova York, onde ensina psicopatologia, e volta para seu país em busca do sentido de uma conversa que tivera com o pai pouco antes de ele morrer, 12 anos antes. Nela, o homem que passara a vida toda imerso em seus estudos sobre a Renascença conta para o filho uma experiência estranha que vivenciara na juventude no convento do Monte Oliveto Maggiore, próximo a Siena: "Ao entrar no claustro, tive a sensação imediata, distinta, nítida de que conhecia os afrescos perfeitamente, cada cena, cada figura, cada pincelada".
O ponto de partida é interessante, e a complexidade das relações amorosas é abordada com delicadeza. O problema de "O Conto do Amor" é que ele se filia a uma tradição narrativa já bastante desgastada e diluída, que tem seu marco de origem genial, nessa formulação, em "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, e seu maior best-seller em "O Código Da Vinci", de Dan Brown. Entre seus mais comuns ingredientes, estão o uso de questões da história da igreja e da arte didaticamente expostas, as constantes referências eruditas ou supostamente eruditas, os toques autobiográficos, a assimilação no texto de roteiros turísticos e a investigação detetivesca que se vale de coincidências e das intuições brilhantes (e às vezes altamente improváveis) do herói.
No Brasil, o esquema já fora adaptado, por exemplo, por Isaías Pessotti, em romances como "O Manuscrito de Mediavilla" e "Aqueles Cães Malditos de Arquelau". Infelizmente, em sua estréia na ficção, Contardo Calligaris não consegue escapar do peso dessa linhagem.
O CONTO DO AMOR
Autor: Contardo Calligaris
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 34 (128 págs.)
Lançamento: sábado (26/4), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073), às 11h
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP
Especial para a Folha

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