CURSOS - 15-10-2008
Macau - Artistas apresentam artes tradicionais chinesas na Casa Lou Kau
Recortar papel e pintar a Fénix
Fang Junhua e Wang Jinsheg vêm da província de Anhui e são os novos artistas residentes da Casa Lou Kau. O Hoje Macau foi conhecer a arte do recorte de papel e da pintura de Fénix.
Recortar papel e pintar a Fénix
Fang Junhua e Wang Jinsheg vêm da província de Anhui e são os novos artistas residentes da Casa Lou Kau. O Hoje Macau foi conhecer a arte do recorte de papel e da pintura de Fénix.
“A primeira vez que apareci no jornal a minha mãe ficou muito contente. Não pelo simples facto de ser notícia, mas porque era sobre algo bom”. Os trabalhos de Fang Junhua despertaram a atenção da Comunicação Social há cinco anos. Agora, o artesão que usa papel como matéria-prima viaja pela China e está em Macau até 19 deste mês, na Casa Lou Kau, perto do Largo do Senado.
O jovem artista de 29 anos da província de Anhui não é, porém, o único inquilino deste monumento histórico. Na sala ao lado, Wang Jinsheng passa os dias a pintar as suas Fénix. De duas em duas semanas, a Casa Lou Kau acolhe dois mestres diferentes de artes tradicionais chinesas, numa iniciativa organizada pelo Instituto Cultural.
Entrando e seguindo em frente, encontra-se Fang atrás de um grande balcão e rodeado de imagens de papel recortado. A dimensão do espaço ocupado é semelhante ao espírito seu expansivo. Fala pelos cotovelos. É um ser de uma alegria contagiante. Começa por mostrar obras já concluídas: “Esta tem sete metros. Ainda ontem a desenrolei, não me está a apetecer muito agora, mas vamos a isso”, diz.
Trata-se de um conjunto dos signos do horóscopo chinês. Fang é um artista polivalente. Domina poesia, caligrafia, pintura e gravação de carimbos chineses combinando-as numa arte na qual se iniciou aos 10 anos de idade: os recortes de papel.
A escolha do recorte de papel é uma homenagem à mulheres da família de Fang. A avó, mãe e as cinco irmãs mais velhas são especialistas desta técnica. Uma arte que está muito ligada ao sexo feminino: “É preciso seguir o instinto. Ir aprendendo, observando, imitando e aperfeiçoando”.
Tesoura, papel e cola
Parecem pinturas, mas não são. Os desenhos dos trabalhos de Fang são compostos por inúmeros recortes de papel. Os principais elementos presentes são os signos do zodíaco chinês, figuras dos clássicos chineses e desenhos que representam sorte e paz, como flores e cabaças.Mas as obras do artista não são assim tão simples. Cada recorte está carregado de simbolismo. Fang utiliza várias formas de recorte: meia lua, serra e cabaça. Esta última, diz a tradição chinesa, está associada à manutenção da paz. No meio de um recorte de uma borboleta é ainda possível encontrar a moeda, que simboliza sorte. Observar os trabalhos do jovem da província de Anhui é um exercício de descodificação da cultura chinesa.
Fang usa a mesma tesoura há mais de uma década. “Foi com esta que comecei e já não me consigo habituar a outra”, explica. Apesar dos aros onde entram os dedos estarem envoltos em pano, o artista não se livra dos calos nas mãos. Até o papel tem a sua marca pessoal. “A minha grande preocupação é a durabilidade dos materiais”, informa. Por isso, o papel de arroz onde são colados os recortes é duplo. Já aquele utilizado para fazer os recortes é fabricado segundo uma receita criada pelo artista. “Mando fazer com certas características: sem adição de químicos e com madeira de sândalo na sua composição. Isso torna-o mais resistente. As cores – que também são feitas por mim – duram até 50 anos”, garante.
Quando utiliza técnicas já conhecidas, uma obra demora um mês a ser concluída. Relativamente às recentes, como é o caso do papel rasgado, Fang precisa de três meses. A tesoura e a faca são as mais tradicionais.
Mestre Wang e as suas pinturas
Já a arte de Wang Jinsheng permite-lhe criar obras com mais rapidez. “As tradicionais são fáceis, é só copiar, demorando três a quatro dias uma peça pequena e 10 uma grande. Se quiser fazer uma mais criativa, o processo é mais demorado, sendo superior a uma dezena de dias”, explica.
No interior da Casa Lou Kau, a divisão que se encontrava à direita, foi invadida por aves coloridas. A pintura de Fénix é uma arte regional única, característica de Fengyang, a terra natal do Imperador Hongwu, e tem uma história que remonta à dinastia Ming. As aves que são representadas incorporam o desejo do indivíduo pela alegria de viver, surgindo em casamentos, mudanças de casa e nos principais festivais.
Ao contrário de grande parte dos artistas chineses, decidiu aprender esta arte, há 35 anos, por iniciativa própria e não por influência da família. Já se tinha iniciado na pintura, mas demorou cerca de três anos a dominar a técnica de retratar a Fénix.
Wang vem da mesma província de Fang e é natural de Fengyang. Cidade berço deste tipo de pintura. Actualmente, é director do Departamento de Criação e Pesquisa dos Serviços Culturais do Distrito de Fengyang e dedica-se à redescoberta e rejuvenescimento do retrato de Fénix.
Faça você mesmo
Para a pintura de Fénix também não serve qualquer tipo de material. O papel de arroz utilizado deve ser de um tipo especial para “não deixar que a tinta se espalhe”. As tintas podem ser feitas pelo próprio artista ou compradas. Wang utiliza os dois métodos, consoante a obra que vai realizar – “se é tradicional ou não”.Hoje, mais do que um criador é um estudioso e um mestre. O departamento que dirige organiza dois cursos em duas instituições de ensino superior há dez anos, com turmas de 10 alunos. Wang tem ainda os discípulos que recebe no seu atelier aos “cinco ou seis de cada vez”.
Os residentes da RAEM também podem aprender como pintar uma Fénix. O Instituto Cultural organiza workshops aos sábados, entre as 15h00 e as 17h00, e aos domingos, entre as 10h00 e as 12h00 e as 15h00 e as 17h00. Cada sessão custa 20 patacas.
O pintor já tem um aluno, levantando a ponta do véu sobre o funcionamento da formação: “Há duas possibilidades. Se a pessoa já tiver as bases da pintura, ensino mais pormenores. Se não, deixo dar uns toques à obra e assinar no final”.
Já Fang prefere deixar o workshop envolto em mistério: “Venham que depois logo vêem”. As portas da Casa Lou Kau estão abertas às terças e sextas-feiras entre as 12h00 e as 19h00. Durante os fins-de-semana e os feriados, o horário de funcionamento é das 10h00 às 19h00.
Alexandra Lages
Hojemacau
Marcadores: cursos
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