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08 junho, 2011

CULTURA, PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO - 8-6-11

Arte subsistente

Ruínas do Templo Maior, monumento ícone do Império Asteca, sobrevivem ao lado de construções atuais da Cidade do México


Poucas esculturas em pedra, que adornavam os templos astecas, ainda lutam contra a ação do tempo na capital mexicana

Caracterizada pela dominação, a cultura asteca era permeada por elementos dos povos subjugados. Contudo, pode-se identificar marcas puramente astecas: os monumentos, ícones de seu poderio
Segundo o pesquisador Eduardo Natalino dos Santos, um dos fundadores do Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos da USP, a cultura asteca tornou-se, a partir das dominações, um amálgama de costumes. Os mexicas, contudo, não necessariamente povoaram todas as cidades conquistadas, tendo sobretudo estabelecido um fluxo tributário e não uma presença efetiva. Ainda sim, é possível inferir que os hábitos e ritos desses povos subjugados tenham se flexibilizado por todo o império. “A questão é que os povos mesoamericanos tinham poderes políticos diferentes, mas mantinham sim uma relativa unidade cultural”, afirma.
Contudo, pode-se considerar que os astecas tiveram sim elementos específicos de sua cultura, como as esculturas e os monumentos arquitetônicos. Em Tenochtitlán, a capital do império, os astecas demonstraram toda a sua habilidade em grandes construções. Atualmente, as ruínas de pirâmides e templos que demarcaram o legado asteca subsistem em Cidade do México, entre passarelas, prédios, ruas e catedrais da capital construída sobre uma outra.
Monumentos
Fixada na maior ilha do lago Texcoco, Tenochtitlán possuía valas que funcionavam como verdadeiras vias aquáticas por onde a população se locomovia em canoas e botes, como em Veneza. Também chamavam atenção as pirâmides construídas para os deuses, como o Templo Maior, o mais famoso deles.
Com 82 metros de largura e 45 metros de altura, o Templo Maior era habitado pelos sacerdotes. No alto dele, imolavam-se as oferendas a Huitzilopochtli, deus do sol e da guerra, e Tlatoc, deus da chuva. Para Tlatoc havia ainda, anualmente, o sacrifício de crianças, que segundo a crença agradavam ao Deus, mantendo assim a estabilidade das precipitações.
Segundo estudos das ruínas, o Templo Maior foi ampliado por seis vezes durante o século XV e, em suas paredes laterais, observavam-se esculturas em pedra em formato de crânios, simbolizando as milhares de cabeças entregues em sacrifício, que rolavam através das escadarias até descansar em uma espécie de tacho também de pedra esculpida.
“É importante citar a habilidade dos astecas com esses materiais. Os metais até existiam, mas não tinham tanto destaque quanto a pedra. Eles foram responsáveis por produzir trabalhos em jade, com mosaicos de pedra e mesmo com plumas, que também era um elemento bem sofisticado na época”, salienta o pesquisador.
Hieróglifos
Outro destaque da cultura asteca pouco mencionado é a escrita. Para além do estereótipo de sociedade guerreira e sanguinária, os astecas possuíam sim grande apego às artes e à poesia. Os mexicas desenvolveram seu código hieroglífico próprio, baseado sobretudo em imagens, e investiam na escrita de livros, chamados códices, onde guardavam suas lendas, ritos e regras de conduta.
Exercendo a oratória, que para eles era vista como uma arte, os astecas promoviam verdadeiros torneios de eloquência, durante os quais “oradores, homens e mulheres nobres, exibiam seu talento para a palavra, com o uso engenhoso de metáforas”, como está registrado no ensaio “Aspecto Amável do Mundo Asteca”, publicado na coletânea Civilizações Perdidas.
Neste caso, a invasão espanhola teve um papel dúbio. Alguns autores afirmam que a conversão ao catolicismo e o aprendizado do alfabeto latino, consequências do domínio espanhol, possibilitaram um melhor registro dos poemas mexicas. Contudo, a devastação promovida pelos espanhóis também nos privou de uma parte dessa herança histórica.
“A invasão dos espanhóis foi realmente apoiada por povos indígenas subjugados aos astecas, mas na medida em que os castelhanos foram adquirindo maior poder político (também por que boa parte das populações foram dizimadas pelas epidemias), eles passaram a destruir estátuas, queimar códices, por que julgavam aquela cultura idolatra, pagã”, explica Natalino. Segundo ele, dos milhares de códices que deveriam existir, apenas 12 restaram.
Para expressar a dor e o sofrimento pela destruição de seu império, os mexicas se lançaram aos poemas. Trechos das elegias, ou cantos tristes, registraram como nenhum outro vestígio a melancolia que se abateu sobre aquela população indígena, narrando os últimos dias de Tenochtitlán: “Batíamos, insistentemente, nos muros de adobe / E era nossa herança uma rede de buracos / Os escudos foram a sua proteção / Mas nem com os escudos pôde ser impedida a solidão”.
Poemas ancestrais
Pequenos muros foi o que sobrou dos paredões esculpidos que ladeavam o Templo Maior. As caveiras simbolizavam as vitimas oferecidas em sacrifício. Quando, por autoria dos espanhóis e de tribos a eles aliadas, os astecas tiveram seus próprios corpos destruídos, expostos às ruas, também os poetas do Império, habituados a narrar as vitórias de seu povo, descreveram nos códices o lamento pelo fim de uma soberania:
“Nos caminhos jazem lanças quebradas / Os cabelos estão espalhados / Destelhadas estão as casas/ Ensanguentados têm seus muros.
Vermes pululam por ruas e praças/ E as paredes estão salpicadas de milos / Vermelhas estão as águas, como se fossem tingidas / E quando as bebemos, É como se bebêssemos água de salitre.
Batíamos, insistentemente, nos muros de adobe / E era nossa herança uma rede de buracos /
Os escudos foram a sua proteção / Mas nem com os escudos pôde ser impedida a solidão”.
Informação adquirida no ensaio “A oralidade e a escrita na sociedade asteca: educação, memória e poder”, de Felipe Evandro Martins Silva, publicado na revista Ameríndia, volume 3.
Mayara de Araújo
Repórter
Diário do Nordeste – Caderno 3

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